Foi aos 11, quando assisti pela primeira vez A Vida de Brian e perdi o fôlego gargalhando com Matthias cantarolando “Jeová!”. Entendi ali que o Humor não está contido apenas num texto estruturado e tampouco é limitado pelo recorte de uma pequena narrativa, que chamamos costumeiramente de “piada”. Definir o Humor por um conceito tão limitante é desconsiderar que a graça é inspirada muitas vezes não pelo conteúdo de um discurso, mas pela forma deste, que pode abranger (mas não limitando-se à) entonação, gestos ou mesmo a livre associação de dois elementos completamente discrepantes: como Eleitor do Bolsonaro e Democracia, por exemplo.
Porém, mais do que disso, o Humor resiste à lógica. Aliás, não raramente ele só existe na ausência da mesma. Isso porque o riso é extraído da subversão de expectativa e não raramente Monty Python me fez amadurecer percebendo que as minhas expectativas eram fruto do senso comum, de ideias falaciosas e preconceitos inerentes ao convívio social. Ou seja, Monty Python me ensinou a rir do absurdo por me mostrar que, na verdade, absurdas são todas as outras coisas.
Não existe assunto que não pode ser transformado em Humor, desde que se observe para onde o direcionamos, e os Pythons me ensinaram isso. A porreta da “piada” deve bater sobre a cabeça de quem tem perna pra aguentar. Aprendi com eles que os Danilos Gentili, os Felipes Neto e os Rafinha Bastos da vida não fazem Humor, eles apenas perpetuam ódio e preconceitos. O riso é um trabalho que exige do receptor o mesmo estudo e inteligência empregados na “piada”, e por isso é uma ferramenta tão eficiente para inspirar o pensamento crítico e a absorção de novos conceitos. O próprio absurdo em si é um forma de promover o caos na linguagem estabelecida e surpreender o espectador, naturaliza-lo com novas narrativas e construções de discurso.
Aliás, não surpreende que a elite cinematográfica recorrentemente despreze obras de comédia ou de horror, e nem que ambos tenham sido os primeiros gêneros a se estabelecer no Cinema. Tanto o susto (ápice do medo) quanto o riso (ápice do humor) são trabalhados a partir da quebra de uma normatividade, da surpresa. E por isso as obras que exercitam esses gêneros normalmente estão à frente do vanguardismo de linguagem, pois são as primeiras a sentirem a necessidade de inovar e romper com os padrões.
Hoje eu vejo os Pythons refletidos no trabalho de canais como o Porta dos Fundos e o TV Quase, e me parece natural que esses expoentes tenham surgido na internet, longe dos protocolos de Humor de emissoras de televisão e plataformas mais tradicionais. Mas eu falo disso porque, enfim, queria explicar a importância de Monty Python não só para o (bom) Humor contemporâneo, mas para o meu gosto pessoal - e resolvi aproveitar o gancho de a Netflix ter colocado os três principais filmes do grupo no catálogo, além do seriado Flying Circus.
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