quinta-feira, 24 de outubro de 2019

CRÍTICA: ZUMBILÂNDIA - ATIRE DUAS VEZES


Lançado há uma década, Zumbilândia era um filme praticamente sem história que deveria ter sido esquecido no vasto balaio das produções de zumbis lançadas anualmente desde que Madrugada dos Mortos ressuscitou esse subgênero lá pelo início dos anos 2000. E teria, não fosse por um detalhe: o roteiro tinha pelo menos uma ideia muito divertida. Sim, as regras de sobrevivência de Columbus (Jesse Eisenberg) se revelaram um insuspeito fio-guia narrativo por despertar no espectador a curiosidade pelo modo como seriam colocadas em prática - e no geral, a imbecilidade com que os carismáticos personagens lidavam com o pós-apocalipse se traduzia em pura diversão.
   


Afinal, é válido lembrar que um filme não tem o dever de ser nada mais do que aquilo que ele se propõe a ser. E a coisa é: tanto o longa de 2009 quanto essa atrasada continuação não se propõem a ser mais do que um besteirol, só que com zumbis. E se dessa vez as regras de Columbus já surgem como um recurso desgastado, até porque temos uma overdose dos letreiros interativos que as anunciam, por outro lado, Zumbilândia: Atire Duas Vezes continua bobo o suficiente para fazer com que suas ideias mais criativas se destaquem como momentos hilários.


Nesse sentido, a melhor contribuição desse Zumbilândia 2 chega na pele de Zoey Deutch vivendo a sonsa Madison, cuja adorável ingenuidade e os modos de uma frívola patricinha ultrapassam a barreira do estereótipo justamente por serem caricatos ao extremo. Não que os velhos personagens fiquem para trás, e é engraçado lembrar lá dos idos de 2009 e pensar quem eram Jesse Einsenberg e Emma Stone na fila do pão. Hoje dois indicados ou premiados com o Oscar, é prazeroso vê-los voltando a encarnar com tanta energia os mesmos personagens que viveram antes do estrelato absoluto - e basta lembrar da cara de c* de Jennifer Lawrence durante X-Men: Apocalipse e Fênix Negra para ter uma ideia do que poderia ter virado esse projeto aqui caso seus intérpretes não estivessem muito afim de voltar aos papéis.


Aliás, Columbus já quebra o gelo nos minutos iniciais ao dar boas-vindas para o espectador mesmo tantos anos depois da primeira aventura, e faz isso através de uma narração em off que rapidamente é esquecida pelo filme. O que, bom, faz jus à incoerência geral da produção. De certo modo, esses descuidos narrativos são o charme da aura meio obtusa de Zumbilândia. Prova disso é que, novamente, não há bem uma história para ser contada. Assim, não demora para que o roteiro force seus personagens de volta à estrutura de road movie para justificar o andamento da “trama” (que trama?). Mas basicamente, acompanhamos os esforços de Columbus, Tallahassee (Woody Harrelson) e Wichita (Stone) para recuperar Little Rock (Abigail Breslin), depois que essa última foge com um hippie bonitão chamado Berkeley (Avan Jogia).


O que mantém o interesse, claro, são os percalços enfrentados pela equipe, que agora já sabe classificar os tipos de zumbis dos mais fracos e burros (os Homers, claro) até os mais fortes e rápidos (os T-800). Aliás, se peca por não ser um filme mais irreverente ou inteligente, Zumbilândia tanto o 1 quanto esse 2 se destacam pela quantidade de boas e divertidas ideias que apresentam - ainda que todas elas pudessem ser melhor exploradas.


Mas não sejamos tão exigentes, já é espantoso que o mesmo Ruben Fleischer que dirigiu os terríveis Caça aos Gângsteres e Venom tenha conseguido acertar não apenas em um, mas em dois filmes que tinham tudo para dar errado. Inclusive, Fleischer mantém vários dos pontos positivos do projeto anterior, mas abdica de outros que funcionavam bem - pessoalmente, eu senti falta tanto da câmera lenta quanto do humor extraído da violência gráfica contra os mortos-vivos, que agora surgem apenas pontualmente aqui e ali. De outro modo, o realizador merece palmas pela sequência sem cortes que acompanha uma luta inusitada dentro de um museu dedicado a Elvis Presley.


Contando ainda com participações divertidas de Rosario Dawson e Luke Wilson, Zumbilândia 2 também traz de volta uma ponta que, provavelmente, foi o maior acerto do longa original - então fiquem para as cenas pós-créditos, vale a pena. Extraindo força do carisma de seu elenco hoje estelar (a fúria de Harrelson contra os hippies é impagável) e ainda tão estúpido quanto o original, essa sequência está longe de ser um grande filme, assim como o primeiro também estava, mas é tão inocente que não dá para dizer que não cumpre aquilo a que se propõe: ser divertido.

Idiota, sim, mas divertido.


Nota: 7/10


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