quinta-feira, 26 de maio de 2011

OS AGENTES DO DESTINO

     TRAILER THE ADJUSTMENT BUREAU LEGENDADO


     E se estivesse escrito que eu escreveria esta crítica como a estou escrevendo agora? E se quem escreveu que eu escreveria assim tentasse me impedir de escrever de outro jeito? E se mesmo já estando escrito por quem escreveu que eu escreveria assim, eu quisesse escrever de um jeito diferente de quem escreveu o que eu escreveria? O que, no final das contas, ficaria escrito? Meu texto escrito do jeito que eu queria escrever? Ou o texto escrito por mim do jeito que esta escrito por quem escreveu que queria que assim fosse escrito? É com uma premissa neste sentido que somos convocados a este bom Os Agentes do Destino.


     David (Matt Damon) é um jovem político prestes a ser eleito senador de New York, quando conhece de uma forma um tanto inusitada, Elise (Emily Blunt) uma dançarina carismática por quem logo se apaixona. Mas acontece que há um certo grupo de homens de chapéu que andam perambulando por ai, garantindo que todo mundo cumpra o seu "Destino", aquilo que lhes foi escrito para se fazer. E num descuido de um desses homens, David acaba encontrando Elise e descobrindo uma verdade horrível sobre a realidade em que vive. Ameaçado de ser "reiniciado", ele promete nunca mais ir atrás da garota, já que seus destinos foram separados e só se juntaram outra vez por acidente. Claro que o casal não cumpre tal promessa, e ai começa uma disputa não só pelo amor um do outro, mas também pelo livre arbítrio.


     O filme começa muito bem. Elegante, nos apresenta ao personagem de Damon com maestria, mostrando a solidão do personagem mesmo este estando sempre cercado de gente, apostando em planos abertos que o mostram sempre pequeno dentro de amplos cenários. Dando tempo ao tempo, o diretor estreante George Nolfi conduz com calma este início, deixando os personagens David e Elise em tela por tempo suficiente para que acreditemos no amor instantâneo do casal, o que era preciso, já que a explicação para este sentimento está lá no final do longa, e esperar que o espectador aturasse duas horas de um amor de entrega incondicional vindos de apenas um encontro acidental, seria pedir de mais para um filme que já nos joga os tais homens de chapéu com seus livrinhos mágicos nas primeiras cenas.


     Nunca fica claro quem são estes homens que andam por ai controlando tudo, mas o filme os apresenta de forma muito humana, eles cometem erros, podem ser enganados, e nem todos estão certos sobre o porquê de fazerem o que fazem e se isso é certo ou errado. O que acaba soando muito bem, já que eles também nos são apresentados como uma empresa enorme, com hierarquias, chefes e tudo mais, normalmente estruturas usadas em Thrillers, mas que nesses são tratadas como frias, calculistas e onipresentes, sendo assim o longa aqui, consegue fugir deste estereótipo, não nos fazendo encarar estes homens como os vilões e sim como mais marionetes do "grande plano". Ficam no ar as teorias sobre quem eles são, e o filme não descarta nenhuma, seja religiosa ou científica a sua explicação, o filme tem abas o suficiente para ser interpretado por ambos os caminhos. O destaque para esta parte do elenco vai para Terence Stamp que interpreta Thompson que é encarregado de garantir que David e Elise nunca mais se vejam. Stamp empresta sua atuação sempre igual ao personagem, que adquire uma áurea sinistra, sendo de todos os outro homens de chapéu o único que realmente parece ser algo sobrenatural. Se bem que Stamp deve ser sinistro até fazendo chá.


     Tudo é conduzido com perfeição durante o filme, a relação Damon/Blunt convence (ambos muito bem em seus papéis), o perigo paira no ar sempre, seja quando torcemos por David ou por um dos outros que o perseguem, e todos são muito bem desenvolvidos e aprofundados em seus dramas e ambições. E no final, tudo desemboca numa perseguição inusitada por New York, "de porta em porta", criando o que deveria ter sido um final esplêndido. Mas, não é isso que temos. Parece que chegado ao final do filme, George Nolfi que também assina como roteirista, simplesmente cansou de escrever, e resumiu o final. Não que este seja absurdo (não se comparado ao filme que vimos até o ponto do clímax), mas sim brusco e corrido. Mal temos tempo de assimilar o que aconteceu, e só depois percebemos a poesia do desfecho. Erro, já que deveríamos descobrir durante o filme, para aproveitarmos esta sensação, mas simplesmente não dá tempo de sacar o final e aproveitá-lo nos três últimos minutos em que ele nos é apresentado. Numa hora tem gente correndo, é o ápice do clímax, e do nada, "Bum!", acaba o filme. Lamentável ver acabar assim um filme que teria sido "10", mas já que não posso escolher como ele vai acabar (ou posso?), vou terminando aqui minha crítica escrita por mim e por mais ninguém, quer dizer, eu espero...


     Com uma condução adequada, bom desenvolvimento de personagens e da premissa, cativante, com boas performances de bons atores e com performances que se encaixam de atores estáticos, o filme acaba sendo carismático e leve, não possuindo momentos tensos, e sim um constante clima de que tudo vai ficar bem, como no final acaba ficando mesmo. E o final por que corrido, depois de sacado, acaba se tornando até bonito, afinal nem os tais "agentes do destino" podiam controlar o próprio, sendo também escravos deste.


NOTA: 9/10

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