Produto de mercado feito sob
encomenda, O Espetacular Homem-Aranha
sofria de um lado com as exigências de um estúdio maniqueísta, e do outro, com
o contraste de estilos devido aos demasiados profissionais envolvidos em sua
realização, jamais encontrando um tom acertado. Deste modo, constantemente pulava
de um romance jovem, bem humorado e delicado para um filme de ação genérico,
isso tudo em uma trama um tanto quanto absurda para a seriedade que tentava
vender. Pois eis que, trazendo para o texto final a dupla de roteiristas
responsáveis pelos excelentes Star Trek’s
de J.J. Abrams, Roberto Orci e Alex Kurtzman, o diretor Marc Webb consegue
entregar um longa-metragem muito mais satisfatório, que diverte e emociona com
facilidade justamente por encontrar o tipo de filme que afinal queria ser.
terça-feira, 29 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
"BOYHOOD" - TRAILER
quinta-feira, 10 de abril de 2014
NOÉ
Como um filme dirigido por Darren
Aronofsky, não é surpresa alguma que Noé
seja uma obra protagonizada por um personagem angustiado em meio à execução de
um objetivo de proporções psicológicas, emocionais e físicas quase
impossíveis, tal qual suas outras excepcionais realizações - sendo
Cisne Negro sua obra-prima inconteste.
Dando-se liberdade para explorar a figura que dá título ao projeto, o
diretor, porém, surpreende ao trazer um filme que não só é fiel ao seu material
de origem (o livro Gênesis da Bíblia), como também respeita sua mensagem e
reproduz em tela suas partes mais fantasiosas, livre de preconceitos, adaptando
o texto milenar como se fosse qualquer outro exemplar de ficção. O que, claro, deverá resultar não só na ira Deus (para os que acreditam), mas também na de uma multidão de fieis
que, revoltados, deverão capazes até de dizer que o cineasta inventou o Gênesis
6:4, onde claramente se falam em gigantes que andavam sobre a Terra...
Entretanto, a história segue o que lá está escrito: escolhido por um ser superior
(jamais nomeado “deus” no filme) para construir uma grande arca que vai salvar a
vida da sua família, mais um casal de cada espécie de animal sobre o planeta, Noé
(Russel Crowe) logo se vê em conflito com Tubal-cain (Ray Winstone) e seu
exército de bárbaros, logo às vésperas do grande dilúvio prometido para exterminar a corrupção
dos homens, o que traz urgência à tarefa de proporções bíblicas (sem perdão pela piada). E mesmo auxiliado por anjos caídos presos em forma de pedra, o
protagonista ainda enfrenta outros desafios, como a obsessão de seu filho Set (Logan Lerman) em achar uma esposa, assim como a missão abraâmica que ele acredita precisar cumprir em relação ao bebê de Ila (Emma Watson).
Porém, mesmo trazendo para as telas tantos dos causos relatados na história de Noé e outras presentes no livro do Gênesis, Aronofsky prefere surpreendentemente a abordagem pela delicadeza. Vários pontos mais polêmicos são tratados por ele de forma sutil, enquanto entrega sua opinião de forma quase despercebida. Por
exemplo: embora repasse duas vezes o início do livro onde se conta a origem da
Terra, ele jamais cita a culpa como sendo da mulher sobre o caso do fruto proibido
- e cita quase que ao acaso que ele também é conhecido como o “fruto do conhecimento”, preferindo
não se aprofundar no fato de que as escrituras condenam o acúmulo de informações
e consciência enquanto festejam a ignorância autoimposta - embora mais tarde
traga a personagem de Jennifer Connelly lamentando o sexo de um recém-nascido,
sendo o próprio lamento, um sinal de subserviência feminina, algo que, de qualquer forma, é retirado da Bíblia também. De outro modo, o
realizador parece disposto a mostrar aos seguidores do chamado “livro sagrado”
alguns dos fatores mais estranhos (no mínimo!) de sua mitologia, como os tais
gigantes, a migração em massa de animais e a arca descomunal que os abriga;
elementos que o cineasta retrata com a naturalidade que Peter Jackson retrataria seus Ents ou as estruturas impossíveis da Terra-Média em outro O Senhor dos Anéis. Até o CGI capenga ajuda a reforça o conceito fantasioso da história e afasta qualquer possibilidade de se ler o filme como um absurdo "drama de época" (risos).
Desta forma, Noé é feito tanto para aqueles que creem na bíblia como para todos
os outros que não. Para os primeiros, é uma adaptação fiel que busca trazer os
elementos mais obscuros de seu material de origem enquanto ameniza e atualiza possíveis
pontos fracos e morais de sua narrativa (embora não se possa burlar o maior deles,
o genocídio promovido pelo tal Criador) enquanto para os outros, funciona
também como um grandioso filme de ficção e fantasia, que traz uma aventura
completa, com dramaticidade, bons efeitos visuais e um personagem central
profundo e multifacetado. Afinal, interpretado com a densidade necessária por
Crowe, o protagonista convence-nos de sua jornada rumo ao lado sombrio da Força
e seu eventual retorno de lá, quando se entrega então ao alcoolismo – algo que
também consta em Gênesis. Já Connelly confere amabilidade a sua Naameh, quase
sempre ofuscando seus colegas quando em cena – voltando a contracenar com Crowe depois de mais de dez anos de Uma Mente Brilhante. E embora tenha maiores chances de
brilhar apenas mais ao fim, Emma Watson entrega uma performance comovente que (embora caricata, como se costume) é
eficiente ao conferir peso ao drama da personagem, tal qual, de forma mais contida, Logan Lerman também faz – outros dois que voltam a contracenar depois de terem aparecido juntos no fantástico As Vantagens de Ser invisível.
Sempre um diretor que demonstra
domínio da linguagem a que se propõe, Darren e seu habitual colaborador, o
excepcional diretor de fotografia Matthew Libatique, criam quadros que combinam
significado com a beleza plástica. E depois de estabelecer os ícones da história
prévia da Bíblia através de planos em silhueta contra o céu poente, Aronofsky
traz Noé e sua família em um plano similar, só que contra o céu nascente, que
por lógica, os coloca como ícones em surgimento. Já noutro instante, uma revoada
de pássaros sob a arca é mostrada pela câmera de Libatique em um
plongée absoluto de 90 graus (de cima para baixo), recortando com clareza o círculo que os animais
formam no céu. O mesmo círculo que, antes, o cineasta e seu fotógrafo já haviam explorado à exaustão em outra trama com referências bíblicas, A Fonte da Vida. Mas se lá a morte era vista de forma até mesmo
positiva, já que sua aceitação era a principal mensagem a ser aprendida pelos
personagens vividos por Hugh Jackmam, aqui, o cineasta não esquece que, mesmo sendo celebrado mundialmente, o afogamento de milhões de seres-humanos
ainda é uma tragédia lamentável, uma reflexão levantada pelos próprios personagens, que aqui e ali questionam a maldade e a frieza por trás de seus próprios atos, o
que só é reforça o peso do plano que mostra dezenas de pessoas
suplicando por suas vidas presas a uma pedra castigada por
ondas violentas – a cada chicotada, elas levam mais alguns sobreviventes para as
profundezas.
Também é curioso notar, em outro instante, que no meio de uma
batalha a câmera viaja pelo cenário de confrontos e gira em torno de um dos
gigantes de pedra que lutam contra os invasores, lembrando e muito o balett que
eram os movimentos concebidos por Darren e Matthew em Cisne Negro. A dupla também encanta com a fluidez do stop-motion em
uma incrível sequência que remonta a criação (e que leva em conta o Big Bang e a Evolução, criacionistas vão pirar) e que também lembra muito sua
opção ao retratar as dietas da personagem de Ellen Burstyn em Réquiem Para um Sonho. Fora isso,
Aronofsky traz de seus outros projetos o compositor Clint Mansell, que
entrega uma trilha eficientemente ostensiva, feita para ressaltar o teor épico da
missão de Noé, algo que o próprio diretor e seus muitos planos aéreos não
deixam de alardear.
No final, há aqui um longa-metragem respeitoso para qualquer gosto,
mas já posso ver os devotos reclamando que “fantasiaram demais” (por que a cobra que
fala é algo bem crível...) e céticos (como eu mesmo) reclamando que, por ser
fiel, tenta nos catequizar de algo absurdo – o que é mentira, nesse sentido, Noé exige tanto que se acredite no
criacionismo quanto Transformers pede
que acreditemos no cubo gigante e mágico que criou o universo, ou Harry Potter que aceitemos a existência
de uma passagem encantada entre as plataformas 9 e 10 na King’s Cross Station
em Londres.
NOTA: 9/10
terça-feira, 8 de abril de 2014
CAPITÃO AMÉRICA 2 - O SOLDADO INVERNAL
...Ou Vejam Só como
Scarlett Johansson se Esforçou para Ficar Sexy Neste Pôster – O Filme.
Depois da boa Fase 1, que
resultou no excelente e divertidíssimo Os
Vingadores, a Marvel Studios vem mantendo o padrão estabelecido, ainda que
algumas de suas obras continuem a soarem vazias, não passando de mais um pedaço
de salsicha jogada aos cães, que na verdade estão sedentos é pelo rosbife que está marcado
para estrear no ano que vem (se você não se ligou, dããã, falo de Os Vingadores 2: A Era de Ultron).
Assim, depois de Homem de Ferro 3 e
do divertido Thor 2, esta nova fase
do estúdio resolve nos presentear com o melhor exemplar solo de sua franquia
desde o primeiro Homem de Ferro,
ficando, junto com o longa que unia o time de heróis, como um dos três melhores
filmes entre os nove já produzidos até hoje.
Também se mostrando a única
continuação disposta a realmente apostar em um arco dramático concreto que atravessará
pelo menos três filmes estrelados por seu personagem título – Homem de Ferro 2, 3 e Thor 2 são apenas
aventuras independentes – Capitão América 2: O Soldado Invernal continua a
explorar a adaptação de seu protagonista a um mundo diferente daquele que
conheceu 70 anos antes. Agora trabalhando para a S.H.I.E.L.D., o Capitão (Chris
Evans) passa a questionar as decisões de Nick Fury (Samuel L. Jackson),
enquanto este suspeita de uma conspiração dentro da corporação, agora encabeçada
pelo perigosamente simpático Alexander Pierce (Robert Redford). Contando com a
ajuda da Agente Romanoff (Johansson) e do piloto de resgate Sam Wilson (Anthony
Mackie), nosso herói ainda terá de lidar com o letal e misterioso Soldado
Invernal – cujo nome do ator não posso revelar sem dar spoilers, mesmo que não
seja surpresa para ninguém sua identidade.
Dirigido pela dupla Anthony e Joe
Russo, das primeiras e hilárias temporadas de Arrested Development e de vários episódios de Community, Soldado Invernal
acaba soando surpreendentemente ser o mais sério dos longas Marvel, e
certamente, o mais maduro. Porém, os Russo não deixam sua mão cômica passar em
branco e muito menos os toques de bem humoradas referências; a lista de coisas
que Rogers deixou de ver nos anos em que esteve congelado é uma das melhores neste
sentido, incluindo até mesmo Chaves na versão nacional - a lista muda de acordo com o país onde o filme é exibido.
Em outro momento uma fala de Pânico é
repetida pela Viúva Negra, que não deixa de assinalar a pequena homenagem, assim como a rápida piada com Pulp Fiction mais ao fim. Mas
são pequenas descontrações dentro de uma trama basicamente política e
paranoica. A sequência no elevador poderia facilmente provocar o riso, mas seus
diretores preferem construí-la e desenvolvê-la de forma tensa, repeitando seu
teor violento e estrategista. Aliás, as cenas de ação não deixam de existir por
causa do tom conspiratório do filme, muito pelo contrário, povoam boa parte da
película sem nunca soarem em excesso, ainda que a condução de algumas seja um
tanto confusa visualmente.
O clímax principalmente é
bastante empolgante e muito bem orquestrado, além de dramático e inspirador na
medida certa. A violência corre solta, e um capanga ser engolido por uma
turbina é apenas parte da diversão, que deve uma grande parcela de sua eficiência aos
ótimos efeitos visuais e ao design de som primoroso, que exagerando nos sons
dos golpes desferidos entre os heróis e vilões, dá uma dimensão muito mais tátil
a suas lutas.
Voltando a encarnar com carisma e
serenidade Steve Rogers, Evans convence com facilidade da boa índole do herói,
enquanto Johansson mais do que nunca parece a vontade no papel da assassina
Viúva Negra, enquanto isso Jackson e Ford, os veteranos do elenco, usam suas
personas para atribuir respeito e imposição às figuras que interpretam, podendo
todos desta vez viverem seus personagens em função da trama e não de uma prévia
para um futuro projeto maior, como acontecia antes - embora seja possível notar
a presença do universo Marvel com clareza, e é admirável que o projeto consiga
trazer esta força dos outros heróis dos Vingadores sem que tenha que parar o
longa-metragem para lhes fazer referência. Assim, aparecem aqui as Stark
Industries e até mesmo nomeiam Bruce Banner e Stephen Strange (!), futuro
membro do grupo que ganhará filme solo em breve.
Apagada mesmo, Capitão América 2 só tem a aparição de
Stan Lee, que sem o bigode e os óculos icônicos, pode passar até despercebido
para alguns, porque de resto, desenvolve bem o jogo de gato e rato nas
entranhas da S.H.I.E.L.D. ao passo que confere uma aura de ameaça ao seu vilão,
quesito onde falhavam Homem de Ferro 3
e Thor 2, e que não deixa de ser irônico
quando se pensa que lá se tratavam de indivíduos com superpoderes, e aqui,
temos por antagonista um mero e humano executivo. Como de costume, há duas
cenas extras após o término do longa, uma durante e outra após os créditos
finais, estes embalados (assim como resto do filme) pela trilha animada de Henry Jackman, cujo trabalho
venho acompanhando (e sempre gostando) desde que o notei em X-Men – Primeira Classe.
NOTA: 9/10
segunda-feira, 7 de abril de 2014
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO
Adaptado por Daniel Ribeiro do
curta-metragem dirigido e escrito por ele mesmo em 2010, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho reconta a história do trio de amigos
formado por Leonardo (Guilherme Lobo), Giovana (Tess Amorim) e Gabriel (Fabio
Audi), fazendo as mudanças e os enxertos necessários para transformá-la em um
longa. Deste modo, repete o feito e entrega um filme belo, delicado e
despretensioso, que encontra sua força ao apostar corretamente em seus
personagens, ainda que confie demais no nosso primeiro contato com os mesmos.
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