terça-feira, 29 de abril de 2014

O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2: A AMEAÇA DE ELECTRO


Crítica do primeiro filme >>>> AQUI.


Produto de mercado feito sob encomenda, O Espetacular Homem-Aranha sofria de um lado com as exigências de um estúdio maniqueísta, e do outro, com o contraste de estilos devido aos demasiados profissionais envolvidos em sua realização, jamais encontrando um tom acertado. Deste modo, constantemente pulava de um romance jovem, bem humorado e delicado para um filme de ação genérico, isso tudo em uma trama um tanto quanto absurda para a seriedade que tentava vender. Pois eis que, trazendo para o texto final a dupla de roteiristas responsáveis pelos excelentes Star Trek’s de J.J. Abrams, Roberto Orci e Alex Kurtzman, o diretor Marc Webb consegue entregar um longa-metragem muito mais satisfatório, que diverte e emociona com facilidade justamente por encontrar o tipo de filme que afinal queria ser.


Sofrendo de um mal que desde a terceira temporada de The Walking Dead no ano passado gosto de chamar de “Rickismo”, Peter Parker (Andrew Garfield) passa a ter visões do falecido Capitão Stacey (Denis Leary) devido a culpa que sente por estar descumprindo a promessa que lhe fez, ficar longe de sua filha, Gwen Stacey (Emma Stone). Paralelamente a isso acompanhamos Harry Osborn (Dane Dehaan) assumir o controle da Oscorp, obcecado em descobrir a cura para uma doença degenerativa que possui, e um de seus funcionários, Max (Jamie Foxx), se tornar acidentalmente Electro.


Assumindo então de vez o cartunesco como base para seu universo, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro não teme investir no mesmo tipo de caricatura colorida que, em sua própria escala, Speed Racer também usava. Webb e seus roteiristas, porém, equilibram aqui com destreza o drama e a ação enquanto lhe conferem este estilo quase camp. E novamente ressalto que isso jamais fora alcançado no longa anterior. Assim, depois de alguns minutos, é fácil se acostumar à carência absurda de Max, e nem mesmo um computador embutido num carro-forte que, sabe-se lá o porquê, descreve para os assaltantes as propriedades de seu conteúdo (“Cuidado, isso é Plutônio, altamente perigoso”), parece incomodar. A própria trilha – obra de três pares de mãos diferentes, Pharrel Williams, Johnny Marr e, vejam só, Hans Zimmer – está de acordo com esta abordagem e ao invés de empregar um tema pesado para Electro, aposta em uma composição branda e brincalhona, o que, claro, diminui a tal ameaça que o vilão representa. Algo que Foxx compensa ao fazer a transição do personagem de maneira incrivelmente convincente, Electro, afinal, não é maldoso, ele é carente, e essa sua fome cega por atenção o acaba transformando em uma arma altamente manipulável mais assustadora do que qualquer maldade que lhe pudesse ser atribuída. Ainda que, convenhamos, Jamie Foxx seja substituído da metade em diante do filme por um boneco digital...


E já que falo de seu universo e personagens, fãs das HQ’s gostarão de notar - ainda que isso não interfira em créditos ou deméritos para o filme – uma porção de inserções menos ou mais sutis do cânone do cabeça de teia: Não só Peter já trabalha para o Clarim Diário como vemos também algumas propagandas do jornal pela cidade, Felicia (Felicity Jones), a Gata Negra, já é inserida no elenco, e equipamentos que podem dar origem a outros conhecidos vilões como o Abutre e o Dr. Octopus são também vistos ao fundo numa sequência. Isso sem contar que um dos momentos mais famosos das histórias em quadrinhos é reproduzido fielmente durante o clímax, que, longe daquela luta genérica ao final do primeiro, cria um show de imagens e som (a música Dona Aranha não podia faltar, é claro) que mistura habilmente diversão, tensão e drama. Mas, se este peso dramático existe, em boa parte deve-se a Garfield e Stone, que voltam a demonstrar uma química adorável em tela – o fato de serem namorados na vida real deve ajudar também. Encarando com a descontração certa Peter Parker e o Homem Aranha, o ator tampouco esquece de lhe conferir profundidade ao impregnar de sinceridade o seu conflito moral, enquanto Stone, ativa dentro da trama, confere a Gwen um carisma magnético, mostrando também que a personagem tem uma vida que vai além daquela que diz respeito a namorar um super-herói. Em contrapartida – uma boa contrapartida – Dane Dehaan continua a demonstrar talento ao viver o que poderia ser um personagem ingrato, mesmo dentro da proposta do filme, de maneira intensa, e mesmo quando amigável, seu Harry Osborn não inspira confiança alguma.


Empregando Sally Field desnecessariamente, e sua cena como enfermeira durante o clímax é risível por soar como o que é, um osso jogado para não dizer que o projeto não lhe deu atenção, A Ameaça de Electro também possui seus tropeços aqui e ali; repassar os eventos do primeiro filme é tão dispensável quanto Field; vez ou outra, os efeitos deixam a desejar na credibilidade; a trilha quase nunca se cala (mas também, com três compositores!); a ponta de Stan Lee é fraquíssima em comparação com a do filme anterior, e por fim, montagens de pessoas fantasiando fazer algo e então voltando ao estado principal revelando que nada fizeram, são sempre frustrantes. Mas colocar Peter andando com a máscara do Aranha no bolso de trás como costume é um detalhe admirável. Assim, O Espetacular Homem Aranha 2 pode não ser um longa-metragem genial, ainda que seja eficiente o bastante para emocionar o seu espectador, mas supera e muito o mau gosto deixado na boca pelo exemplar de 2012. Se antes eu lamentava a vinda de uma inevitável continuação, agora eu vou esperá-la ansioso. Estamos inegavelmente mais próximos do tal Espetacular prometido há dois títulos.



NOTA: 8/10 




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