quarta-feira, 27 de agosto de 2014

LUCY



Luc Besson tem em seu currículo ao menos dois excelentes filmes; O Profissional e O Quinto Elemento. Porém, ambos datam da já longínqua década de noventa, e desde então, o cineasta tem se dedicado a projetos no mínimo duvidosos, que ocasionalmente, mostram algum brilho daqueles tão eficientes de outrora. É o caso do divertido A Família, lançado por aqui no ano passado, e em uma observação mais enaltecedora, é também o caso deste Lucy.


Estamos falando de um filme que não se preocupa com verossimilhança, e isso fica claro quando a protagonista, Lucy (Scarlett Johansson), começa a desafiar as leis da gravidade e se contorcer por uma parede acima em convulsões após seu corpo absorver uma nova droga. Acontece que a moça é sequestrada por traficantes japoneses a fim de ser usada como transporte para o produto, que “inovador”, deveria ganhar um novo mercado na Europa. Assim, um pacote é escondido cirurgicamente dentro de seu abdômen, mas acaba rompendo-se. Com a substância infiltrando-se em seu corpo a nível celular, Lucy começa a ter sua capacidade cerebral aumentada exponencialmente, o que lhe garante poderes sobre-humanos dos mais diversos conforme se torna mais forte.


Portanto não se surpreenda quando em certa parte do filme nossa heroína simplesmente explodir em uma espécie de Big Bang dentro de um avião. Ou quando ela derrotar um punhado de inimigos apenas fazendo-os flutuar. É o tipo de acontecimento que permeará toda a trama, e para os quais Luc Besson já prepara o espectador ao apostar desde o início do longa em uma montagem ágil e repleta de pequenos interlúdios. Mesmo que estes sejam óbvios, como aquele traz um leão prestes a atacar sua presa, que apesar da redundância temática, corta a linha narrativa comum esperada pelo público e já o deixa esperando por demais anomalias na história, que mais tarde, claro, terão origem na própria. Não à toa, Besson parece abandonar a técnica por um longo tempo quando Lucy então começa a desenvolver suas habilidades.


Vivida com intensidade por Johansson, a super-humana é também apresentada com alguma esperteza, introduzindo-a em uma situação de extrema fragilidade, o que sempre funciona quando um realizador precisa que o espectador seja conquistado pelo protagonista ainda nos minutos iniciais. O que quase sempre é devido a alguma característica problemática, amoral, ou de alguma forma apática que este personagem vá assumir mais tarde. Aqui, no caso, os poderes de Lucy a deixam bastante austera, o que não é muito bom para uma heroína de um filme de ação, mesmo que esta seja a Scarlett Johansson.



Ritmado também pela constante marcação em caixa alta na tela do avanço percentual da capacidade cerebral de Lucy (10%, 20%, 40%, etc), o longa-metragem tira proveito de sua curta duração e se faz bastante divertido. Não cansa em nenhum momento ao pular de sequência em sequência sem jamais se deter por tempo demais em apenas uma, o que só ocorre no início do filme, que, como já expliquei, era claramente necessário para a correta criação de empatia com a personagem título. Mas entre uma perseguição de carros, um tiroteio ou mesmo uma operação médica inusitada, o filme se mantém sempre à trote, intercalando bons momentos de tensão e angustia - como a retirada do pacote de drogas do abdômen de Lucy - com outros de ação desenfreada. É verdade que é um filme difícil de engolir, e suas aparentes bobagens podem fazer torcer o nariz com facilidade. O clímax em especial em torno da criação de um computador fará os mais impacientes com este tipo de aventura fantasiosa saírem bufando da sala dizendo coisas como “nunca vi tamanha besteira!”. E provavelmente eles já viram (alguém ai tem ouvido a Marina nos debates pras eleições deste ano?). Mas conquanto Luc Besson trate esses absurdos com bom humor, a mim não incomodarão. Mesmo o dinossauro que ela encontra em sua viagem no tempo ao final do projeto. Nem isso me incomoda. Até porque, no fim das contas, Lucy é apenas uma diversão despretensiosa e não vale ficar atacando-a pelo óbvio. É um filme que vem, cumpre o que promete e sai de cena sem nem mesmo deixar muito espaço para citar Morgan Freeman, que, vejam só, está aqui também. Espero, claro, que o diretor volte aos seus tempos gloriosos de O Profissional, mas tampouco me incomodaria se mantivesse a qualidade atingida com estes seus dois últimos projetos.


NOTA: 8/10




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