quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ANOMALISA


O ser humano tem um potencial hegemônico inegável. Transmitir ao próximo seus próprios gostos, seu jeito de pensar e fazer as coisas é uma característica que provavelmente evoluiu com a nossa espécie devido ao medo de nos sentirmos alienados, descolados do todo e, portanto, desabrigados das proteções oferecidas pelo convívio social. Não quer dizer que sejamos todos necessariamente autoritários e intransigentes, mas é palpável a facilidade com que podemos sê-los. Subproduto de uma necessidade evolutiva, esse comportamento seria o causador de outros efeitos colaterais como a distorção da realidade pessoal, que nos faz recorrentemente perceber qualquer informação através dos nossos próprios filtros, sejam eles culturais, emocionais, situacionais, etc. Afinal, o mesmo instinto que nos impulsiona a querer disseminar nossos modos de vida aos que o ainda não o praticam, também busca nos bloquear o mesmíssimo tipo de influência vinda de outras pessoas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

TRUMBO - LISTA NEGRA

Um tanto didático e muitas vezes apelando para o melodrama em conflitos familiares que buscam - nem sempre com sucesso - atingir o público emocionalmente, ironicamente, Trumbo - Lista Negra jamais alcança o talento narrativo de Dalton Trumbo, oscarizado roteirista sobre o qual fala. Por outro lado, é extremamente eficiente em instigar a revolta contra pensamentos políticos conservadores e hegemônicos, ao abordar a caça às bruxas promovida pelo governo dos EUA aos comunistas em meados do Século passado. E o sentimento só fica pior quando se percebe que muitas daquelas atitudes podem ser transferidas para os dias de hoje em relação aos negros, imigrantes, pobres, mulheres, homossexuais e ateus, e certas figuras apontando o dedo raivosamente em imagens de arquivo da década de 1950, poderiam ser facilmente Jair Bolsonaro nos anos 2010. Ah, sim, Bryan Cranston está impecável como o personagem título, enquanto Helen Mirren surge um tanto caricata demais, apesar de divertida em sua composição maliciosa de Hedda Hopper.


NOTA: 7/10 

SHAUN: O CARNEIRO

Totalmente sem falas, esta é mais uma animação da Aardman Animations, responsável por Wallace e Gromit e A Fuga das Galinhas. Baseado no seriado homônimo para a televisão, o filme diverte através da simplicidade e do espírito inventivo, contando ainda com algumas alfinetadas sociais que o tornam uma espécie de Charles Chaplin para crianças. Ainda que não seja todo dia que tenhamos uma animação infantil com referências a E.T., A Revolução dos Bichos, Beatles, O Silêncio dos Inocentes, Táxi Driver, Ben-Hur e Breaking Bad. As piadas, aliás, persistem até o último segundo de filme, então assistir aos créditos faz parte da experiência.

NOTA: 8/10 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

THE HUNTING GROUND

A exemplo do recente e relevante Going Clear (sobre o qual escrevi aqui), que usava da Cientologia para apontar como qualquer outra religião pode ser nociva pelos seus princípios básicos, The Hunting Ground é um documentário que usa o exemplo das universidades nos Estados Unidos para expor de forma reveladora e revoltante como a covardia de quaisquer instituições propaga sistematicamente a culpabilidade entre as vítimas de estupro. Isso ao mesmo tempo em que fomentam a cultura da violência sexual ao gerar um ambiente que favorece a sua prática, principalmente ao não oferecer punições adequadas aos culpados - isso quando alguma é oferecida.


NOTA: 9/10

QUANDO ESTOU COM MARNIE / AS MEMÓRIAS DE MARNIE

Comparável a Pixar do oriente, o Studio Ghibli se consagrou ao conceber animações que misturavam muitas vezes o misticismo e a fantasia, tão intrínsecos a cultura japonesa, e dramas pessoais de profunda melancolia e ou reflexão. Quando Estou com Marnie possui a sensibilidade digna da obra da produtora e dos realizadores por trás dela - sendo o mais notoriamente destacado, Hayao Miyazaki. Evoca um deslumbramento com a magia e o humano por trás dela com destreza, isso através de uma trilha cuidadosa, cenários belos que instigam por suas concepções, e ainda personagens complexos, tão mais tridimensionais nos seus "antiquados" traços 2D, do que muitas figuras live-action que vemos entrando em cartaz toda semana. Não é, entretanto, o mais criativo ou o mais emocionante de todos os trabalhos do Ghibli, mas merece inúmeros méritos por fugir das ingenuidades narrativas que acometeriam qualquer outro projeto que se centrasse em "fantasmas", pesadelos e mansões abandonadas em lugares isolados. 


NOTA: 8/10

P.S. - Embora o pôster nacional diga As Memórias de Marnie, o Imdb diz que o título oficial no Brasil é Quando Estou com Marnie, e há sites e blogs que preferiram a tradução literal do título nos Estados Unidos, que fica Quando Marnie Estava Lá. De qualquer forma, vocês sabem de que filme estou falando.

ATOR RODRIGO SANT'ANNA CONVIDA PARA ASSISTIR "UM SUBURBANO SORTUDO"


Sob a direção de Roberto Santucci, diretor responsável por comédias brasileiras de sucesso como os três Até Que a Sorte nos Separe e os dois De Pernas Pro Ar, chega no dia 11 de fevereiro nos cinemas nacionais Um Suburbano Sortudo, estrelado pelo ator e comediante Rodrigo Sant'anna. Abaixo pode ser conferido um vídeo em que o protagonista convida o público para conferir a produção:  


Confira a postagem no Facebook clicando AQUI.


No filme, Denílson (Rodrigo Sant’anna), é um camelô que descobre de uma hora para outra que sua mãe teve um tórrido caso de amor com um ricaço, e que, à beira da morte, deixou uma fortuna para ele, seu único filho biológico. Aos trancos e barrancos, o atrapalhado suburbano tenta se adaptar à sua nova vida de luxo e regalias. O problema é que além da herança, Denílson herdou uma “nova família” – gente rancorosa e oportunista que esperava receber uma bolada do falecido, mas que acabou ficando sem nada a não ser suas dívidas. Agora eles farão de tudo para reverter a situação, levando o pobre Denílson à loucura - ou não. Abaixo pode ser conferido o trailer oficial:



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

JOY: O NOME DO SUCESSO


David O. Russell é um bom diretor, embora seu filme mais conhecido seja também o mais fraco que já produziu, O Lado Bom da Vida. O mesmíssimo filme, aliás, costuma ser o motivo por trás dos detratores de Jennifer Lawrence, que muito pelo contrário do que dizem, é uma atriz competente. Isso, claro, não perdoa de maneira alguma a Academia por 1) ter reconhecido com um Oscar uma intérprete tão promissora quanto Lawrence por um papel pouco memorável em um filme que é na maior parte do tempo medíocre; e 2) por ter deixado de premiar Emmanuelle Riva naquele ano, que está brilhante em Amor. Explico tudo isso antes porque muita gente já espera por Joy: O Nome do Sucesso com pedras na mão. Aqui conhecemos a história real de Joy Mangano (Lawrence), que inventou um esfregão muito prático e tornou-se famosa como vendedora em canais de compras na televisão.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

SNOOPY & CHARLIE BROWN - PEANUTS, O FILME

Peanuts - O Filme funciona, e muito bem. Resgata os elementos que fizeram do material de origem um sucesso, como os maneirismos dos personagens e a ausência de adultos naquele universo, e os coloca em uma trama que se volta para crianças, sem jamais alienar o público mais diverso em idades. Algo que é difícil muitas vezes de encontrar em obras que se classificam como infantis, e que confundem isso com estupidez. Aqui não, e a exemplo do recente O Bom Dinossauro, da Pixar, o filme consegue ser extremamente pueril sem soar tolo, encantando justamente por apresentar uma narrativa simples, encantadora e imaginativa, voltando-se para um público mais novo sem precisar para isso contá-la com as mesmas falhas cognitivas de uma criança.

NOTA: 7/10

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

STEVE JOBS


Ágil e empolgante não é como normalmente podemos descrever uma cinebriografia (é como eu descreveria O Lobo de Wall Street, mas aí estamos falando de filmes que alcançam o mesmo resultado de maneiras muito diferentes), porém, esses parecem ser os adjetivos ideais para essa que foi colocada nas mãos do roteirista Aaron Sorkin, que já havia provado seu talento nas linhas rápidas do primoroso A Rede Social – não por acaso, outra cinebiografia de um talento que causou grandes mudanças a partir da computação. E se no filme sobre Mark Zuckerberg o autor contava com a direção do excelente David Fincher, aqui é Danny Boyle quem encabeça o projeto, servindo perfeitamente à verborragia de Sorkin na sua abordagem sempre mais preocupada em manter a visualidade interessante. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

OS OITO ODIADOS


Tarantino já lidou antes com catarses coletivas que buscavam satisfazer injustiças históricas (e às vezes atuais), e isso fica claro para qualquer espectador de Bastardos Inglórios, À Prova de Morte e Django Livre. Por isso não é loucura projetar em seu mais novo projeto uma leitura mais profunda do que a simples cabana que acaba abrigando figuras tão hostis quanto misteriosas. Os Oito Odiados - que não deixa de ser uma brincadeira com Os Sete Magníficos da tradução literal do título original do filme que conhecemos no Brasil por Sete Homens e um Destino - coloca um negro, uma mexicano, um caçador de recompensas, um xerife, uma prisioneira, um carrasco britânico, um general sulista e um vaqueiro sob o mesmo teto, e assim parece elaborar uma trama que, apesar de inspirada e reverencial a filmes como Os 7 Suspeitos e Enigma do Outro Mundo – além do próprio Cães de Aluguel -, oferece também um desenrolar original e uma leitura própria.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS


É natural que ao acompanhar, fiel, o trabalho dos jornalistas do The Boston Globe, Spotlight – Segredos Revelados acabe refletindo em seu andamento o ritmo da investigação realizada pelos protagonistas. Dessa forma, o longa-metragem acaba sendo eficiente tanto como denúncia, ao abordar a história que descortinou inúmeros casos de abuso sexual infantil dentro da Igreja Católica – e nisso entra também a reflexão sobre o papel social do jornalismo – quanto também como um reflexo do que deveria ser a profissão.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

RANKING: QUENTIN TARANTINO

Tarantinemos? Já está em pré-estreia e entra oficialmente em cartaz nesta quinta-feira o novo filme do tio Quentin, "Os Oito Odiados", que pela primeira vez conseguiu me deixar na dúvida sobre qual era o meu filme favorito do cineasta - uma vez que não tem nenhum de seus trabalhos que eu considere ruim. Então resolvi fazer aquele ranking esperto, contabilizando apenas os filmes dirigidos por ele, e depois de matutar um tanto decidi por essa ordem: