Hollywood tem esse problema de exaltar a trajetória de “grandes homens”, não importando quais tenham sido as consequências de seus feitos, desde que estes tenham sido brancos e, preferencialmente ricos. O Rei do Show não é foge muito disso e investe naquela velha trama meio contraditória do cara caucasiano, bem abastado e, claro, hétero, que salva um bando de párias rejeitados pela sociedade. A coisa é que o filme nem tenta esconder que P.T. Barnum, famoso criador do conceito de Circo como o conhecemos hoje, explorou as características incomuns de inúmeras pessoas para ganhar toneladas de dinheiro expondo-as para o público rir. Não que o projeto não tente passar a mão na cabeça do personagem, afinal, ele é vivido pelo Hugh Jackman; como condenar um dos atores mais carismáticos da Hollywood contemporânea? Mas o resultado final também não pode ser descreditado, e por mais que a mensagem em si chegue deturpada, é inegável que o filme funciona muito bem em determinados pontos, o que faz dele um musical eficiente.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
OS MELHORES E PIORES DE 2017
:: OS PIORES FILMES ::
1 - Como se Tornar o Pior Aluno da Escola
2 - Transformers: O Último Cavaleiro
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/transformers-o-ulti…
3 - A Torre Negra
4 - Assassin's Creed
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/assassins-creed.html
5 - A Grande Muralha
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/a-grande-muralha.ht…
6 - Introdução à Música do Sangue
https://www.papodecinema.com.br/…/introducao-a-musica-do-s…/
7 - Resident Evil 6
8 - Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
9 - Alien: Covenant
10 - O Círculo
2 - Transformers: O Último Cavaleiro
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/transformers-o-ulti…
3 - A Torre Negra
4 - Assassin's Creed
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5 - A Grande Muralha
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6 - Introdução à Música do Sangue
https://www.papodecinema.com.br/…/introducao-a-musica-do-s…/
7 - Resident Evil 6
8 - Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
9 - Alien: Covenant
10 - O Círculo
:: OS MELHORES FILMES BRASILEIROS ::
1 - No Intenso Agora
2 - Gabriel e a Montanha
3 - Redemoinho
4 - Corpo Elétrico
5 - O Ornitólogo
6 - Central: o Filme
7 - Cidades Fantasmas
8 - Bingo: o Rei das Manhãs
9 - Soundtrack
10 - O Filme da Minha Vida
2 - Gabriel e a Montanha
3 - Redemoinho
4 - Corpo Elétrico
5 - O Ornitólogo
6 - Central: o Filme
7 - Cidades Fantasmas
8 - Bingo: o Rei das Manhãs
9 - Soundtrack
10 - O Filme da Minha Vida
:: AS MELHORES SÉRIES ::
1 - Fargo (3ª Temporada)
2 - Better Call Saul (3ª Temporada)
3 - Sherlock (4ª Temporada)
4 - Big Little Lies (1ª Temporada)
5 - Legion (1ª Temporada)
2 - Better Call Saul (3ª Temporada)
3 - Sherlock (4ª Temporada)
4 - Big Little Lies (1ª Temporada)
5 - Legion (1ª Temporada)
Observação: eu não assisti muitas séries este ano, incluindo o retorno de Twin Peaks.
:: OS MELHORES FILMES INTERNACIONAIS ::
10 - Uma Mulher Fantástica
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/uma-mulher-fantasti…
9 - De Canção em Canção
8 - La La Land
http://classedecinema.blogspot.com.br/2017/…/la-la-land.html
7 - Em Ritmo de Fuga
6 - Detroit em Rebelião
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/detroit-em-rebeliao…
5 - Blade Runner 2049
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/blade-runner-2049.h…
4 - Silêncio
3 - Star Wars: Os Últimos Jedi
2 - Moonlight: Sob a Luz do Luar
1 - Mãe!
http://classedecinema.blogspot.com.br/2017/09/mae.html
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9 - De Canção em Canção
8 - La La Land
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7 - Em Ritmo de Fuga
6 - Detroit em Rebelião
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5 - Blade Runner 2049
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4 - Silêncio
3 - Star Wars: Os Últimos Jedi
2 - Moonlight: Sob a Luz do Luar
1 - Mãe!
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:: Outros títulos que disputaram fortemente um espaço nos top 10 de melhores e que, portanto, valem a atenção (listados por ordem alfabética) ::
- A Criada
- A Qualquer Custo
- A Tartaruga Vermelha
- Bom Comportamento
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/bom-comportamento.h…
- Colossal
- Como Nossos Pais
- Corra!
- Crônica da Demolição
- Dunkirk
http://classedecinema.blogspot.com.br/2017/07/dunkirk.html
- Entre Irmãs
- Estrelas Além do Tempo
- Eu Não sou Seu Negro
- Eu, Daniel Blake
- Guardiões da Galáxia Vol. 2
- Logan
http://classedecinema.blogspot.com.br/2017/03/logan.html
- Manchester à Beira-Mar
- Mulheres do Século 20
- O Apartamento
- O Estranho que Nós Amamaos
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/o-estranho-que-nos-…
- O Outro Lado da Esperança
- Paterson
- Planeta dos Macacos: a Guerra
http://classedecinema.blogspot.com.br/…/planeta-dos-macacos…
- Terra Selvagem
- Toni Erdmann
- Z: A Cidade Perdida
- A Qualquer Custo
- A Tartaruga Vermelha
- Bom Comportamento
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- Colossal
- Como Nossos Pais
- Corra!
- Crônica da Demolição
- Dunkirk
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- Entre Irmãs
- Estrelas Além do Tempo
- Eu Não sou Seu Negro
- Eu, Daniel Blake
- Guardiões da Galáxia Vol. 2
- Logan
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- Manchester à Beira-Mar
- Mulheres do Século 20
- O Apartamento
- O Estranho que Nós Amamaos
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- O Outro Lado da Esperança
- Paterson
- Planeta dos Macacos: a Guerra
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- Terra Selvagem
- Toni Erdmann
- Z: A Cidade Perdida
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
O PRÍNCIPE DO NATAL (yep, é nesse nível em que estamos)
Pouco mais de duas semanas depois de lançar em seu catálogo outra produção original, a Netflix postou em sua conta no Twitter: “Às 53 pessoas que assistiram a O Príncipe do Natal todos os dias nos últimos 18 dias: quem machucou vocês?”. Ora, é sempre bom lembrar que mesmo os piores filmes do Adam Sandler têm um público cativo, que adora aquelas bobagens cheias de mensagens machistas, homofóbicas, etc. É por isso, aliás, que não é papel da crítica ficar dizendo “assista isso” ou “não veja aquilo”, pois dela se espera uma posição de análise, não de guia de consumo – e dizer que um filme é bobo e inconsequentemente cheio de mensagens caducas não deveria ser a mesma coisa que afirmar que o seu público divide com ele as mesmas características.
Dito isso: às 53 pessoas que assistiram a O Príncipe do Natal todos os dias em 18 dias: mas que po**a?
Está crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
ALIAS GRACE
Em meados do século XIX, uma das empregadas de uma mansão sai durante a madrugada de seu quarto para ir à latrina, que fica do lado de fora da casa. Imediatamente a cena fica tensa, e qualquer espectador consegue entender o motivo: há a possibilidade de aquela mulher ser abordada por um homem que, na calada da noite, pode lhe fazer mal e ainda sair impune. E, justamente, por isso ser entendido de forma automática, é relevante que a cena tenha saído de Alias Grace, segunda obra da escritora Margaret Atwood a ganhar este ano uma versão em forma de série – a outra foi The Handmaid’s Tale (2017). Diferentemente desta, entretanto, aqui acompanhamos uma trama baseada num caso real, que gira em torno de Grace Marks (Sarah Gadon), acusada de ser cúmplice em dois assassinatos – ainda que, apesar de a primeira ser uma reconstrução histórica e da outra uma distopia futurista, ambas encontrem similaridades demais com a nossa atualidade. CONTINUE LENDO AQUI>>>
Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
WHEELMAN
Começando com um longo plano de dentro de um carro enquanto este é entregue ao Motorista (Frank Grillo), Wheelman raramente abandona o interior do veículo nos 80 minutos seguintes. E quando o faz, é para mostrar detalhes do mesmo, porém pelo lado de fora. Surgindo, portanto, como um filme de câmara, o longa escrito e dirigido por Jeremy Rush se baseia em diálogos e nas ações limitadas do protagonista, contratado para ser o piloto de fuga em um assalto. CONTINUE LENDO AQUI>>
Esta crítica foi originalmente publicada no Papo de Cinema.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE
Conhecer as reviravoltas de uma trama pode destruir a experiência de acompanhá-la. Há, entretanto, os filmes que se preparam para essa eventualidade e que oferecem um olhar completamente novo e revigorante para o espectador que já sabe os rumos da história. É o caso, por exemplo, de Um Corpo que Cai, O Sexto Sentido, Clube da Luta, Oldboy, A Chegada etc - projetos que a cada revisita parecem contrair novas dimensões, ao invés de subtraí-las. Já tendo sido adaptado em mais de um país, para o cinema e para a TV, Assassinato no Expresso do Oriente é um dos livros mais célebres de Agatha Christie, e como tal, a solução de seu mistério central é famosa - tanto quanto polêmica. As implicações éticas do desfecho ainda geram discussões mesmo 82 anos depois de sua publicação - o que não é surpresa; mesmo mais de oito décadas depois o epicentro da questão ainda é um dos maiores divisores de água no sistema penal pelo mundo.
E a boa notícia é que a nova versão do romance policial de Christie, dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, não ignora essa problematização - o que, de cara, já a difere das demais adaptações do texto, mesmo aquela tão divertida conduzida pelo mestre Sidney Lumet em 1974, e que no geral sempre preferiram dar ênfase à surpresa do final, ignorando ou tratando de forma leviana suas implicações morais. Igualmente satisfatório é perceber que Branagh também consegue evitar se tornar exclusivamente dependente do desfecho, e constrói sua narrativa de modo a entreter mesmo um leitor voraz dos mistérios da escritora.
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
BONECO DE NEVE
Num suspense policial sobre assassinatos em série, não é bom sinal quando a coisa mais chocante e surpreendente é constatar o que a idade e as plásticas fizeram com o rosto de um dos atores - no caso, Val Kilmer. Mas esse é o caso de Boneco de Neve, que apesar da direção dedicada do cineasta Tomas Alfredson e de um elenco esforçado em conferir peso e seriedade aos seus personagens, sofre com um roteiro mecânico e um desfecho, enfim, chato - o que deve ser uma das piores coisas que já me senti obrigado a escrever sobre um thriller.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
SECURITY
Os shoppings já serviram de cenário para um tanto de filmes, das comédias aos terríficos, daqueles que funcionaram muito bem aos que são um completo desastre. Security fica em algum ponto no meio disso. Nada criativo no uso dos sets, o longa se apoia basicamente no carisma de seus personagens para funcionar – e com Antonio Banderas à frente do elenco, e Ben Kingsley na outra ponta, como vilão, a experiência acaba não sendo tão insossa quanto poderia se ali estivessem outros atores menos talentosos. CONTINUE LENDO AQUI>>
Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
LIGA DA JUSTIÇA
Tentando repetir o sucesso da empreitada da Marvel Studios e seus Vingadores, a Warner gerou até hoje cinco filmes para contar a formação da Liga da Justiça, o supergrupo da DC. Entretanto, seus esforços se mostraram bem mais inconsistentes e não tão carismáticos - claro que estamos falando de abordagens bem diferentes, pois aqui sempre houve uma clara tentativa de se aproximar mais do brilhantismo da trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e do próprio Watchmen, de Zack Snyder, tentando combinar uma narrativa estilosa e que também se levasse muito a sério. Isso por si só não é ruim, tendo em vista que, por outro lado, volta e meia a Marvel produz longas divertidos e coloridos, mas esquecíveis. O problema é que o DCEU (Universo Expandido da DC) nunca chegou a encontrar uma identidade para explorar, pois seu projeto inicial, O Homem de Aço, estabeleceu uma estética e atmosfera excessivamente ligadas ao cinema de Snyder, e é perceptível que esse caminho foi renegado pelo estúdio, que nos longas posteriores tentou trazer os filmes para algo menos sombrio e mais descontraído. O que resultou na confusão truncada que era Batman vs Superman, e no desastre Esquadrão Suicida, que confundia o cartunesco e o absurdo com ser imbecil.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
THOR: RAGNAROK
Apesar do esquema atual de Hollywood conectar diversas produções, em teoria, cada filme deveria funcionar dentro de si mesmo, sem o auxílio de nenhum material extra. Entretanto, para citar um exemplo do universo Marvel, Capitão América: Guerra Civil deve boa parte de sua força ao fato de que os seus personagens já tinham sido apresentados e desenvolvidos ao longo de outros títulos anteriormente. Já Thor: Ragnarok não precisaria disso para se firmar como um bom exemplar do subgênero das comédias de ação, pois seu humor funciona sozinho - traz uma narrativa segura do cineasta Taika Waititi, que além de construir um filme divertido do início ao fim, consegue fazer um trabalho orgânico ao adequar o projeto à estética e ao estilo assentados nos volumes 1 e 2 de Guardiões da Galáxia, com suas cores vivas e as gags recorrentes. É uma pena, portanto, que para isso o longa sacrifique a sua coesão com o resto do universo a que se conecta, destoando não só como sequência dentro da sua própria franquia, como também corrompendo muito do que já havia sido estabelecido sobre seus protagonistas.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
1922
Infelizmente não é todo dia que se faz um Jogo Perigoso (2017) ou um It: A Coisa (2017) – por outro lado, desastres como o seriado O Nevoeiro (2017) também não. E no ano em que se comemora os 70 anos de Stephen King, quando diversas de suas obras estão ganhando chances nas grandes e pequenas telas, é possível enxergar nesse pequeno panorama que, como nas últimas décadas, houve aqueles que entenderam bem a força dos livros e contos de King e os que se perderam na recorrente descritividade do escritor e acabaram gerando obras ruins. Acontece que, apesar de qualquer coisa, o autor é notoriamente hábil em transformar o horror sobrenatural ou o drama específico de uma situação em narrativas sobre medos e conflitos comuns a qualquer leitor. 1922 se equilibra entre esses extremos, reconhece a metáfora e a emprega de forma eficiente, mas também peca ao explorá-la demais. CONTINUE LENDO AQUI>
Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
MINDHUNTER - 1ª TEMPORADA
As pessoas não costumam resistir a um bom mistério. Talvez (e aqui vai uma teoria) porque temos esta necessidade instintiva de conhecer as coisas com que interagimos, para ter controle sobre elas ou apenas para ter certeza de que as mesmas não nos farão mal. E, quando algo desconhecido e intrigante surge numa narrativa ficcional, ainda há a expectativa, acordada mutuamente por séculos entre público e obras, de que haverá um desfecho, uma explicação, uma luz em meio às sombras inicialmente apresentadas – por isso, provavelmente, que bons filmes, seriados ou livros de suspense, ao invés de nos incomodar com essas incertezas, acabam por nos magnetizar pela promessa implícita de solução. O cineasta David Fincher, aliás, entende muito bem essa dinâmica e aqui dá um passo além. Por toda a sua carreira, ele demonstrou um estilo que podemos classificar como “extremamente narrativo”, ou seja, construído para conduzir o espectador, seu olhar, suas expectativas – o que, ironicamente, retira o pouco controle que aqueles do lado de cá da tela têm sobre o que estão assistindo. Ora, se analisarmos as motivações dos assassinos apresentados nesta primeira temporada de Mindhunter, podemos encontrar em todos eles, da mesma forma, esse mesmo primitivo impulso de controle – provavelmente por isso que mistérios envolvendo serial killers e David Fincher é uma combinação que sempre casou tão bem. CLIQUE AQUI PARA CONTINUAR LENDO >
Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
RICK & MORTY - 3ª TEMPORADA
Desde o seu lançamento em 2013, Rick & Morty angariou uma boa parcela de fãs e, como acontece em qualquer fandom, muitos deles tornaram-se radicais, afirmando sobre a série coisas como: “ela é só pros inteligentes” e “precisa ter QI alto para entender o humor sofisticado”. Por outro lado, algumas semanas antes da publicação deste texto, adoradores da animação fizeram algazarra e brigaram nas portas de redes de fast food atrás do tal molho szechuan oferecido pelo McDonalds na época da estreia de Mulan(1998), apenas porque o protagonista Rick o enaltece já no primeiro episódio desta terceira temporada. Parece que, ironicamente, os apreciadores mais fanáticos do seriado falharam em compreender uma das frases menos engraçadas e, ainda assim, uma das mais certeiras e literais já ditas pelo seu personagem principal, apenas há algumas temporadas atrás: “Pense por você mesmo, não seja uma ovelha”. O cientista, entretanto, não ficaria desapontado ao saber desses eventos; meramente constataria, entediado, que seu desprezo pela existência de vida no universo é justificado. CONTINUE LENDO AQUI>
Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.
A MORTE LHE DÁ PARABÉNS
A ideia popularizada em Feitiço do Tempo (1993) já foi tão explorada desde então que formou praticamente um subgênero, montando um espectro que vai de extremos como os bons Contra o Tempo (2011), Questão de Tempo (2013) e No Limite do Amanhã (2014), até o detestável Nu (2017). Trata-se, claro, da premissa de uma pessoa que revive o mesmo período de tempo de novo, de novo e de novo, tentando viver aquela situação de formas diferentes a cada vez. Em algum lugar no meio disso está A Morte lhe dá Parabéns, que embora não seja um exemplar especialmente criativo desse nicho, é ainda assim um longa que consegue converter a estrutura cíclica da narrativa em diversão. Isso porque, apesar de dirigido pelo mesmo Christopher Landon do decepcionante Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015) e do horroroso Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (2014), o projeto se depende menos da condução trôpega deste, e muito mais do carisma da atriz Jessica Rothe, que vive a protagonista com energia e delicadeza o suficientes para que torçamos pela moça.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
BOM COMPORTAMENTO
Dirigido pelos irmãos Benny e Josh Safdie, Bom Comportamento traz uma fotografia de textura suja, foco impreciso e quadros fechados que, associados à câmera na mão, tornam o visual do filme quase amador - mas os cineastas jamais cruzam a linha tênue entre a construção da crueza e uma narrativa confusa ou incompreensível. É possível sim, viu, Michael Bay? Aliás, esse amadorismo calculado, que ainda incluí um design de som desbalanceado e um filtro incomodativo na coloração do projeto (como se um operador de câmera inexperiente não tivesse regulado direito a captação da cor branca no aparelho - o que se chama no ramo de “bater o branco”), confere ao longa-metragem uma estética que evoca o mundo habitado por seu protagonista - a periferia, a madrugada, os pequenos crimes e delinquentes e a marginalização dessa gente urbana, jogada e aprisionada nos cantos das metrópoles, sufocada na noite de luzes artificiais pálidas.
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
DETROIT EM REBELIÃO
"To be
young, gifted and black"
Ao assistir a DETROIT EM REBELIÃO, novo filme
dirigido por Kathryn Bigelow (única mulher vencedora do Oscar de Melhor Direção
até hoje), me veio à cabeça inúmeras vezes a música de Nina Simone que intitula
essa postagem. Embora eu seja um grande fã de Miss Simone, há músicas suas que
eu não ouso cantar por aí, apesar de adorá-las e as ouvir recorrentemente.
Isso porque algumas de suas canções carregam um
contexto de luta, são palavras de protesto, gritos de guerra, discursos que,
ainda que sejam belos e tenham meu apoio, não são meus para serem ditos. Não
falam do meu drama, da minha dor ou das minhas lutas. Posso apreciar essas
obras esteticamente, mas não me sinto confortável para reivindicá-las para mim,
e sair cantarolando-as ou dizendo que são "as músicas da minha vida".
Talvez por isso a crueza da abordagem quase documental
e os quesitos técnicos duros e truncados dos filmes de Bigelow sejam
apropriados ainda mais a este projeto aqui. Seu lugar de fala na questão que é
o foco do filme, mesmo como ficcionista, é abordá-la, de um ponto de vista
passional, à distância. DETROIT é tenso, incrivelmente inquietante e brutal.
Ainda assim, os aspecto mais triste da narrativa é perceber que, não fosse a
ambientação no final dos anos 1960, as cenas mostradas no longa poderiam se
passar hoje, em qualquer periferia, e não só nos Estados Unidos, mas no Brasil
também.
Que sintomático, portanto, que esteja em cartaz em tão
poucas sessões. Afinal, é um filme sombrio e provocativo,
mas não é polêmico como Mãe!, ou audiovisualmente impressionante
como Blade Runner 2049. É uma provocação necessária, que se
distancia da ficção e traz o espectador para muito próximo da realidade, e por
isso incomoda tanto - e não do jeito que as pessoas gostam de serem incomodadas
na sala de cinema.
Mas Arte é isso.
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
BLADE RUNNER 2049
Filmes têm personalidade, tom e ritmo(s) singulares, têm também maneiras próprias de se expressar, nuances únicas, ideias divergentes e roupagens diversas; eles são (ou deveriam ser) conscientes de si mesmo e às vezes falam sobre isso, alguns são inteligentes, outros nem tanto, e todos têm uma duração limitada com começo, um meio de infinitas possibilidades e, inevitavelmente, um fim. De certa forma, portanto, filmes se assemelham muito com seus criadores: nós, seres-humanos.
terça-feira, 10 de outubro de 2017
AS AVENTURAS DO CAPITÃO CUECA: O FILME
Filmes como As Aventuras do Capitão Cueca contam a seu favor com uma inocência e despretensão que fazem de suas piadinhas mais bobas parte de um esforço válido para cativar em suas mensagens aquele que claramente é o seu público alvo: as crianças. E se por vezes é importante repetir que filmes infantis não precisam ser eles mesmos infantis, noutros momentos é também agradável assistir a um longa notando como ele funciona de forma eficiente em conversar com um público que tem uma percepção ainda tão diferente do mundo. Aliás, se tem algo que esta animação compreende, é que a lente das crianças tende a pintar o universo que as cerca com cores diferentes, além de recorrentemente entendê-lo através de interpretações exageradas e absurdas – e, portanto, como trama, não se priva de investir nessas características. CONTINUE LENDO AQUI.
Crítica completa postada no Papo de Cinema.
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
JOGO PERIGOSO [Papo de Cinema]
A Netflix lançou na última sexta-feira o thriller Jogo Perigoso, baseado num livro de Stephen King. O filme é dirigido por Mike Flannagan, que já comprovou talento conduzindo longas de horror como O Espelho, Sono da Morte, Ouija: A Origen do Mal e Hush: A Morte Ouve, e estrelado pela talentosa Carla Gugino. Expliquei na minha crítica, postada no Papo de Cinema, porque o projeto é tão eficiente em causar tensão, só clicar AQUI.
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
KINGSMAN: O CÍRCULO DOURADO
O cineasta Matthew Vaughn despontou na última década com uma estética curiosa. Ainda que tenha conduzido produções de baixo e alto orçamento, insistiu em ambos os casos nos truques de montagem, em planos chamativos (e econômicos), e na construção cuidadosa de cenas para construir seus personagens e suas relações. Estratégias como essas estão normalmente associadas a projetos que tanto buscam um apelo junto ao público, quanto precisam burlar o uso de efeitos visuais e demais gastos com cenários, locações etc. Porém, o que era necessidade, Vaughn transformou em estilismo, assinando filmes cujos grafismos e trucagens narrativas tornavam o todo ainda mais interessante, e mesmo seu multimilionário X-Men: Primeira Classe (provavelmente o melhor dos filmes X-Men) preferia o impacto extraído da simplicidade de uma montagem paralela, repleta de cortinas e multitelas (algo que qualquer um com acesso ao Movie Maker poderia fazer em casa), do que a pirotecnia de batalhas épicas construídas em CGI. Foi assim que deu luz também aos divertidos Nem Tudo é o Que Parece, Stardust: O Mistério da Estrela, Kick-Ass: Quebrando Tudo (excepcional) e ao predecessor do longa em debate aqui, Kingsman: Serviço Secreto.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
MÃE!
Um dos aspectos mais fascinantes do Cinema é o modo com que sua linguagem consegue impor ao espectador os mais variados sentimentos, sensações e ideias, sem que este tenha de concordar ou sequer entender o conteúdo de uma de suas obras. Para relembrar as palavras do mestre Roger Ebert, nunca repetidas o suficiente: “...não importa sobre O QUE é um filme, mas COMO ele é sobre o que ele é”. A gramática audiovisual de um longa pode, sozinha, conduzir o público por uma gama de emoções, que não necessariamente devem ser agradáveis a este - aliás, muito pelo contrário, nos tirar da zona de conforto e inquietar-nos é um dos recursos mais tradicionais que a Arte tem de nos levar à reflexão. No caso de Mãe!, somos acompanhados do início ao fim pela angústia, pela claustrofobia e pelo medo de que algo terrível acontecerá a seguir, mesmo que nem sempre compreendamos o que é - por si só, essas são constatações que já comprovam o domínio narrativo exercido pelo cineasta Darren Aronofsky. E o resultado disso torna quase garantido o debate subsequente sobre os significados de seu filme, pois tal eficiência em causar desconforto pode ser abraçada ou rejeitada por nós do lado de cá, mas é quase certa a impossibilidade de se manter indiferente quanto ao que vimos e ouvimos em tela.
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
O JANTAR
Sabe aquela máxima “o livro é sempre melhor do que o filme”? Balela. Essa falácia se baseia na lógica de que um texto, por ter mais espaço de descrição, é mais rico e aprofundado que um produto audiovisual, normalmente limitado pelo tempo. Errado. A linguagem cinemática possui tantos recursos quanto a literatura. Pensem na fotografia, na trilha, na montagem, no desenho de som, na direção de arte, no figurino, na maquiagem, no roteiro, na montagem, nos atores. São tantas combinações possíveis desses elementos, que é perfeitamente plausível que um filme, com apenas um plano, conte mais ao espectador do que um livro faria. Dito isso, é triste quando, apesar de dominar a narrativa audiovisual, um filme se mostra incrédulo sobre o seu potencial. Tomemos como exemplo este O Jantar, que gira em torno de quatro pessoas se encontrando em um restaurante refinado para discutir o comportamento de seus filhos.
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
UMA MULHER FANTÁSTICA
Antes de começar, preciso divagar um pouco, e entenderei se quiser pular para o terceiro parágrafo deste texto, que é quando começo, de fato, a falar do filme em questão.
Decidiu começar por aqui? Ótimo, pois bem: já percebeu como o cotidiano tem uma linguagem? Os ambientes que você frequenta falam uma língua fluentemente todos os dias, é por isso que sabemos instintivamente que tem algo diferente acontecendo quando o trânsito tá mais lento, ou o tempo meio estranho, ou as pessoas num humor ou ritmo atípicos. A quebra dessa linguagem, entretanto, é como a invenção de uma nova palavra. Se um carro invade uma calçada e mata alguém, por exemplo, isso rompe o monólogo do dia a dia, é um evento. Porém, logo depois disso o fato extraordinário torna-se precedente e entra para o repertório de coisas que acontecem. Assim, se acidentes de carro ocorrem outra vez, essas fatalidades ganham familiaridade na rotina de um espaço, e passam a fazer parte da linguagem do cotidiano. Em outras palavras, nos acostumamos com elas, e com os assaltos, e com os escândalos de corrupção, e com aquele cachorro que sempre late quando você passa na frente daquela casa na sua rua, e por aí vai. Essa linguagem absorve quase qualquer coisa… Desde que ela esteja prevista nos padrões sociais vigentes do que é aceitável. Aviões jogados contra prédios em Nova York, nesse caso, é uma palavra difícil de ser aprendida nessa língua. Aparentemente, pessoas transexuais também. E não faço a comparação à toa, pois se a nossa sociedade contemporânea tem a mesma dificuldade para aceitar um atentado com centenas de mortos e um indivíduo que se identifica com um gênero diferente daquele em que nasceu, é porque, no fundo, ela ainda considera ambas as coisas uma tragédia de proporções equivalentes.
Portanto:
Quando você se diferencia dos padrões sociais vigentes, se torna um calombo no tecido do cotidiano. Talvez você tenha a sorte de ninguém tentar desfazer o amassado à força, mas as pessoas ainda assim vão tropeçar em você, e talvez nenhuma delas vá assumir o erro e dizer: “É, talvez eu devesse ter levantado os pés, perdão”. O mais provável é que te culpem pelo incidente. Porém, o que, em geral seus amigos e familiares não entendem, é que essas pequenas violências são tão destrutivas quanto aquelas mais diretas e premeditadas - falo de crimes de homofobia, misoginia e racismo, sim. E é essa dinâmica no dia a dia de Marina, uma mulher transexual, que o filme Uma Mulher Fantástica ilustra de forma tão dolorosa através do olhar delicado que lança sobre sua protagonista - e boa parte de sua força reside na interpretação forte e inteligente da atriz (também transexual) Daniela Vega.
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