sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

CRÍTICA: O REI DO SHOW


Hollywood tem esse problema de exaltar a trajetória de “grandes homens”, não importando quais tenham sido as consequências de seus feitos, desde que estes tenham sido brancos e, preferencialmente ricos. O Rei do Show não é foge muito disso e investe naquela velha trama meio contraditória do cara caucasiano, bem abastado e, claro, hétero, que salva um bando de párias rejeitados pela sociedade. A coisa é que o filme nem tenta esconder que P.T. Barnum, famoso criador do conceito de Circo como o conhecemos hoje, explorou as características incomuns de inúmeras pessoas para ganhar toneladas de dinheiro expondo-as para o público rir. Não que o projeto não tente passar a mão na cabeça do personagem, afinal, ele é vivido pelo Hugh Jackman; como condenar um dos atores mais carismáticos da Hollywood contemporânea? Mas o resultado final também não pode ser descreditado, e por mais que a mensagem em si chegue deturpada, é inegável que o filme funciona muito bem em determinados pontos, o que faz dele um musical eficiente.



Primeiro que é um filme que se assume teatral desde o início, sem medo de usar óbvias pinturas em panos de fundo ou elementos de cena que se dobram à vontade de coreografias e enquadramentos: aqui uma série de rolos de tecido se desenrola formando raios que partem de uma figura central que os derrubou, enquanto mais ali os lençóis secando num varal parecem valsar junto com os protagonistas. Os figurinos também se orgulham de serem coloridos e exagerados, como se fossem todos fantasias de uma apresentação - o que ajuda na ideia de que estão todos sobre um palco o tempo inteiro.


Já as canções, o fio guia da narrativa, devo confessar, parecem todas variações de uma mesma composição. Arranjos e soluções musicais se repetem em todas elas, e ainda é aplicado um tipo de filtro meio auto-tune que, se por um lado desnaturaliza qualquer nuance da voz dos atores, por outro está de acordo com essa proposta sintética do projeto. E a verdade é que a batida das composições empolga e diverte - o que também é mérito da curta duração do filme. Ainda que o maior mérito para que as sequências de canto e dança funcionem sejam as coreografias. Não os passos, saltos e piruetas, mas as criativas trocas de objetos e movimentação em cena de pessoas também ajudam as músicas a ganharem dinamismo e impulsionarem a trama com uma empolgação onipresente - aliás, o design de som faz sua parte aqui igualmente, integrando batidas e outros efeitos sonoros na cadência musical.


Hugh Jackman faz o que ele sabe fazer. Ator vindo da Broadway, ele tem quase a obrigação de ser o melhor em cena, e cumpre o papel. Seu P.T. Barnum é carismático mesmo quando está sendo um tremendo babaca com os subalternos. Já Zac Efron pouco tem o que fazer com o seu raso personagem, deixando para Michelle Williams e Rebecca Ferguson roubarem a cena sempre que entram em tela. Entretanto, como se pode notar pelos nomes citados, é um filme branco. Uma pena tendo em vista a temática em defesa da diversidade e da representação palanqueada pelo projeto - ainda bem, ele não depende de seu discurso para funcionar, uma vez que como entretenimento já é bom o suficiente.


Nota: 7/10

 

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