segunda-feira, 17 de abril de 2017

VELOZES E FURIOSOS 8


Alguém lembra quando Velozes e Furiosos era um subproduto insistente daqueles filmes policiais bregas dos anos 1990? Quero dizer, se você ainda tem em mente a época em que Dominic Toretto (Vin Diesel) era o chefe de uma pequena quadrilha com ambições tão grandes quanto permitia o quarteirão que chamavam de território, é provável que soe estranho vê-lo agora usar seu carro para desviar um míssel termoguiado, enquanto foge de um submarino nuclear sobre um lago congelado no meio da Rússia. É, esse é o quanto os personagens da franquia “evoluíram” desde 2001. A coisa é: se você não lembra, um tanto melhor, pois desde que abandonou as tentativas falhas de se levar a sério, a série de filmes encontrou uma identidade muito mais apropriada: o absurdo.



Aliás, depois de tantas reviravoltas operísticas, seria de se esperar que a franquia assumisse um tom que acomodasse a quantidade de caricaturas e clichês que chama de protagonistas. Mas calma! Não estou dizendo nada disso para descreditar Velozes e Furiosos 8. Pelo contrário, quando Dom fala coisas como “Fique com seu carro, seu respeito é o suficiente pra mim”, o chavão vem embalado em tal contexto (uma corrida pelas ruas de Havanna com direito a um motor em chamas), que o sorriso do espectador torna-se inevitável e, ainda assim, não como um de escárnio, já que a estupidez do momento é tão bem encaixada que seria muito mau-caratismo apontá-la como humor involuntário. Assim como outros diversos instantes e sequências inteiras do filme.


Com esse novo capítulo, inclusive, é possível afirmar que Velozes e Furiosos finalmente conseguiu lapidar sua fórmula de forma orgânica e, de fato, encontrar uma identidade. E se alguns dos longas anteriores ainda tinham barrigas ou algum medo de ousar dentro do absurdo, esse oitavo filme já é bem mais coeso, com cenas de ação singulares em sua criatividade e visualidade, que se ligam de forma natural umas às outras. Por exemplo, da alucinada fuga da prisão onde está Luke Hobbs (Dwayne Johnson, cada vez mais um dos atores mais carismáticos de Hollywood) e Deckard (Jason Statham), saltamos (quase que literalmente, pois o parkour é central nessa parte) para outra no quartel general do Senhor Ninguém (Kurt Russell, aparentemente trabalhando de graça, de tanto que parece se divertir no papel), que por sua vez nos leva a uma perseguição impossível pelas avenidas de Nova York, que referencia diretamente Guerra Mundial Z - é, eu sei, “wtf!?”, né?


E aqui a franquia assume de vez sua 007tização, com letreiros informando as diversas localidades a que os “agentes” são enviados para resgatar Toretto das garras de Cipher (Charlize Theron, completamente alinhada com o projeto ao investir em uma vilã cujo cinismo e frieza são suas duas únicas dimensões). Inclusive, é notório que conforme Velozes e Furiosos se assume mais extravagante, acaba se dando o respeito necessário para atrair nomes com mais peso. E se já era divertido assistir The Rock e Statham interagirem através da rivalidade de seus personagens, e Kurt Russell e Charlize Theron se soltarem em papéis implausíveis, a coisa toda assume um tom ainda mais fora da realidade quando Helen Mirren surge em uma ponta hilária.


Não fosse suficiente, Velozes 8 ainda carrega o mérito de ser um blockbuster dirigido por um cineasta negro, dando espaço para F. Gary Gray mostrar que tem talento para ser (bem) mais reconhecido. E o realizador é muitíssimo bem sucedido ao se fazer entender em complicadas sequências que às vezes envolvem diversos carros, personagens e eventos paralelos, principalmente durante a cena de Nova York e no clímax - o diretor, inclusive, é o mesmo responsável pelo excelente Straight Outta Compton. Portanto, se seguir essa linha descompromissada e servindo de palco para que talentos na frente e atrás das câmeras se soltem e exercitem seus estilos, por mim, a franquia dos furiosos pode continuar por um bom tempo arrancando o meu e o seu dinheiro, pois aqui ou ali, está se pagando.


NOTA: 8/10



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