O que é “realista” em um filme se tudo nele é encenado, recriado e artificial? Se partirmos do princípio de que mesmo os documentários são baseados na intenção de se criar uma narrativa, então até o mais esforçado filme de guerra, ainda que venha embalado com todos os seus efeitos visuais e sonoros, com as réplicas de figurinos e a maquiagem convincente, ainda assim se trata do recorte e da visão particular de um ou mais artistas.
O que o Cinema pode fazer, no entanto, como forma de Arte, é buscar os sentimentos e sensações para simular uma experiência de forma “realista” através da sua linguagem. Por exemplo, talvez o estouro de uma bomba não seja tão barulhento na vida real, mas se o editor de som decide sacrificar esse “realismo” e colocar o estouro com um volume ensurdecedor, a sensação de surpresa e medo passada para o espectador vai estar bem mais próxima do pavor experimentado por um soldado que tenha ouvido uma explosão de verdade. E esta é a lógica seguida por 1917. Aliás, essa é a única lógica seguida pelo filme dirigido por Sam Mendes, que se por um lado é hábil quando decide fazer o público experimentar a sensação de estar numa guerra, por outro, falha por não convencê-lo de que estar lá é uma coisa ruim.