Sem dúvidas o filme Moulin
Rouge - Amor em Vermelho (de
2001), representa não só o ponto mais alto na carreira do diretor Baz Luhrmann,
como também no currículo de filmes musicais da última década, e digo mais, é
com certeza um dos melhores exemplares do gênero na história do cinema. Porém,
nem antes e nem depois o mesmo realizador conseguiu repetir os acertos que
faziam daquele longa estrelado por Nicole Kidman um clássico instantâneo, mesmo
que seu Romeu + Julieta e posteriormente, Austrália, não tenham sido
filmes ruins, apenas problemáticos. Pois mais de dez anos depois, Luhrmann
parece tentar voltar a fórmula que fez de Moulin
Rouge um grande sucesso, empregando elementos e recursos
narrativos reciclados deste. E chega a ser irônico que é exatamente nos
momentos em que O Grande
Gatsby tenta ser Moulin Rouge, que o filme acaba
decaindo, já que na maior parte do tempo se mantém um longa coeso e bem
realizado.
Baseada no famoso livro de F. Scott Fitzgerald, a historia começa com o
melancólico Nick Carraway (Tobey Maguire) decidindo escrever sobre suas
memórias, quando relembra então os dias gloriosos de festas luxuosas na mansão
de seu vizinho milionário, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Festas estas que ele
logo descobre terem um propósito secundário muito pessoal para o excêntrico
ricaço, se aproximar da bela e já casada Daisy Buchanan (Carey
Mulligan). E quanto mais Nick se aprofunda em seu relacionamento com figuras
como Gatsby, Daisy, Tom (Joel Edgerton) e Jordan (Elizabeth Debicki), mais
complexa se torna a trama de traições e amores perdidos encobertos pelas roupas
finas e casarões que estes bem abastados personagens parecem exibir para o mundo
como máscaras sobre as imperfeições de suas trajetórias. E é aos poucos que ele
também acaba descobrindo que ainda assim, Gatsby é o ser mais humano entre
eles.
É verdade que a estrutura do livro de Fitzgerald oferece a Luhrmann a
oportunidade de tentar emular seu próprio musical, já que aqui também
conhecemos a trama principal através de um escritor que relembra uma época de
seu passado envolvendo grandes festas, luxúria e esbanjamento, mas que desandam
em uma terrível tragédia. E desde a "cortina" que abre e
fecha o filme com uma narração em off de seu protagonista, até planos como aquele atravessa a cidade de Nova York acabando em um frame pause do rosto de
Nick, Luhrmann parece decidido a replicar o maior número de elementos visuais de Moulin Rouge. E até mesmo a
presença de um outdoor sem função alguma para a trama que se não a figurativa,
vem fazer presença no design de produção deste longa, e se antes tínhamos um
gigantesco "L'amour" escrito do lado de fora do apartamento
parisiense de Christian, por onde a câmera adorava passear, reforçando a
principal motivação de seus personagens, aqui temos uma grande, velha e
desgastada propaganda de um oculista, cujos olhos inexpressivos parecem
observar todos os acontecimentos entre Long Island e Nova York, por onde o
filme se passa, como se não houvesse máscaras sociais que ele não pudesse ver,
o que também não deixa de ser um avatar visual do próprio Nick, que é o único
que parece ciente de todas as mentiras e esquemas de seus vizinhos e amigos.
Em contrapartida, o diretor também não se contém ao trazer novamente
músicas modernas reformuladas para um filme de época, tentando estabelecer um
clima atemporal que aqui, infelizmente, quase nunca funciona. E apenas uma
versão em ritmo de Jazz de "Crazy in Love", da cantora Beyoncé, acaba
se unindo perfeitamente a cena bem humorada que embala, o resto acaba destoando
terrivelmente da pompa e beleza que o mesmo Luhrmann esforça-se para impregnar
em seus planos recheados de movimentos fluídos e elegantes. Planos estes que
permitem o bom uso das imagens em 3D pelo realizador, que entende as
necessidades da tecnologia e emprega sempre planos bem iluminados,
estabilizados e de longa duração, que permitem ao espectador assimilar a
profundidade dos cenários, quase sempre vistos em uma alta profundidade de
campo, o que também é essencial para o funcionamento do terceira
dimensão.
E ainda assim, Luhrmann não se entrega as limitações impostas pela câmera
estereoscópica e investe em sua habitual montagem alucinante, que pula de um
momento ao outro de forma caricata e teatral, trazendo sempre um ritmo
empolgante para seus filmes. O que deve ser um problema apenas para os atores,
que em determinadas cenas parecem ter de dizer o começo de uma frase em um plano,
o meio dela em outro, e só então terminá-la em um terceiro, mantendo a
entonação, clima e continuidade neste meio tempo.
Não que o elenco pareça perdido, na verdade, o mais fraco de todos é o
próprio Tobey Maguire, cuja interpretação pouco varia no decorrer do filme,
mantendo seus típicos olhos caídos, inexpressivos quase que todo o tempo e
falando irritantemente sem quase não abrir a boca, ainda que module sua voz com
destreza para ao menos conferir uma bidimensionalidade ao seu Nick Carraway, que
não sai de cena como um personagem insosso ou imemorável. E se Carey Mulligan continua
a interpretar bem o tipo de menina inocente e ingênua, é Leonardo DiCaprio quem
vem dar nome ao filme, literalmente. Seu Gatsby é um personagem
interessantíssimo e suas nuances são camadas divertidas de se descascar. Desde
de sua insegurança e nervosismo diante de um encontro muito esperado, passando
pelo excêntrico milionário que interpreta em frente aos sócios e amigos,
chegando até o apaixonado e raivoso adolescente que ainda vive e deseja a
antiga namorada, DiCaprio sabe navegar com precioso cuidado pelas facetas de
seu personagem, tornando-o mais um acerto no ótimo currículo do ator. E a
curiosa, tensa e muito bem construída cena aonde quase todo o elenco interage
com o personagem em um pequeno apartamento já no terceiro ato, só comprova esta
sua versatilidade.
Contando ainda com uma recriação de época incrível, que aposta em muitos
(bons) efeitos digitais para reconstruir a Nova York da década de 20, O Grande Gatsby traz figurinos maravilhosamente
pensados que por si só diferenciam seus personagens uns dos outros de maneira
eficaz, assim como os ambientes pelos quais estes passam. E ainda que tropece
de vez em quando ao tentar emular seu antigo trabalho, ou ao fazer pelo menos
três referências vazias a Crepúsculo
dos Deuses (a música tema do
filme tocada em uma das festas de Gatsby, o plano de um certo personagem morto
em um piscina com jornalistas ao fundo e possivelmente a escadaria principal da
mansão de Jay, que é idêntica a de Norma Desmond naquele filme), Luhrmann
mostra na maior parte do tempo que é, de fato, o diretor que divertiu e
emocionou com Moulin Rouge há
mais de dez anos atrás, e que ainda possui o potencial para repetir o feito.
NOTA: 8/10
Adorei sua critica, pelo trailer, cartazes o filme me parece uma obra de arte, no sentido de direção de arte, parabens pela critica, vou assistir-lo e ver o que achei
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