quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

JOHN WICK: UM NOVO DIA PARA MATAR


Assim como já ficara estabelecido no excelente De Volta ao Jogo (filme que precede este aqui), o universo do assassino de aluguel que simplesmente não consegue se aposentar, o tal John Wick (Keanu Reves), oferece uma narrativa menos preocupada em ser distinta por suas articulações de roteiro ou diálogo (ficaria surpreso se descobrisse que o protagonista proferiu mais do que trinta palavras dessa vez), do que na tarefa de criar sequências imersivas de ação. E desse ponto de vista, o esforço não só é bem sucedido outra vez, como assemelha-se ainda mais à criação de um musical, que substitui os números de canto e dança por uma perseguição de carros, uma luta corpo a corpo ou uma criativa troca de tiros.


Partindo exatamente do ponto final do longa anterior, John Wick: Um Novo Dia Para Matar se desencadeia quando um credor de Wick, Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio), fica sabendo que o assassino está de volta à ativa e resolve cobrar uma antiga dívida, pedindo que ele assassine sua irmã, Gianna (Claudia Gerini), próxima na linha sucessória de uma importante cadeira no conselho de mafiosos. Relutante em cumprir a tarefa, John se vê obrigado a aceitar o trabalho. Porém, traído por Santino, ele passa a ser perseguido por um exército de matadores profissionais, enquanto busca novamente por vingança.

É, soa familiar a estrutura básica desse capítulo, que remete diretamente ao primeiro: gângster incomoda Wick e ele vai atrás de vingança. Mas é inegável que isso funciona, e o filme chega mesmo a repetir algumas situações para marcar que está ciente da natureza cíclica da rotina de seu anti-herói – através do mecânico vivido por John Leguizamo, do policial que encara como rotineiras as chamadas inusitadas que atende na casa de Wick, e do profissionalismo cômico do recepcionista do Hotel Continental. Mas aí, isso ajuda a fazer com que essa continuação não soe apenas como uma desculpa esfarrapada para fazer mais alguns trocados, e sim como parte de um arco maior.

E se Reves com sua famosa inexpressividade continua a se provar perfeito para o papel principal, Riccardo Scamarcio surge como um vilão apropriadamente detestável enquanto Laurence Fishburne parece se divertir compondo o excêntrico Bowery King. Além disso, o assassino vivido por Common divide com Wick alguns dos momentos mais interessantes do longa-metragem, principalmente pela cordialidade tensa que dividem – e o instante em que trocam tiros de forma trivial dentro de uma estação de trem é particularmente divertido. Da mesma maneira, a relação entre o protagonista e Winston (o ótimo Ian McShane), é mais explorada e ganha contornos mais intrigantes, graças, claro, à natureza também cordial das duas figuras.


Responsável por sequências memoráveis pela abstração que proporcionam, como aquela envolvendo um monólogo de Gianna dentro de uma banheira, ou o clímax em um labirinto de espelhos, John Wick: Um Novo Dia Para Matar pode não ter o frescor de novidade de antes, mas certamente fica à altura do padrão estabelecido por De Volta ao Jogo. E a promessa de uma continuação ao final não soa como um gancho maniqueísta para continuações sem sentido, mas como um bem-vindo “até mais” para um personagem que, se mantiver a qualidade, ainda vai demorar muito tempo pra conseguir se aposentar – mas hey, John, that’s Brazil with Temer, honey.


NOTA: 8/10


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