terça-feira, 26 de setembro de 2017

MÃE!


Um dos aspectos mais fascinantes do Cinema é o modo com que sua linguagem consegue impor ao espectador os mais variados sentimentos, sensações e ideias, sem que este tenha de concordar ou sequer entender o conteúdo de uma de suas obras. Para relembrar as palavras do mestre Roger Ebert, nunca repetidas o suficiente: “...não importa sobre O QUE é um filme, mas COMO ele é sobre o que ele é”. A gramática audiovisual de um longa pode, sozinha, conduzir o público por uma gama de emoções, que não necessariamente devem ser agradáveis a este - aliás, muito pelo contrário, nos tirar da zona de conforto e inquietar-nos é um dos recursos mais tradicionais que a Arte tem de nos levar à reflexão. No caso de Mãe!, somos acompanhados do início ao fim pela angústia, pela claustrofobia e pelo medo de que algo terrível acontecerá a seguir, mesmo que nem sempre compreendamos o que é - por si só, essas são constatações que já comprovam o domínio narrativo exercido pelo cineasta Darren Aronofsky. E o resultado disso torna quase garantido o debate subsequente sobre os significados de seu filme, pois tal eficiência em causar desconforto pode ser abraçada ou rejeitada por nós do lado de cá, mas é quase certa a impossibilidade de se manter indiferente quanto ao que vimos e ouvimos em tela.



(num primeiro momento, vou discutir o filme sem spoilers - mais adiante, com os devidos avisos dados com antecedência, entro nas minhas interpretações, que trazem muitos detalhes da trama)


Primeiramente (fora Temer) levemos em conta o modo como somos introduzidos na trama: o plano de um rosto em chamas rapidamente dá lugar ao personagem de Javier Barden colocando um cristal sobre seu mostruário numa prateleira, o que parece desencadear a ressurreição de uma casa carbonizada. Evento esse que resulta no despertar da personagem de Jennifer Lawrence sozinha numa cama de casal - uma cadeia de acontecimentos que, pela própria estranheza, já despertam a curiosidade e, logo, a inquietação por respostas. Ainda mais quando, a partir de então, a câmera jamais abandona a figura da Mãe (Lawrence), colada nela com uma proximidade assustadora. Aliás, Aronofsky e seu fiel colaborador, o diretor de fotografia Matthew Libatique, repetem aqui algumas estratégias visuais que empregaram em O Lutador e Cisne Negro ao praticamente perseguirem a protagonista pelas costas, dando voltas ao seu redor e constantemente encarando-a de frente, expondo sem pudores as suas reações. Além disso, esses enquadramentos surgem quase sempre fechados, em primeiro plano e com baixíssima profundidade de campo (fundo desfocado), se somando aos espaços estreitos da casa que serve de cenário ao filme (uma estrutura vitoriana que descobrimos ser aparentemente isolada no meio da mata virgem), para tornar a narrativa claustrofóbica - o instinto básico do espectador é querer descortinar os ambientes, entender sua disposição em relação aos outros e onde os personagens estão agindo e quando; ao criar um interesse por esses elementos e repetidamente nos negar o acesso a eles, Darren e Libatique se mostram habilidosos ao manusear e oprimir a expectativa do público.


E estou me detendo aqui apenas na abordagem inicial de Mãe!, que ainda investe seus primeiros minutos em acompanhar pacientemente a personagem título vasculhar a casa atrás de seu marido (Barden, nomeado apenas como Ele), já estabelecendo a solidão e isolamento da mulher ao apresentá-la vestida com uma camisola branca e frágil que contrasta com os ambientes duros e escuros de madeira do casarão, cuja estrutura insiste em reforçar seu aprisionamento ao enquadrá-la dentro de arcos de portas, paredes de corredores e dentro de janelas. Então atente como, nessa altura, apesar de ainda não sabermos nada da trama ou daquela personagem, as meras escolhas de direção já nos possibilitam experimentar as sensações que o longa pretende desenvolver. Isso que nem estou citando elementos mais sutis como o uso que Libatique faz de uma película menos sensível, com o grão bem grosso e visível, que torna a imagem “suja”, reforçando a ideia de uma atmosfera tensa e carregada - além de, junto a Aronofsky, investir quase sempre numa câmera de mão (auxiliada pela steadycam, com certeza) reagindo aos mínimos movimentos do operador, o que confere tanto crueza à narrativa (essa abordagem sempre remete ao documental e, portanto, a um “realismo”) quanto potencializa a sua instabilidade.


Mas como disse no começo desse texto, o cineasta compreende muito bem a linguagem AUDIOvisual, e o som é um departamento que com certeza não lhe escapa também. O design de som de Mãe! representa uma dimensão à parte, principalmente quando percebemos que o filme não possui uma trilha sonora, dependendo apenas de como trata a sonoridade do ambiente para complementar o que estamos vendo. De fato, o único som não diegético da produção (ou seja, que não está inserido dentro do universo percebido pelos personagens) é uma batida metálica rítmica que surge em poucos momentos chave, quase como o tic agudo de um relógio. No resto do tempo, construímos os cenários ao redor da Mãe (lembre: negados pela visualidade do filme) pelos sons que nos são cedidos: pássaros e insetos, por exemplo, definem a mata que cerca aquela casa, enquanto os rangidos do casarão e o som de passos e conversas abafadas mapeiam com frequência onde os outros personagens se encontram nela e em relação à protagonista. Sem contar o ruído de cigarras e grilos que aumentam de forma incômoda em instantes precisos, como naquele em que Ele e Mãe testemunham um beijo acalorado entre o casal formado por Ed Harris e Michelle Pfeiffer, ressaltando o desconforto dela em relação à cena; ou o silêncio absoluto que deixa audível apenas a voz de Jennifer Lawrence quando o médico vivido por Harris pede que ela diga algumas palavras em público.


E se esses recursos todos garantem que estaremos atrelados à Mãe e sua angústia durante todo o filme, outras ideias são reforçadas por estratégias diferentes. O figurino, por exemplo, veste a mulher sempre em roupas claras e delicadas (sempre a vemos em branco, cinza, bege ou perolado), complementando a performance de Lawrence, que apesar das inconveniências a que sua protagonista é submetida, jamais deixa de imprimir gentileza e bondade nos modos polidos, carinhosos e reservados com que a vive - mesmo quando em desespero, uma coesão que me faz lamentar ainda mais o Oscar antecipado angariado pela atriz. Além disso, Aronofsky demonstra pragmatismo ao associar de maneira econômica sustos convencionais do cinema de horror (personagens surgindo subitamente atrás de coisas) à entrada de homens em cena, sintetizando o sentimento de opressão, insegurança e desequilíbrio de poderes experimentado pela figura central do longa em relação ao gênero oposto - uma praticidade que também é denunciada pelo momento em que, ao ler um poema escrito por Ele, ao invés de realmente compor um texto que jamais ficaria à altura das expectativas do público, o filme decida deixar as palavras exatas na nossa imaginação, e apenas nos mostra o cenário que simboliza o modo como os escritos fazem a Mãe se sentir.


Mas Mãe!, o filme, é uma obra repleta desses simbolismos. E uma vez engajados nas sensações que a sua gramática audiovisual tende a inspirar, desbravar os possíveis significados do roteiro de Aronofsky é um impulso quase irresistível. Aliás, sob um ponto de vista mais generalista, o projeto se converte quase em um símbolo ele mesmo do potencial que a Arte (e a Comunicação em geral) tem de criar signos e somar exponencialmente significados a eles sem perder as bases originais. Então a partir do próximo parágrafo vou me debruçar sobre as minhas interpretações do longa-metragem, embora relembre que, por causa de todos os recursos sobre os quais discorri acima, esse não é um exercício necessário para imergir nessa surpreendente obra-prima construída por Darren Aronofsky, que se cimenta aqui como um dos melhores e mais provocativos cineastas de sua geração.


    
(spoilers abaixo)


Ok, vamos lá: quando se emprega numa narrativa símbolos tão básicos quanto preto e branco, bom e mal, quente e frio, etc., se corre o risco (ou, assume-se a responsabilidade) de ser generalista. Quando Darren Aronofsky define então um homem e uma mulher como seus protagonistas, está compondo uma ideia no mínimo abrangente sobre... seja lá qual for o tema que pretende discutir - e o que enxergo em Mãe! é um panorama da história da Terra. Sim, nosso planeta, contemplando tanto as visões religiosas quanto a científica, e já vou me deter nos detalhes que embasam isso. Mas antes quero destacar algo engraçado dessas alegorias ambiciosas, que é o fato delas funcionarem de uma forma muito intimista também. Então se Ele pode ser Deus ou o Universo e ela a Terra ou a Mãe Natureza, podemos estar falando igualmente de uma relação mais psicológica inerente a qualquer ser humano: o da criação e sua obra, ele sendo um artista e ela suas inspirações - sua musa. Podemos inferir isso pelo modo angelical com que a personagem de Lawrence é retratada, através dos já citados trajes claros e delicados e de sua performance gentil e bondosa. Desse ponto de vista, ela como inspiração tem de ajudar Ele a criar - um processo que é simbolizado de maneira literal por sua gravidez, que surge junto com as ideias que ele tem para seu poema. Note, aliás, como o escrito leva o tempo da gestação dela para ficar pronto, e que assim que “nasce”, a primeira reação da Mãe é perguntar a Ele: “Eu vou perder você?”. Ou seja, agora que cumpriu seu papel de dar vida ao filho dele (seja esse o bebê ou o poema), ela imediatamente deduz que será abandonada por não ter mais serventia.


De outra forma, essa leitura não interfere nas outras que pretendo explanar aqui. Pelo contrário, as complementa - mas já me explico.


Se o arco narrativo do filme simboliza a história do nosso planeta do ponto de vista do próprio, então o personagem de Javier Barden é, sob um filtro religioso, Deus, e sob uma lente mais científica, o Universo. Ele é o criador, o arquiteto, o escultor e o escritor de tudo, um artista. Isso faz da personagem de Jennifer Lawrence a casa (como é dito literalmente em dado instante), a Terra, a Mãe Natureza e as coisas boas e inspiradoras que esta proporciona - como o acolhimento e a fertilidade. E se por um lado a perspectiva religiosa esteja bastante óbvia durante todo o projeto, gostaria de destacar que Darren não desconsidera um entrelaçamento com aquela que é científica. Mas ainda antes que eu explique onde e como isso fica claro, é preciso voltar ao que estava dizendo antes e destacar a escolha do cineasta ao definir seus protagonistas como um homem e uma mulher.


Ora, ao atribuir aos gêneros opostos papéis e funções nesse panorama tão abrangente, Aronofsky está dizendo que existem noções atreladas a eles que atravessam os tempos, ditando sobre o que é ser Homem, o que é ser Mulher e as relações que esperamos que esses dois extremos devam ter. Porém, mais do que isso, ao colocar os dois como figuras centrais de um filme que apresenta uma visão tão pessimista da humanidade e de suas interações entre si e com o planeta, Derren acaba implicando que o próprio Gênero (com G maiúsculo) está no cerne de todos os problemas já enfrentados pela nossa espécie, contestando assim seu próprio conceito e existência. Percebamos como Ele muitas vezes fala por ela, toma decisões e lhe atribui características sem perguntar antes, mas ao mesmo tempo demonstra afeto e carinho pela Mãe, agindo assim condescendentemente: “É bom conversar com alguém que realmente aprecia o meu trabalho”, Ele diz sobre os hóspedes que recebem, sendo respondido por ela com um “Mas eu aprecio o seu trabalho”, um diálogo finalizado quando Ele, de uma forma que acha ser afável, pontua: “É claro que aprecia”, não percebendo que o próprio conteúdo do que está dizendo contradiz os modos acolhedores que emprega para dizer. Além disso, note como aquilo que simboliza o coração dele é um cristal, exposto com orgulho, apesar de frágil, enquanto o dela é mais literal, só que escondido e já bem mais forte


A Mãe, por outro lado, carrega consigo tudo aquilo que, historicamente, atribuímos ao ser Mulher. Primeiro que a própria escolha de Jennifer Lawrence para vivê-la já ajuda a implicar na idealização que existe do corpo feminino sendo magro, de pele branca, com cabelo louro e olhos azuis - sem contar que a camisola que usa nos minutos iniciais deixam bem à vista seus seios fartos e curvas bem definidas, sugerindo o ideal de forma física associada ao potencial de fertilidade. E pense nisso colocado contra a escalação de Javier Barden, que foge completamente às pré-disposições de galã, se revelando ainda um parceiro bem mais velho. A partir de então, note como a personagem de Lawrence é apresentada como uma verdadeira agente do pudor e do conservadorismo - lembre-se que, como construção social e histórica, a Mulher não pode manifestar libído ou desejos sexuais, isso são características masculinas, e a própria Hollywood se encarregou de deixar isso bem claro através dos anos ao fazer com que essas características definissem as Femme Fatales e demais personagens femininas cruéis, trapaceiras e imorais. Ela dá um fim num isqueiro, porque condena o fumo, ela esconde uma calcinha, porque condena o sexo - sexo este no qual ela tropeça diversas vezes, aliás, encontrando-o escondido em sua casa como algo profano que ela evita. Essa percepção da sexualidade feminina como algo a ser reprimido, inclusive, fica bem explícita quando a Mãe tem de lidar com uma mancha de sangue no assoalho. Veja como o buraco ensaguentado que ela produz tem o formato de uma vagina, e que o “sangramento” se dá, na verdade, no andar inferior, que é o porão - aquele lugar fechado e escondido embaixo da casa onde apenas ela vai para lavar roupa. Não é segredo pra ninguém que a menstruação é ainda um tabu enorme na nossa sociedade, uma função do corpo da mulher repleta de estigmas - então é apropriado que Aronofsky resolva simbolizar a menstruação ali.


E digo mais, percebamos o momento em que esta cena entra na narrativa e como ele conversa com o que vem depois. Pois, se o sangue representa uma menstruação, então ele simboliza que agora existe fertilidade na casa - e se já definimos que a casa é a Terra, o que estamos dizendo é que agora o planeta está pronto para receber vida. Do ponto de vista evolucionista, estamos falando do surgimento das primeiras espécies. “Ah Yuri mas que viagem, nada a ver”... Será mesmo, descrente leitor hipotético? Porque é exatamente quando desce ao porão para ver onde o sangue estava escorrendo, que a Mãe encontra de maneira casual um sapo atravessando seu caminho - um anfíbio, veja você, vulgo os primeiros seres a saírem da água e darem início a população de vidas terrestres que resultariam em nós. MAS NÃO PARA AÍ, porque imaginação foi feita pra gente dar umas pirada; o sangue escorrendo pelo teto revela para a Mãe um compartimento onde está o combustível da fornalha - ora, ora, se não é a menstruação sendo associada ao “temperamento” da casa/Terra/Mãe/Mulher. Entretanto, quando digo que existe uma continuidade com o que vem depois, nem falo dessa cena especificamente, mas sim da gravidez dela. Aliás, é um detalhe mais sutil, mas repare que, durante toda a briga que o casal tem antes de decidir transar e ter um filho, está chovendo - o que acaba também abarcando a visão bíblica deste momento da História, aludindo ao grande dilúvio e a renovação da humanidade (esta cena ocorre entre o velório, de onde os hóspedes são expulsos da casa pela Mãe Natureza, e os eventos posteriores, nos quais já vou me deter).


Só, claro, apesar da obviedade, é válido apontar como o filme estabelece essas conexões religiosas o tempo inteiro: as janelas da porta formam um crucifixo; durante um conflito, a Mãe procura por ajuda olhando para cima, onde enxerga Ele olhando a situação de um ponto muito alto, sob uma luz branca. Mas não só isso, há o uso de termos específicos que não surgem por acaso, como Ele, que insiste em chamar a Mãe de “minha deusa”, ou como a própria protagonista emprega frases tipo “Eu quero construir o paraíso” e “Eu vou cuidar do apocalipse”, enquanto ele grita com ela “Eu estou tentando trazer vida a esta casa!”, explicitando seu dilema e posição de Criador - o design de produção chega a colocar o esqueleto de uma maquete de casa sob sua escrivaninha. E se Barden é o Universo/Deus e Lawrence a Terra/Mãe Natureza, Ed Harris e Michelle Pfeiffer seriam Adão e Eva, enquanto seus filhos seriam Caim e Abel - que chegam a encenar o famoso primeiro assassinato de forma bastante fiel ao texto da Bíblia (e eu preciso destacar aqui a eficiência de Domhnall Gleeson, que sempre ótimo, transforma sua pequena ponta em um momento marcante. Inclusive, o ator que interpreta seu irmão é realmente seu irmão na vida real, o ator Brian Gleeson).


Porém, retomando a ordem cronológica dos eventos, uma vez grávida, é simbólico que a Mãe jogue fora o misterioso medicamento que vinha tomando antes. Pois bem, se ela simboliza também aquilo que atribuímos à Mulher historicamente, incluindo aquelas funções de policiar a líbido alheia, os maus hábitos, cuidar da casa etc., o remédio seria então uma forma de manter ela própria sob o domínio dessas rédeas. Uma autocensura. Repare como a personagem só sente a necessidade de se remediar quando é testada pelo marido e as situações que ele lhe impõe, ingerindo a substância como forma de acalmar os sintomas desagradáveis dessas interações - sensações que o filme pinta como sendo ruins apenas porque nós, como sociedade, enxergamos assim também as mulheres que expressam sua sexualidade e opinião. Portanto, ela jogar fora o medicamento quando engravida é simbólico pois nos diz que, agora, ela sente-se cumprindo seu papel de Mulher, sem que precise do remédio para auxiliá-la nisso - e lembre-se que medicamentos são coisas que, sim, ajudam nossos corpos a curar problemas e mal-funcionamentos, mas que também ajudam alguns de nós a se adequar a padrões que a sociedade espera dos indivíduos.


E uma vez grávida (o que, lembre, também está associado à obra criada pelo artista, o Ele de Barden), é inevitável que a casa seja novamente invadida por pessoas, que dessa vez aumentam exponencialmente em número a cada minuto, representando a explosão populacional depois do surgimento do ser humano. A partir daí você pode interpretar a sequência de eventos como quiser, mas ao meu ver, eles obviamente simbolizam o rápido desenvolvimento da humanidade, suas diversas guerras, conflitos e fenômenos sociais. Portanto não surpreende que, ao chegarmos no que seria a atualidade, ela, Mulher, seja repetidamente agredida ao tentar manifestar sua insatisfação com tudo que está acontecendo, enquanto Ele acaba se convertendo numa figura cultuada - e não há de ser ignorada a proximidade tanto em inglês quanto em português das palavras Poeta e Profeta.


Portanto, que final mais apropriado poderíamos esperar que o Inferno? Ou, claro, o resultado último do aquecimento global na Terra. Segundo Mãe!, tratamos nossos planeta de forma cruel e injusta, exaurindo seus recursos, tal qual, enquanto sociedade, fazemos com o gênero feminino e quaisquer coisas associadas a ele - e é a isso que me refiro quando falo da opinião que o filme parece deixar sobre Gênero, uma vez percebido que não é casual Aronofsky ter definido o criador e defensor da humanidade como um homem, enquanto a Terra e Mãe Natureza como uma mulher.


E a casa queima, o ciclo recomeça, e somos mandados para fora da sala de cinema com um momento praticamente idêntico com o que fomos recebidos ali, fechando um círculo. O mesmo círculo, aliás, que Darren Aronofsky usou para simbolizar a Vida em si (com V maiúsculo) no excepcional Fonte da Vida - concluindo então a ideia de que, de fato, estávamos até então acompanhando a sua visão da nossa passagem neste planeta, de como moldamos ele a partir das nossas percepções de quem deveria fazer o quê - e que talvez essas sejam concepções antiquadas e erradas desde o início, condenadas desde o princípio a repetirem o ciclo destrutivo.


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