quinta-feira, 18 de outubro de 2018

CRÍTICA: A CASA DO MEDO - INCIDENTE EM GHOSTLAND


O diretor Pascal Laugier contribuiu para o movimento de horror chamado de Novo Extremismo Francês com o excelente Mártires, de 2008, que ganhou um remake americano em 2015 (sobre o qual escrevi aqui) que em nada faz jus ao perturbador longa original. Depois de ter se aventurado no falho O Homem nas Sombras, o cineasta retorna aqui neste A Casa do Medo para algo mais próximo do seu projeto mais famoso e relevante.

A história é simples e possui algumas boas reviravoltas ainda no segundo ato. Portanto, não vou revelar muito sobre a trama, apenas que se trata de um filme no subgênero de invasão domiciliar em que uma mãe e suas duas filhas, recém mudadas para uma casa antiga, estranha e isolada, são surpreendidas por uma dupla incomum que as faz reféns. A partir daí há algumas quebras na linearidade da trama que, no geral, é o recurso que mais chama a atenção nesse curioso exemplar.


A partir de certo instante, o filme começa a saltar entre o passado e o presente. No primeiro, acompanhamos a luta das irmãs Beth (Emilia Jones) e Vera (Taylor Hickson) para sobreviver ao seus captores, e no outro acompanhamos Beth (aí vivida por Crystal Reed), enquanto tentamos entender o desfecho que teve o evento traumático na sua adolescência.  E um dos exercícios divertidos que Laugier nos propõe é analisar os pequenos e curiosos elementos e mesmo a vida que leva a beth mais velha.

O desenho de produção ajuda bastante construindo essas duas realidades díspares de forma igualmente incomodativa. Se a casa para a qual as irmãs e sua mãe se mudam é repleta de detalhes esquisitos e que sugerem ameaça, como as inúmeras bonecas de porcelana e os chifres empalhados pendendo sobre as escadas, o apartamento da Beth adulta é de uma esterilidade e organização rigorosas. E Laugier consegue explorar bem esses espaços, criando sequências que utilizam os elementos e a geografia deles de forma inteligente.

O que de certa forma compensa as caricaturas que são os vilões e a breguice de suas vilanias. Menos perdoável, entretanto, é a performance de Crystal Reed, que surge apática demais, uma característica que a atriz visivelmente confunde com introspecção. Sua versão mais jovem também não ajuda muito, já que o erro de Emilia Jones é mais básico: ela apenas é inexpressiva. Já Vera é uma personagem mais cativante, em especial o pouco tempo de tela dado a Taylor Hickson é bem aproveitado pela intérprete para construir primeiro uma adolescente revoltada e, depois, a vítima que tem de tomar decisões difíceis e maduras. Sua tragédia e a igualmente boa performance de Mylène Farmer como a mãe das garotas, é o que define a ponte de empatia com o espectador.

Apesar de alguns vários clichês, especialmente mais pro fim da trama, A Casa do Medo recompensa com suas reviravoltas, pela estrutura curiosa e pelos sustos que se aproveitam bastante dos espaços e objetos, sem apelar para os saltos na trilha - os saltos no som até existem, mas são ancorados em ações diegéticas da trama. Por exemplo, um armário se abre repentinamente revelando uma figura apavorante que grita, e por aí vai. Não fica à altura de Mártires, mas já representa um passo de Laugier de volta à boa forma daquele filme.

Nota: 7/10

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