segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O CINEMA DIZ: #ELENÃO - Nº 4

O convidado de hoje é o Matheus Bonez, jornalista e crítico de cinema, pós-graduado em Cinema Expandido pela PUCRS. Já apresentou os programas Curta Cine e Espaço Público Cinema da TVAL-RS e, desde 2011, é colaborador do portal Papo de Cinema, com eventuais participações em outros veículos além de júris de prêmios como o Festival de Cinema de Gramado. O filme que ele escolheu retrata a vida real do militante pelos direitos homossexuais Hervey Milk, aqui vivido por Sean Penn, que venceu o Oscar de Melhor Ator pelo papel.




Questões de identidade de gênero e orientação sexual são pautas políticas sim
Não há forma melhor de se conectar ao público através do cinema do que com uma narrativa convencional. Por conta deste motivo, não é de se estranhar que o experimental Gus Van Sant tenha optado pelo caminho da tradição ao realizar Milk: A Voz da Igualdade (2008), filme que retrata a vida de Harvey Milk, primeiro homossexual assumido a ocupar um cargo público nos Estados Unidos. Aqui, o diretor se despe de qualquer menção a si e suas características mais controversas pois sabe que o tema delicado só chegaria aos ouvidos duma parcela mais ampla de espectador se contasse uma história linear. Afinal, o que importa aqui é o discurso, não seu autor.

Sean Penn dá voz e corpo a esta figura tão emblemática na luta pelos direitos humanos dos excluídos pela sociedade. É claro, Milk tinha como principal bandeira o arco-íris, a camada LGBTQ que, na época (anos 70) era ainda mais marginalizada pela sociedade. E olha que hoje vivemos sob olhares cada vez mais retrógrados no mesmo compasso que, na direção contrária, os direitos para homossexuais estejam cada vez mais aflorados. É um trajeto de vida mais do que interessante e que reflete muito o modo de viver de todos os gays e lésbicas: assumido "tardiamente", Milk se engajou de verde na luta próximo dos 40 anos, indo às ruas, organizando protestos, se fazendo ouvir ao lado de figuras tão corajosas quanto o próprio.

Contanto, não é de estranhar mais ainda como os grandes passos dados por Milk sejam tão importantes até hoje. As Paradas Livres organizadas ao redor do mundo entendem o papel político que ser e estar assumido gay nas ruas significa. Poucos políticos brasileiros, por exemplo, são homossexuais fora do armário e com orgulho. Mais ainda: que lutam pela causa. Um exemplo recente é o deputado federal Jean Willys, que, com medo ou não, encara de frente qualquer xingamento e forma de opressão que possa sofrer (que vai desde sua sexualidade ao fato de ter sido vencedor de um reality show). Bom, ele cuspiu na cara daquela criatura que atualmente concorre à presidência do Brasil com um discurso tão fascista e contraditório que lembra, em certo grau, Dan White (no filme de Van Sant, interpretado por Josh Brolin), subprefeito que assassinou Milk por razões controversas. Espera-se que este não seja o fim da trajetória de Willys ou qualquer outro combatente pela liberdade de expressão e de ser quem é. Porém, o recado de Milk vai além de sua vida ou da tragédia que acabou com ela: é preciso estar na luta e botar a cara a tapa sempre. Mesmo em tempos tão sombrios como os atuais.
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Aqui vão alguns dados levantados pela editoria do blog:
"O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro ele muda o comportamento dele. Tá certo?”
- frase de Jair Bolsonaro, durante entrevista da Tv Câmara em 2010.


O último relatório do Ministério dos Direitos Humanos sobre a violência LGBTfóbica, expõe que: a maior parte das ocorrências acontece dentro de casa (27,4%) e a maior parte das ocorrências acontece com jovens que têm entre 18 e 24 anos (39,3%).



Brasil registrou 445 homicídio por homofobia somente em 2017, 30% a mais do que em 2016, quando registrou 343 casos. Os dados do Grupo Gay da Bahia, há 38 anos no Brasil trabalhando com dados sobre homofobia.

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Entenda o que é, porque existe e leia as outras edições do projeto O Cinema Diz: #EleNãoem que convidei várias pessoas para escolher e escrever sobre um filme que converse com a nossa situação política, no intuito de refletir e ilustrar os riscos que estamos correndo.


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