terça-feira, 17 de setembro de 2013

INVOCAÇÃO DO MAL


   A verdade é que, Invocação do Mal, novo filme de terror dirigido por James Wan (que tem provado sua competência através de projetos como Jogos Mortais e Sobrenatural), está repleto de clichês do gênero, desde os brinquedos assustadores, passando pela criancinha esquisita da família que fala com os espíritos, até aquela olhadinha no espelho que revela um sustinho escondido no canto. Mesmo a estrutura do longa é formuláica e repete os arcos explorados à exaustão por todos os filmes da franquia Atividade Paranormal, que consiste basicamente em começar aos pouquinhos, com um pé sendo puxado aqui, uma porta batendo ali e um vulto passando acolá, para chegar ao final então já sem medo de mostrar os espíritos/demônios e outras entidades que estejam atormentando os nossos protagonistas. Ainda assim, Invocação do Mal se mostra suficientemente inteligente para reconhecer seus lugares comuns e aproveitá-los a seu favor, fazendo do exemplar de terror, um filme que realmente assusta.


     Contando a história "verídica" (e ponho verídica entre aspas não por qualquer possível incoerência com os fatos contados pelas pessoas envolvidas, mas justamente pelo teor destes relatos que dependem muito do que acredita cada espectador) o longa nos leva a acompanhar a rotina da família Perron, recém mudada para uma nova casa que, claro, está assombrada. É quando eles decidem chamar o casal de caçadores de eventos paranormais Ed e Lorraine Warren (respectivamente Patrick Wilson e Vera Farmiga), que acabam descobrindo que o local é amaldiçoado por uma bruxa.


     É curioso que Wan invista em uma linguagem nostálgica para contar a sua história, empregando câmeras de grua seguindo seus personagens pelo jardim do casarão em planos que não ficariam deslocados em uma produção oitentista, assim como os constantes zoons in e out que remetem até mesmo ao clássico O Iluminado de Stanley Kubrick, ainda que o uso da linguagem Kubrickiana pare por aí também, e até mesmo os cafonas letreiros inicias acabam soando integrados à narrativa graças a esta abordagem do diretor. O que no final gera um bom resultado, em vista que o gênero dos filmes de Terror já teve dias melhores, quando havia paciência para desenvolver seus personagens e as situações tensas pelas quais estes passavam. Wan entende que é preciso tempo de tela para criar suspense, e que só haverá suspense caso nos preocupemos com as figuras de sua história, e que antes de nos preocuparmos com estas pessoas, temos que ter algo nas suas situações com o que nos identificar. Uma família com pessoas que vivem uma rotina comum e que de repente veem seu lar assolado por um grande problema, o que fragiliza estes personagens que só querem tocar suas vidas, é algo que qualquer um pode entender. Junte isso ao fato de os personagens agirem com certa inteligência, gentileza e naturalidade na maior parte do tempo (ao invés de se manterem isolados, eles procuram aglutinar o maior número de pessoas dentro da casa para se sentirem mais seguros, por exemplo) e pronto, é difícil não comprar as famílias Perron e Warren como nossos protagonistas. 


     Por outro viés, Wan também é bem-sucedido ao explorar com criatividade as suas possibilidades de susto, assim como se mostra tão acertado quanto ao se conter para não cair em falhas previsíveis do gênero. E em determinado momento, uma aparição no espelho é tratada com calma e até certa melancolia pela personagem de Vera Farmiga, enquanto qualquer outro diretor não resistiria em subir a trilha sonora alarmando o perigo. Assim, um simples movimento de câmera inesperado revela a presença de uma entidade no quarto junto com as crianças, em um susto particularmente inspirado feito pelo cineasta. Já mais perto do clímax os sustos se tornam menos frequentes, o espectador se acostuma com as caras feias dos vilões que já não se escondem mais nos cantos escuros (embora a escuridão seja protagonista do melhor susto de todos), enquanto Mark Isham compõe um tema feliz e bobo para o desfecho que acaba destoando completamente do clima estabelecido pelo resto do longa. Então é apenas nos créditos finais, onde vemos fotos e reportagens sobre as pessoas reais envolvidas na história, que o filme volta a acertar. Na verdade, Wan resistir ao quase irresistível susto final já é uma pequena vitória.


NOTA: 8/10  
       




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