domingo, 28 de dezembro de 2014

O ABUTRE



Jake Gyllenhaal dá sequência com este O Abutre a uma série de bons filmes que vêm compondo sua carreira, e logo depois de estrelar dois excepcionais e distintos longas-metragens dirigidos por Dennis Villeneuve (Os Suspeitos e O Homem Duplicado), o ator encarna aqui Louis Bloom, um homem inteligente que passa a viver como câmera freelancer, caçando as imagens mais chocantes que consegue encontrar pela cidade para vendê-las aos sensacionalistas telejornais locais. E como articuladores deste tipo de jornalismo desumano e sanguinário, não é surpresa alguma – e na verdade, por si só, já uma crítica bastante contundente - que em maior ou menor grau, todos os personagens envolvidos eventualmente demonstrem ter um caráter corruptível.

Afinal, falamos de pessoas que exploram a desgraça alheia para alimentar a curiosidade mórbida de seus telespectadores, que em troca lhe recompensam com altos números de audiência que podem ser trocados por publicidade. É um mercado de violência e morte, e não de notícias. E não tarda até que Bloom perceba qual é o verdadeiro produto que está comercializando, passando ele mesmo a fazer parte de sua produção. É através dele que Dan Gilroy – diretor e roteirista – exerce sua visão ao desconstruir a figura já falha que apresenta roubando pedaços de cerca no início do filme.

Intenso, Gyllenhaal transforma os já interessantes diálogos do roteiro em sequências tão magnéticas quanto a perseguição que serve de clímax para o longa. Particularmente, o encontro que marca com a personagem de Rene Russo torna-se mais inebriante a cada linha, quando passa a se aproximar mais de uma negociação do que de um flerte. Nada mais apropriado também para o homem que afirma “um amigo é um presente para si mesmo”, encarando uma relação de amizade literalmente como um objeto que se pode comprar, usar e descartar. Com seus cabelos oleosos e uma fala que tenta com esforço soar aconchegante, o ator constrói o protagonista como a figura deslocada socialmente que é, e que tem em uma planta o seu maior elo sentimental. Sim, Bloom é um psicopata, sua visão diferenciada do mundo é ideal para o trabalho carniceiro em que se torna especialista, e por isso o seu sucesso no ramo. O que diz muito sobre o que Gilroy pensa sobre esse tipo de “profissional”. E o que deveria ser pensado também, o que é a grande discussão que pertinentemente levanta O Abutre, que no finalzinho do ano chega para conseguir espaço ainda na lista dos melhores exemplares lançados em 2014.


NOTA: 10/10

   

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