Se Meu Malvado Favorito funcionava regularmente era porque tinha a seu
dispor pequenas figurinhas amarelas cuja graça estava baseada em gags puramente
audiovisuais - trapalhadas, expressões e linguagem
única. Ao concentrar mais sua trama nos ajudantes de Gru (Steve Carell), Meu Malvado Favorito 2 decaía ainda mais justamente por desentender que os pequenos seres eram alívio cômico e, portanto, eficientes em
segundo plano, mas não como estrelas principais. O que nos leva ao seu filme solo, Minions, em que eventualmente algumas
piadas funcionam, só que nenhuma delas tem a ver diretamente com os minions. Ao contrário do recente e divertido
Os Pinguins de Madagascar que partia
de uma premissa e situação parecidas, os carismáticos coadjuvantes provam que,
como protagonistas, são apenas amarelos.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
JURASSIC WORLD
Jurassic Park é uma obra-prima inquestionável. Muito se valendo do
frescor de ideia, Spielberg construiu um filme com cuidado minucioso, cheio de
sequências icônicas e angustiantes - tamanha a tensão - possibilitadas graças a
efeitos visuais pioneiros que parecem não ter envelhecido um dia sequer – e
mesmo hoje, 22 anos depois, ainda há produções que não se equiparam nos
quesitos técnicos. Porém, era uma trama que, devido aos próprios elementos, funcionava
como um único filme, e assim suas continuações já nasceram todas fadadas a
fracassarem em repetir o grandioso feito. Se O Mundo Perdido (ainda sob a batuta de Spielberg!) reciclava
fórmulas que tinham funcionado no primeiro longa-metragem para criar uma
aventura apenas divertidinha, Jurassic
Park 3 veio para enterrar a franquia de vez. Ou era o que achávamos, até
que se escavassem os fósseis daquela ideia original para conceber este Jurassic World, que não, obviamente não
chega nem perto de ser o clássico que é o filme de 1993, mas que tem plena
noção disso e, apesar dos problemas, se prova um filme tenso, divertido e
nostalgicamente reverente.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
TOMORROWLAND
Em tempos de The Walking Dead, Jogos
Vorazes e Mad Max, onde séries e
filmes exploram o futuro e o presente com assumido pessimismo em relação à
espécie humana – reflexo natural da disseminação de uma visão mais lógica e
mais cética na cultura popular – Tomorrowland
é um sopro bem-vindo de caloroso otimismo. Dirigido por Brad Bird, diretor responsável pelos excelentes O
Gigante de Ferro, Os Incríveis, Ratatouille e Missão Impossível: Protocolo Fantasma, o longa-metragem é uma
aventura que segue o manual sem que isso o faça soar previsível ou
repetitivo. Pelo contrário, através de personagens carismáticos e uma trama que
se desenrola e se explica aos poucos, consegue manter um magnetismo entre o
espectador e a aconchegante aventura que apresenta. Mais do que isso: em tempos
em que estamos ficando tão bons em perceber a nossa capacidade destrutiva enquanto
espécie, o filme torna-se relevante no ponto que nos instiga a fazer algo a
respeito – principalmente o público mais jovem – e não se acomodar e aceitar as
distopias se formando a nossa volta. E se a mensagem poderia soar ingênua quando
há religiosos brigando por propagandas de perfume na televisão e homens bomba
matando inocentes no Oriente Médio, nas mãos de Bird ela é entregue com uma
simplicidade honesta, e por isso, poderosa, mas jamais pueril.
Quando Casey (Britt Robertson)
encontra um pingente que quando tocado por ela lhe revela um fantástico mundo
utópico, a garota passa a ser perseguida por robôs que querem encontrar a
menina que lhe deu o objeto, Athena (Raffey Cassidy). Juntas, as duas partem para
encontrar Frank (George Clooney), que já esteve de verdade nesse mundo paralelo
e pode levá-las lá também, mesmo contra os esforços de Nix (Hugh Laurie), homem
no comando que teme o que as pessoas “comuns” poderiam fazer a Tomorrowland.
Baseado em uma das mais antigas e
famosas atrações da Disney, que através de animatrônicos mostrava um futuro social
e tecnologicamente ideal, o filme não esconde tratar-se de uma crítica a visão
pessimista do mundo e do nosso futuro, tão difundida atualmente; e se uma
sequência mostra professores em aulas diferentes apresentando cada um em sua
matéria a realidade terrível em que vivemos hoje em dia, Casey não se poupa de levantar
a mão e perguntar: “mas o que podemos fazer para concertar?”. Um reflexo,
claro, da visão do próprio Walt Disney que é exaltada aqui através de um deslumbrante
plano sequência que nos apresenta, junto a protagonista, a tal Tomorrowland.
Que, aliás, é concebida através de ótimos efeitos visuais que tornam
real um design de produção inteligente que aposta não só na esterilidade de um
futuro impecável, como também no show de luzes e cores que insinuam o
espetáculo que não seria viver naquele lugar. O mesmo design que mais tarde
traz a mesma Tomorrowland com pequenas mudanças que a tornam mais sombria e
menos calorosa.
A leveza estabelecida é tamanha
que é possível se horrorizar quando um personagem tem por acidente a perna
esmagada por um escombro. De fato, o longa-metragem de Bird é tão otimista em
sua abordagem que nem mesmo chega a ter propriamente um vilão – e isso não é
ruim – pois contagia tanto com a sua mensagem que quando Nix finalmente entra
em cena, torcemos para que suas motivações sejam racionais e não artificialmente maléficas, e
embora repreensível em sua atitude temerária, é impossível dizer que o
antagonista está errado naquilo que embasa a suas decisões covardes: “vocês tem
ao mesmo tempo uma epidemia de fome e de obesidade”. E seu discurso de “vilão”,
que normalmente serviria para explicar um plano maligno, é substituído por um
desabafo honesto e compreensível em relação ao comodismo do ser humano, o que
faz de Hugh Laurie a escolha perfeita para vivê-lo com sua persona melancólica
e desistente que estabeleceu com oito temporadas de House.
Um contraponto interessante que
encontra na figura da Casey de Britt Robertson, que dá os ares de Jennifer
Lawrence e mostra igual talento e energia, construindo uma química admirável
com aquela que é o ponto alto do elenco, a jovem Raffey Cassidy, que incorpora
os modos calculados de Athena sem que isso jamais a faça parecer irritante ou
antipática. O que só melhora quando a dupla passa a ser um trio encabeçado por
George Clooney e seu tipo rabugento, que vez ou outra ainda demonstra um velho
olhar encantado proveniente do garoto curioso e proativo que era, como na
fantástica cena que se passa na Torre Eiffel – divertidíssima pelo absurdo que
apresenta.
Voltando a explorar temas
recorrentes em sua filmografia – que certamente o fizeram ser o cineasta ideal
para conduzir o projeto – tais como a relação entre homem e máquina e a capacidade
de realização dos sonhadores, além de comprovar mais uma vez seu talento para cenas de ação empolgantes – ainda mais se com uma trilha de Michael Giacchino
embalando-as -, Brad Bird entrega aqui um filme que se destaca por ousar
incentivar, veja só, a construção de um futuro melhor do que aquele que podemos
prever hoje. Que torna-se ainda mais importante por ser voltado a um público
mais jovem e com a mente ainda em desenvolvimento, embora não exclusivamente a
eles, funcionando perfeitamente também com os mesmos adultos rabugentos que
olharão torto para essa aventura leve e colorida, mas inegavelmente eficaz em
transmitir aquela centelha de humanidade que as atrocidades com as quais somos
bombardeados todos os dias talvez tenham nos feito esquecer. Afinal, de que
adianta tanta evolução e conhecimento se nos acomodarmos e aceitarmos os mesmos resultados que teríamos se ainda estivéssemos na Idade Média?
NOTA: 9/10
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