Se Meu Malvado Favorito funcionava regularmente era porque tinha a seu
dispor pequenas figurinhas amarelas cuja graça estava baseada em gags puramente
audiovisuais - trapalhadas, expressões e linguagem
única. Ao concentrar mais sua trama nos ajudantes de Gru (Steve Carell), Meu Malvado Favorito 2 decaía ainda mais justamente por desentender que os pequenos seres eram alívio cômico e, portanto, eficientes em
segundo plano, mas não como estrelas principais. O que nos leva ao seu filme solo, Minions, em que eventualmente algumas
piadas funcionam, só que nenhuma delas tem a ver diretamente com os minions. Ao contrário do recente e divertido
Os Pinguins de Madagascar que partia
de uma premissa e situação parecidas, os carismáticos coadjuvantes provam que,
como protagonistas, são apenas amarelos.
Não que Minions seja uma má ideia, e é perfeitamente possível rir
compulsivamente de gags do tipo que exercem quando essas estão embasadas com algum
conteúdo. Basta assistir, por exemplo, Divertida
Mente que deve estar passando na sala ao lado, e vai perceber que existe
ali muita graça retirada das expressões faciais, corporais e vocais dos
personagens, que de outra forma levam muito mais facilmente ao riso porque
estão trabalhando a favor de um contexto, e não o contrário. Este, na verdade,
é o grande problema por trás dos criadores da franquia de Gru e seus ajudantes,
eles pensam que a piada pela piada é engraçada sozinha. Não, podemos rir da
primeira vez que vemos um minion ser transformado em um bastão de luz química,
mas porque isso acontece em meio a uma ação. Quando a gag pela gag vira o palco
da trama, perguntamos onde diabos foi parar a ação, que parece existir apenas
para justificar que Kevin, Bob e Stuart resmunguem coisas ininteligíveis que
perdem a graça conforme o recurso é repetido milhares de vezes durante a
longuíssima uma hora e meia de duração do seu filme.
Centro nulo de humor, o que
acaba funcionando mesmo são os arredores do trio principal, isso quando Pierre
Conffin, diretor aqui e também responsável pelos dois longas anteriores, se
inspira minimamente: investindo vez ou outra na piada do chá que todos na
Inglaterra parecem tomar mesmo em meio a situações absurdas; ao comparar
sutilmente a evolução do minions com a passagem do 2D para a animação 3D; e
também ao inserir um letreiro na tela que ao anunciar “Torre de Londres”,
completa alguns segundos depois como que zombando da obviedade da própria
informação: “em Londres”. Mas são momentos pontuais que embora possam gerar
alguns bufos – quase risadas – não salvam o projeto de se tornar enfadonhamente
entediante toda vez em que voltamos a acompanhar os pequenos seres amarelos,
que, aliás, funcionam melhor como piada quando são um grupo maciço, do que em
menores números. Basta perceber que os primeiros minutos de filme são
eficientes enquanto acompanham a evolução do bando de minions, e dariam, na
verdade, um bom curta-metragem – embora a narração inserida seja totalmente
dispensável, infantilizando algo que já busca o humor de forma pueril.
De qualquer forma, Minions
fracassa porque Coffin é egocêntrico demais e se inspira no próprio
trabalho – que para ele deve parecer genial – como se fosse algum pioneiro na
ideia. Se tivesse visto alguns filmes de Chaplin ou Buster Keaton, talvez
tivesse descoberto que com um mínimo de conteúdo qualquer piada de peido faz
rir mais do que só a piada em si. Aliás, Scarlett Overkill, a aborrecida e previsível vilã do projeto que é dublada por
Sandra Bullock na versão original, ganha a voz de Adriana Esteves em português,
seguindo a terrível tendência dos estúdios de colocar atores para realizar o
trabalho de dubladores profissionais, o que arruína um pouco mais a experiência
para a maioria esmagadora dos espectadores brasileiros que provavelmente só
terão acesso às cópias dubladas.
NOTA 4/10
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