Iniciada de maneira independente,
a franquia Atividade Paranormal em seus dois primeiros longas-metragens
era um exemplo de economia e sustos elaborados, que exigiam trabalho e inteligência. E se no primeiro filme podíamos entreouvir uma discussão do casal
protagonista enquanto a câmera repousava em um balcão, apontada para a parede,
no segundo acompanhávamos diversas visitas aos ambientes da casa que servia de
cenário, conhecendo a sua rotina noturna, só para daí sim, serem incluídos os
elementos estranhos que a essa altura, por menores que fossem, já estaríamos
aptos a reconhecer, nos arrepiando através do nosso próprio raciocínio, sem que
isso soasse uma intenção artificial dos realizadores.
domingo, 25 de outubro de 2015
sábado, 24 de outubro de 2015
PONTE DOS ESPIÕES
Steven Spielberg
está voltando. Agora, o que isso significa?
Spielberg sempre foi
um cineasta extremamente emocional. Não por acaso acabou sendo mitificado -
porque nem "eternizado" sintetiza suficientemente bem o peso que o
seu nome passou a carregar com os anos - justamente por conseguir criar sentimentos,
personagens e momentos tão intensos e marcantes que, a cada filme que fazia,
parecia nascer um novo clássico – e de fato, alguns nasceram. Seu grande apelo
sentimental, fosse para evocar a tensão, a empolgação, a tristeza, a comoção ou
o riso, sempre lhe foi intrínseco, e prova disso é o insucesso narrativo de A.I.: Inteligência Artificial, que se por um lado funcionava na racionalidade de
Stanley Kubrick (que concebeu o projeto logo antes de falecer), cedia a
tentação do diretor de E.T. - O
Extra Terrestre e A Lista de Schindler ao não conseguir evitar um adendo final de cunho
afetivo, que praticamente arruinou todo aquele projeto. A verdade é que
Spielberg é incapaz de ser pragmático ou racional como cineasta, o que não é
algo ruim, o problema é que o realizador pouco a pouco deixou que suas tendências
emotivas, antes poderosas propulsoras de obras memoráveis, tornarem-se
descontroladas, abusivas e intrusivas, e o diretor que antes era referência em
como fazer cinema, passou a ser o cara que dirigiu o enfadonho Cavalo de Guerra e o mediano Lincoln, sem controle algum do
tom ou do andamento de seus filmes.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
GOOSEBUMPS: MONSTROS E ARREPIOS
Baseando-se em filmes como Jumanji e Zathura, esse Goosebumps volta a tratar de um objeto
com mitologia própria que, investigado por crianças curiosas, acabam libertando
de dentro dele seus personagens fantasiosos. E ainda que funcione menos do que
os seus outros dois conterrâneos de gênero, o longa estrelado por Jack Black é
carismático e divertido o suficiente para justificar a própria existência.
domingo, 18 de outubro de 2015
A COLINA ESCARLATE
Em certo momento de A Colina
Escarlate, a jovem protagonista leva seu
romance recém escrito para ser avaliado por um editor, recebendo como resposta um cético comentário sobre uma mulher estar escrevendo histórias de fantasmas. Incomodada, ela responde: “não é
uma história de fantasmas, é uma história com fantasmas”. Ou seja, o cineasta Guillermo del Toro está dizendo que seu novo filme não veio para dar sustos, esperar isso é projetar uma expectativa
injusta sobre o longa-metragem e também desentender completamente sobre o
que ele se trata. Experiente em criar contos de horror e fantasia, del Toro sempre mostrou-se hábil construindo a atmosfera dessas narrativas, — não para culminar apenas nos sustos, mas sempre em catarses. Basta lembrar de sua filmografia, especialmente de títulos como O Labirinto do Fauno e A Espinha
do Diabo.
O longa já começa impactante: numa nevasca, a nossa heroína surge acariciando o vento
com a mão ensanguentada. O realizador, porém, só vai nos permitir conhecer o
contraplano deste take nos minutos finais da projeção, criando assim também
uma rima elegante que já denuncia suas intenções de, antes de tudo, contar uma trajetória focada nos personagens, e não apenas em sustos gratuitos. É assim que
somos apresentados à Edith (Mia Wasikowska), imaginativa escritora que refuta a ideia de se tornar a próxima Jane Austen. Ela gosta é das histórias sombrias, o que mais tarde vai justificar sua pró-atividade nos eventos da trama. Entretanto, a princípio surpreende que ela acaba se envolvendo justamente num romance mais aos modos de Orgulho e Preconceito. Ao conhecer o educado e culto Thomas Sharpe
(Tom Hiddleston), ela resolve casar-se sem perder tempo, mudando para a
Inglaterra com marido. Lá, o casal recém-formado vai morar com a introspectiva irmã de Thomas, Lucille
(Jessica Chastain). Onde? Na aterradora Crimson Peak, a mansão herdada pelos irmãos e apelidada assim pelos vizinhos porque foi construída sobre um solo fértil em
argila vermelha, que em certos períodos do ano emerge da terra deixando todo
o terreno com uma terrível cor de sangue.
E se há um grande trunfo inegável no projeto, é
esta estranha e elegante besta concebida pelo belíssimo design de produção.
Imaginada como um ser vivo, a mansão exibe preciosismo de detalhes
apavorante, refletindo o cuidado que essa área sempre
recebeu de del Toro em todos os seus projetos. Com papeis de parede que remetem
a molduras vazias, marcos de madeira repletos de ameaçadores espigões e corredores
de padrões repetitivos que soam eles mesmos como alusões aos ecos de um passado
sombrio, a Crimson Peak é um cenário perfeitamente amedrontador, o que torna ainda mais acertada a
decisão de não usar os fantasmas como única fonte de ameaça. E é curioso
perceber como a argila sangrenta parece cada vez mais presente nos cenários
conforme os verdadeiros algozes revelam suas intenções, não só emergindo do solo, mas também escorrendo pelas paredes e pingando do teto, até o ponto de praticamente banhar
todo o clímax.
Encabeçado com delicadeza e força por
Mia Wasikowska, que é vestida com cores alegres e texturas estriadas repletas
de babadinhos que remetem a sua personalidade bondosa, o elenco ainda traz Tom
Hiddleston e Jessica Chastain numa dinâmica instigante por si só — e quanto mais
descobrimos sobre os dois, mais fascinantes e complexos os personagens se
tornam. Primeiro unificados pelas roupas, sempre de cores escuras e em tecidos
pesados, aos poucos o departamento de figurino trata de diferenciá-los. Personagens que poderiam ser tratados como clichês, na verdade escondem uma natureza dissimulada e
doentia. E nesse ponto é
preciso aplaudir Tom Hiddleston, que consegue tirar carisma de um personagem que
qualquer outro ator não hesitaria em transformar numa grotesca caricatura.
Dono de uma carga dramática invejável, o intérprete carrega no olhar e na dicção uma vulnerabilidade que facilmente fragiliza o seu Thomas Sharpe, conseguindo inspirar tanto o medo e a repulsa, quanto o carinho e a torcida do público — e essa é a parte impressionante de seu trabalho.
Já Jessica Chastain, uma das atrizes recentemente
surgidas de que mais gosto, esconde sob seus modos apáticos uma obsessão
contida — trabalhando a tristeza e a frieza da
personagem, que certamente reprimiu seus sentimentos por anos, e deixando-os explodir eventualmente na forma de raiva e fúria. O que serve de comentário sobre a opressão sexista imposta a ela sobre o controle dos bens da família. E se o trio
principal brilha, é uma pena que sobre tão pouco espaço para antigos
colaboradores de del Toro, e particularmente senti falta
de maior presença de Charlie Hunnam, que surge para fazer pouco — ainda que seu momento de brilho simbolize a impotência do mais educado dos homens contra o
monstro criados por eles mesmos quando tentaram ditar um lugar ao qual as mulheres deveriam se
reservar. Sobrando então para Burn Gorman e Jim Beaver criarem interessantes
figuras que, com pouquíssimo tempo de tela, se fazem indispensáveis; um como o investigador Holly, e o outro como o pai de Edith, Carter Cushing – uma referência carinhosa a Peter Cushing, famoso por seus filmes de horror.
Logo, A Colina Escarlate se apresenta como outro projeto
de Guillermo del Toro que usa o horror como comentário de sua época. Se em O
Labirinto do Fauno tínhamos a perseguição aos rebeldes da Guerra Civil na
Espanha, evento que por sua vez era o plano de fundo de A Espinha do Diabo, aqui o
cineasta prefere tratar de um tema mais atual e discutir a força da mulher, forjadas heroínas ou vilãos por ambientes hostis cheios de homens
com boas e más intenções. E se não por isso, ao menos o longa serve como um conto de horror e fantasia que PRECISA ser reconhecido nas principais premiações por seus
quesitos visuais.
NOTA: 8/10
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
A TRAVESSIA
Dono de uma filmografia eclética, Robert Zemeckis talvez não
seja um nome que as pessoas lembrem de imediato. Porém, puxe um assunto sobre a
trilogia De Volta Para o Futuro,
comente sobre as formas sensuais de Jessica Rabbit em Uma Cilada Para Roger Rabbit, grite “Corra, Forrest, Corra!” como
Jane faz em Forrest Gump, ou mesmo
nomeie uma bola ou um amigo imaginário de Wilson, homenageando Náufrago, e vai perceber o quanto os
filmes do cineasta estão enraizados na cultura popular.
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