quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CRÍTICA: SLENDER MAN - PESADELO SEM ROSTO



O mito do Slender Man foi um dos virais mais famosos da internet na década passada. A lenda urbana fala de um espírito maligno representado por um homem magro, alto e sem rosto que, recorrentemente, está associado à abdução de jovens. O personagem se tornou um meme de horror e gerou uma porção absurda de montagens fotográficas, de vídeos falsos, jogos e, agora, esse longa-metragem chatíssimo. E embora o filme colecione uma lista caprichosa de problemas, o pior deles é bem simples: o projeto confunde criar atmosfera com enrolação.


A trama acompanha algumas adolescentes quando, certa noite, resolvem invocar de brincadeira o tal Slender Man, assistindo a um vídeo na internet - algo no estilo O Chamado. Porém, uma delas, Katie (Annalise Basso), começa a se comportar de forma estranha e, uma semana depois, some misteriosamente sem deixar rastro. É aí que Hallie (Julia Goldani Telles), Wren (Joey King) e Chloe (Jaz Sinclair) passam a se preocupar de verdade, tentando então achar um modo de persuadir a entidade para que devolva sua amiga.

É um roteiro simples, o que não quer dizer que só por isso Pesadelo sem Rosto estivesse fadado à mediocridade. Premissas enxutas podem ser tranquilamente compensadas por narrativas, estéticas e estilos mais robustos. E pra ser justo, o diretor Sylvain White faz um esforço honesto e até bem eficiente nesse sentido. A começar pelo modo como sugere que o Slender Man pode surgir a qualquer instante através da fotografia escura que, constantemente, produz planos com diversos pontos de breu total, contrastados com uma iluminação e posicionamento de personagens pensados para valorizar as silhuetas e sombras. Além disso, White quase sempre opta por planos fechados e de baixa profundidade de campo que desfocam o que está atrás dos personagens, criando tensão no espectador a partir da ideia de que qualquer mancha mais escura ao fundo pode ser o vilão esperando para atacar.

O diretor também consegue conceber alguns planos interessantes de um ponto de vista estético, como aquele que mostra Hallie totalmente imersa no escuro de seu quarto, mas iluminada alternadamente em azul e vermelho por causa das sirenes de uma viatura do lado de fora. Além disso, um corte evoca ambiguidade quando, depois de estabelecer que a presença do Slender Man é anunciada por três badaladas, insere o efeito sonoro de sinos tocando três vezes durante um plano geral da cidade, em que se vê com destaque uma igreja. Aliás, a montagem também consegue estabelecer bem o desamparo das protagonistas ao apostar em um ritmo fluído quando adultos estão envolvidos, fazendo cortes rápidos e cobrindo tudo com o desenho de som, como se a presença de autoridades na trama fosse algo onírico.

Claro que, em dada altura da história, começa a soar absurdo que os pais dessas garotas se façam tão ausentes assim, a ponto de as meninas andarem pela floresta e irem visitar umas às outras durante a madrugada sem ninguém questionar nada. Não que alguém precisasse, pois o projeto falha em inspirar medo por aquelas figuras. Não só o roteiro cria falas pouco naturais e até ridículas, como a própria concepção do Slender Man desmistifica sua ameaça e reduz o horror que ele poderia produzir - tudo bem que ele tem uma natureza digital, mas aí o troço faz VÍDEO CHAMADA!? Outro exemplo, se o filme sugere que o espírito não tem rosto porque nunca ninguém conseguiu ver sua face, o que instiga uma curiosidade e arrepio sobre a verdadeira feição da criatura, algumas cenas depois isso é jogado pra cima quando descobrimos que o bicho, de fato, não tem rosto algum.

Outra coisa que não ajuda é o monstro se fazer tão presente o tempo todo e em qualquer lugar, banalizando o impulso de torcer por suas vítimas, já que aparentemente não há situação ou local que impeça o vilão de fazer as abduções. Sem esse sentimento de urgência, as longas sequências de imersão concebidas por Sylvain White acabam soando apenas aborrecidas. Há uma em particular, que se passa num hospital durante um devaneio de Hallie, que parece um interlúdio ou mesmo um curta independente do resto da narrativa. É um instante bem realizado? Sem dúvidas, mas disperso e estéreo.

Sem tensão ou surpresas, Slender Man: Pesadelo sem Rosto acaba perdendo algumas das principais ferramentas que um exemplar de horror tem a seu dispor. A falha é tão grande que, na verdade, pode ser calculada: mesmo com uma montagem ágil e repleta de cortes rápidos de imagens no mínimo curiosas, os comedidos 93 minutos de duração soam inchados, visual e sonoramente poluídos demais.



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