segunda-feira, 10 de setembro de 2018

CRÍTICA: A FREIRA



A Freira não é bem o filme de terror que pretendia ser, tem sustos de menos em comparação com a quantidade de vezes que tenta sobressaltar o espectador. Por outro lado, é um filme que sem dúvidas consegue criar uma atmosfera opressora na qual insere personagens de carisma inegável. Aliás, se tem algo que é uma constante na “franquia” iniciada por James Wan em 2013 com Invocação do Mal, e que até agora já gerou uma continuação deste e mais Anabelle e Anabelle 2, são protagonistas que contam não apenas com a torcida da audiência, mas com o seu carinho também.



Uma característica estabelecida por Wan, com certeza, já que ela é forte tanto nos dois Invocação do Mal, como na outra franquia de horror de sua autoria, Sobrenatural. Essa aura de filme família contrasta quando dentro de um formato em que o espectador já espera por mortes violentas e outras coisas aterrorizantes, aumentando a tensão e a torcida. É diferente, por exemplo, da esterilidade emocional perseguida por filmes como o excepcional Hereditário - um tom que é mais comum no cinema de terror contemporâneo, e que traz consigo uma proposta diferente e que não é o caso de A Freira.


Aqui a noviça Irene (Taissa Farmiga, sim, irmã caçula da Vera Farmiga, protagonista dos dois Invocação do Mal) já é apresentada contrariando as normas da sua madre superiora para divertir algumas crianças, logo antes de ser chamada pelo padre Burke (Demián Bichir) para investigar o estranho suicídio de uma freira num castelo/convento no interior da Romênia. Para cumprir tal tarefa, os dois devem contar com a ajuda de um guia local, o mulherengo Frenchie (Jonas Bloquet), que desenvolve um apego cômico com certo objeto de madeira em determinado instante. Ou seja, A Freira se esforça para que seus personagens soem divertidos e carismáticos, são figuras leves que não parecem pertencer a um mundo onde a imagem de um rosto devorado por corvos é ponto alto da narrativa.


E no que diz respeito à atmosfera, Wan sempre procurou se aproximar mais de um cinema da Hollywood oitentista, mais otimista quanto às pessoas e, claro, um pouco mais brega no estilo. O diretor Corin Hardy segue bem a cartilha da série. Aliás, no que tange especificamente a direção, Hardy se aproxima bastante do trabalho de Wan. Não só o realizador sabe criar planos esteticamente chamativos, como consegue construir momentos arrepiantes sem apelar para os quase obrigatórios jump scares - que sim, existem aos montes aqui. E muito disso vem de um olhar inteligente que ele lança sobre os cenários inventivos do filme - a alta qualidade e o detalhismo do desenho de produção já virou uma marca forte da franquia. Se o filme peca é mais pelo roteiro, concebido pelo mesmo Gary Dauberman que também escreveu tropegamente os dois Anabelle.


Ao evitar o rosto de demais personagens, por exemplo, Hardy constrói eficientemente a sensação de desamparo enfrentada pelos personagens, aumentando nosso medo por eles, já que não parece haver ninguém que possa socorrê-los. Em especial o tratamento que ele dá às freiras que habitam o convento onde se passa boa parte da trama, acaba acentuando o arrepio de certas revelações feitas sobre aquele lugar mais tarde.


Inclusive, fico me perguntando se Dauberman queria ter feito, na verdade, um filme sobre o Drácula. Pois as referências à lenda são vastas, especialmente nos aspectos imortalizados pelo livro de Bram Stoker; Como já revelado em Invocação do Mal 2, o nome do demônio que assume a forma da freira é Valak, tal qual a Valáquia que costumava denominar o território da Transilvânia; O cenário principal é um castelo no meio da Romênia em que um antigo lorde costumava sangrar suas vítimas até a morte; Alguns cadáveres voltam à vida durante a trama (visualmente remetendo ao A Morte do Demônio, o que seria uma referência igualmente interessante) e, além disso, o sangue e crucifixos são partes importantes da estratégia dos heróis contra os vilões. Talvez seja uma releitura? Não sei, mas achei interessante perceber essas “inspirações” do filme.


Longe de se equiparar aos filmes dirigidos por Wan, entretanto, A Freira é mais um spin-off inconsequente da franquia. Se não acrescenta nada a ela, tampouco faz algo para enfraquecê-la. É uma diversão honesta de pouco mais de uma hora e meia que, ao menos nos quesitos técnicos e no que diz respeito aos protagonistas, é atrativa o suficiente para se justificar.


Nota: 7/10
  

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