domingo, 11 de novembro de 2018

CRÍTICA: OPERAÇÃO OVERLORD



O melhor aqui é a mistura. Operação Overlord não tem medo de se aventurar em gêneros diferentes e consagrados do Cinema, com todos os seus maneirismos. Entretanto, se em outras obras isso quase sempre é sinal de que o filme não sabe o que quer ser, aqui essa congregação de estilos é harmônica. O melhor seria, claro, se o espectador entrasse no cinema desavisado sobre o que vai assistir. Porém, em tempos de internet e redes sociais, tal feito é um problema, especialmente porque o marketing do projeto não se preocupou nem um pouco em esconder suas “reviravoltas”. Acho que é o tipo de filme que, ao estilo de Um Drink no Inferno, se beneficiaria da surpresa se fosse vendido apenas como algo que aparenta ser.



Para quem fugiu dessas propagandas e trailers, basta dizer que o roteiro lida com um grupo de soldados paraquedistas na madrugada antes do Dia D na Segunda Guerra Mundial, data na qual os aliados invadiram as praias da Normandia, tomadas por nazistas. A missão desse grupo é simples: derrubar uma torre de rádio alemã e assim evitar que o ataque nas praias seja denunciado para o resto das tropas inimigas. Entretanto, uma vez no pequeno vilarejo francês onde os nazistas fizeram sua pequena, mas fortificada base militar, o grupo encontra um novo obstáculo inesperado.


E aqui entra o orquestramento bem feito da narrativa: a tensão típica dos filmes de guerra é aproveitada com sucesso para inserir a atmosfera e até as imagens aterradoras comuns dos títulos de horror. Isso torna a transição de um foco da trama para outro mais natural. Aliás, é benéfico também que o roteiro de Billy Ray e Mark L. Smith jamais abandone os objetivos estabelecidos numa parte ou em outra do projeto. O que seria mais fácil, pois, ao mudar o objetivo dos protagonistas, mudar o tom da narrativa também seria menos trabalhoso. Porém, o diretor Julius Avery e seus roteiristas preferem, ao invés de abandonar os conflitos a cada nova "reviravolta", deixar que os problemas sejam acumulados pelos heróis. Isso não só torna o encadeamento das narrativas mais concreto, como também coopera na escalada de tensão.


Ainda sem querer revelar muito, basta dizer que a justificativa para unir os dois gêneros fica no campo da ficção-científica, e, novamente, ao invés de causar estranheza nas misturas, o projeto adota elementos que eram típicos desse gênero na época em que o filme se passa, a década de 1940. Aliás, já serve como aviso do tom irreverente que a narrativa vai assumir quando o título surge em letras garrafais que remetem às filmagens documentais de guerra feitas nas batalhas da Europa. Também ajuda que o roteiro comece in media res, ou seja, no meio da ação, não só para forçar uma conexão entre o espectador e os protagonistas (o ponto problemático da produção, que discuto a seguir), mas principalmente para que o público não tenha muita noção com que tipo de filme está realmente lidando - aliás, a estrutura do longa recorrentemente remete aos seriados de horror e ficção-científica da década de 1950, no estilo Além da Imaginação e A Quinta Dimensão.


E se tudo isso acima é interessante o suficiente para manter os olhos na tela, não é graças à galeria de fracos personagens que nos guia através dessa aventura. Se Jovan Adepo e  Wyatt Russell se esforçam para viver os tipos unidimensionais que são os americanos Boyce e Ford, bem mais cativante é o vilão interpretado por Pilou Asbaek, que mesmo com uma personalidade simples, consegue divertir e causar temor explorando a caricatura de malvadeza que é o seu comandante nazista. Fora isso, é um pouco frustrante perceber que as figuras concebidas pelo roteiro não passam de meros arquétipos com a função de levar a trama do ponto A ao ponto B, e apenas isso.


E se me permitem alguns spoilers para finalizar esse texto… Operação Overlord acaba superando esses deslizes justamente porque constrói muito bem aquilo que interessa: o absurdo. Quanto mais avança e mais investe tempo no núcleo dos super-soldados, mais o filme firma terreno para explorar a violência gráfica explícita e, a partir daí, os seus mais inventivos desdobramentos - todos auxiliados por uma maquiagem e efeitos visuais excelentes, diga-se. É, talvez a luta final entre dois personagens antagônicos pudesse ser um pouco mais criativa do que focar apenas nos dois se jogando de um lado para o outro, sem dúvidas, mas o filme compensa esse tropeço também logo em seguida com um plano sequência muito bem realizado e tenso. O resultado final é uma grata surpresa, mesmo que a surpresa seja estragada pela divulgação, o que no fim, denuncia ainda mais o sucesso das ferramentas narrativas empregadas pelo longa-metragem, já que nem mesmo os spoilers conseguem arruinar a experiência que propõe ao espectador.


Nota: 8/10


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