Um contador na tela nos informa que o filme já inicia no segundo dia da epidemia, enquanto acompanhamos Gwyneth Paltrow começar a disseminação do vírus. A partir daí acompanhamos as tramas de Mitch (Matt Damon), o único que parece ser imune a doença, com a filha a quem tenta proteger da infecção, do Dr. Ellis (Laurence Fishburne) que junto com a Dra. Erin (Kate Winslet) e a Dra. Leonora (Marion Cotillard) trabalha para achar o marco zero da epidemia enquanto planejam o desenvolvimento de uma vacina e a organização da população desesperada, e por fim, de Alan (Jude Law), um blogueiro sensacionalista disposto a desacreditar os planos e anúncios do governo a todo custo, mesmo que este custo seja sua própria saúde.
Enquanto acompanha o pavor e o caos crescentes na sociedade, Soderbergh sabe conduzir seu filme com um ritmo impecável, nos dando aos poucos aquilo que queremos, auxiliado pela montagem eficiente (só durante esta primeira metade do filme) de Stephen Mirrione e sempre deixando claro os termos científicos através dos diálogos rápidos e inteligentes do roteiro de Scott Z. Burns. Porém ao fazer a transição do caos para a solução, nenhum dos envolvidos é feliz. O roteiro de Burns (ou seria culpa da montagem de Mirrione?) simplesmente some com a personagem de Cotillard em meio ao filme, trazendo-a de volta mais tarde só para dar-lhe um fim estranho e nada explicado. E o final simplesmente caí para uma solução óbvia, tornando toda a segunda metade do filme, na verdade, uma longa finalização, [SPOILER] já que ela se entrega a contar a resolução dos conflitos com a chegada da vacina e dar os finais felizes a quem merece [FIM DO SPOILER], perdendo assim, uma chance de se tronar mais impactante. E não que o filme não tente, sua inteligente sequência final quase chega ser o bastante para compensar a monotonia que toma todo o terceiro ato.
Assim, o filme acaba sustentando os arcos de seus personagens até o fim graças ao carisma que a maioria de seus atores tem para com o público. O que acaba não exigindo muito mais dos mesmos, que se deixam levar por seus papéis sem investir em grandes trabalhos dramáticos. É verdade que nem o roteiro e nem a montagem dão margem para tanto, mas é que estamos acostumados a ver estes atores, em especial Cotillard, a dar seu melhor até mesmo nos menores papéis. Assim, o único que realmente se destaca é Jude Law, que entrega um Alan estranho e cheio de sotaque, radicalmente diferente do tipo galã que o ator normalmente encarna. Agora, o que realmente me soa errôneo é o fato de o filme usá-lo para atacar os meios de comunicação, culpando-os pelo pânico geral. Até ai tudo bem, porém, o longa dá especial atenção (se não toda) a internet, retratando-a com o uma inimiga da população por distorcer a verdade, enquanto outros veículos recebem o mérito de divulgar a solução do problema.
E sim, o problema do vírus! Muito bem retratado por Soderbergh, o tom doentio do filme é principalmente mérito da fotografia que é assinada pelo próprio diretor. Investindo em uma iluminação praticamente baseada em Tungstênio ou fluorescentes esverdeadas, o realizador consegue dar ao seu filme um clima febril e úmido (o brilho de suor em quase todos os personagens seja no frio ou no calor é realmente inquietante), deixando o espectador sentir a asfixia que o pânico gera nos personagens que está acompanhando, e neste sentido, Soderbergh mostra novamente que sabe usar das cores de sua fotografia para ambientar o público também. E se imagem é importante, não é preciso dizer o quanto o som também é. E assim a trilha paranóica em tons repetitivos e crescentes de Cliff Martinez completa o bolo.
Irretocável em sua primeira metade, este novo filme do famoso diretor de Traffic, traz um clima tenso e cativante durante quase toda sua duração graças ao próprio Soderbergh e seu elenco, já que se dependesse da fraca resolução do roteiro, com certeza cairia em esquecimento.
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