Dono de um humor sujo, preconceituoso, antissemita e
óbvio, Ted é em muitos sentidos reprovável e altamente antiqua... AH QUEM SE IMPORTA?! É um ursinho de pelúcia
que FALA!! E tudo que ele disser será muito engraçado!
John (Mark Wahlberg) quando criança não tinha
amigos. Ao ganhar um Teddy Bear como presente de natal dos pais o garoto deseja que o brinquedo de
pelúcia ganhe vida e torne-se seu melhor amigo. E sem muito mais explicações
Ted acorda na manhã seguinte como um brinquedo vivo, que primeiramente causando
choque na família, logo conquista o coração do país ao virar uma estrela
nacional. Mas como diz o locutor inicial (Patrick Stewart) em uma ótima sacada,
não interessa se você é um Corey Feldman ou um Justin Bieber, depois de um
tempo de fama, estão todos se lixando.
Dublado pelo diretor do longa, Seth MacFarlane, Ted
se mostra o típico personagem desbocado, irresponsável, machista e cheio de
vícios, tais quais fumar erva, beber muito e caçar mulheres por onde vá.
Crescidos sob os ensinamentos da cultura da década de oitenta e noventa, John e
Ted assumem diversas referências ao longo do filme em suas tiradas,
moralizações ou simples diálogos. Na verdade é quase impossível que se passem
mais de cinco minutos sem que um dos dois largue uma piada do gênero, apostando
até na auto-sátira em certo momento quando Ted diz: "Hey, vocês não acham
que eu tenho a voz igualzinha a do Peter Griffin?" (MacFarlane é também o
dublador do personagem na série animada de sua autoria Family Guy). Assim, não se surpreenda ao ver no meio do longa surgir a figura
velha (mas bem conservada) de Sam J. Jones, o Flash Gordon, brincando e fazendo
piada com a própria persona, assim como Ryan Reynolds, Tom Skerritt e Nora
Jones em outros momentos.
Aliás, pra quem acompanha ou sequer já viu algum dos
episódios de Family Guy (no Brasil, Uma Família da Pesada), perceberá que a
estrutura adotada por MacFarlane na animação é transposta aqui para o
"mundo" live action. Há as pontas de
famosos e a exploração de piadas sobre suas personalidades públicas como já
citado, há os flashbacks nonsense que são basicamente cortes rápidos para algum momento esquisito citado
por um personagem, gerando humor ao ilustrar o acontecimento e explorar a super
explanação do que se passou, e por último, claro, o humor típico do seriado,
que não teme em investir no politicamente incorreto. Ponto do diretor que
conseguiu aplicar de forma funcional uma fórmula bem sucedida nos episódios
individuais de vinte minutos em um filme de quase duas horas.
Vivido com o carisma habitual por Wahlberg, John tem
sua maior força na irresistível química que cria com Ted, aliás, a
dinâmica entre os dois lembra muito a da dupla de protagonistas da série Wilfred (recomendada),
tendo ainda mais créditos do que a série televisiva em sua execução pelo fato
de o urso ser fruto de pura computação gráfica, na série o cão é interpretado
por Jason Gann em uma roupa peluda. Efeitos estes da melhor qualidade, diga-se
de passagem, pois nunca duvidamos da veracidade do personagem, seja em suas
interações físicas com o cenário e personagens ou em sua capacidade de
expressar emoções com suas enormes sobrancelhas muito bem sacadas pela equipe
de design. E embora represente o ponto fraco da trama (sua personagem tem uma
função óbvia, e por isso aborrecida) Mila Kunis, que é também uma das
dubladoras em Family Guy, ao menos entrega
uma Lori carismática, mostrando sua veia cômica cada vez mais latente
desde Amizade Colorida, criando também uma ótima química com Wahlberg e Ted.
Embora se mantendo em uma zona de segurança na sua
direção, MacFarlane consegue entregar um longa que adotando uma linguagem
inventiva e dinâmica prende seu espectador, que pode até perder uma referência
ou outra, mas ainda assim vai encontrar no longa inúmeros motivos para dar
algumas gargalhadas, vide a impagável cena de strip-tease protagonizada pelo
urso do título ou a performance esquisitóide de Giovanni Ribisi. Assim, esqueça
seus preconceitos com piadas sujas e aquele humor tipicamente machista, afinal
é um ursinho de pelúcia, como não adorar?
NOTA: 9/10
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