quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TED


     Dono de um humor sujo, preconceituoso, antissemita e óbvio, Ted é em muitos sentidos reprovável e altamente antiqua... AH QUEM SE IMPORTA?! É um ursinho de pelúcia que FALA!! E tudo que ele disser será muito engraçado!



     John (Mark Wahlberg) quando criança não tinha amigos. Ao ganhar um Teddy Bear como presente de natal dos pais o garoto deseja que o brinquedo de pelúcia ganhe vida e   torne-se seu melhor amigo. E sem muito mais explicações Ted acorda na manhã seguinte como um brinquedo vivo, que primeiramente causando choque na família, logo conquista o coração do país ao virar uma estrela nacional. Mas como diz o locutor inicial (Patrick Stewart) em uma ótima sacada, não interessa se você é um Corey Feldman ou um Justin Bieber, depois de um tempo de fama, estão todos se lixando.


     Dublado pelo diretor do longa, Seth MacFarlane, Ted se mostra o típico personagem desbocado, irresponsável, machista e cheio de vícios, tais quais fumar erva, beber muito e caçar mulheres por onde vá. Crescidos sob os ensinamentos da cultura da década de oitenta e noventa, John e Ted assumem diversas referências ao longo do filme em suas tiradas, moralizações ou simples diálogos. Na verdade é quase impossível que se passem mais de cinco minutos sem que um dos dois largue uma piada do gênero, apostando até na auto-sátira em certo momento quando Ted diz: "Hey, vocês não acham que eu tenho a voz igualzinha a do Peter Griffin?" (MacFarlane é também o dublador do personagem na série animada de sua autoria Family Guy). Assim, não se surpreenda ao ver no meio do longa surgir a figura velha (mas bem conservada) de Sam J. Jones, o Flash Gordon, brincando e fazendo piada com a própria persona, assim como Ryan Reynolds, Tom Skerritt e Nora Jones em outros momentos. 


     Aliás, pra quem acompanha ou sequer já viu algum dos episódios de Family Guy (no Brasil, Uma Família da Pesada), perceberá que a estrutura adotada por MacFarlane na animação é transposta aqui para o "mundo" live action. Há as pontas de famosos e a exploração de piadas sobre suas personalidades públicas como já citado, há os flashbacks nonsense que são basicamente cortes rápidos para algum momento esquisito citado por um personagem, gerando humor ao ilustrar o acontecimento e explorar a super explanação do que se passou, e por último, claro, o humor típico do seriado, que não teme em investir no politicamente incorreto. Ponto do diretor que conseguiu aplicar de forma funcional uma fórmula bem sucedida nos episódios individuais de vinte minutos em um filme de quase duas horas.


     Vivido com o carisma habitual por Wahlberg, John tem sua maior força na irresistível química que cria com Ted, aliás, a dinâmica entre os dois lembra muito a da dupla de protagonistas da série Wilfred (recomendada), tendo ainda mais créditos do que a série televisiva em sua execução pelo fato de o urso ser fruto de pura computação gráfica, na série o cão é interpretado por Jason Gann em uma roupa peluda. Efeitos estes da melhor qualidade, diga-se de passagem, pois nunca duvidamos da veracidade do personagem, seja em suas interações físicas com o cenário e personagens ou em sua capacidade de expressar emoções com suas enormes sobrancelhas muito bem sacadas pela equipe de design. E embora represente o ponto fraco da trama (sua personagem tem uma função óbvia, e por isso aborrecida) Mila Kunis, que é também uma das dubladoras em Family Guy, ao menos entrega uma Lori carismática, mostrando sua veia cômica cada vez mais latente desde Amizade Colorida, criando também uma ótima química com Wahlberg e Ted.


     Embora se mantendo em uma zona de segurança na sua direção, MacFarlane consegue entregar um longa que adotando uma linguagem inventiva e dinâmica prende seu espectador, que pode até perder uma referência ou outra, mas ainda assim vai encontrar no longa inúmeros motivos para dar algumas gargalhadas, vide a impagável cena de strip-tease protagonizada pelo urso do título ou a performance esquisitóide de Giovanni Ribisi. Assim, esqueça seus preconceitos com piadas sujas e aquele humor tipicamente machista, afinal é um ursinho de pelúcia, como não adorar?

NOTA: 9/10    
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário