terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O LADO BOM DA VIDA




     A esperança infantil devia ser engarrafada, envelhecida e bebida por aqueles que possuem os velhos corações maltratados por desapontamentos proporcionados pelo passar dos anos. Sua expectativa é nada menos que o melhor das pessoas, sua ansiedade é a mesma para qualquer coisa que se tenha para esperar, e por fim, sua decepção é sempre uma queda brutal, não importa em relação ao que seja. Digo isso, pois, é como uma criança esperançosa que Bradley Cooper resolve trabalhar o seu Pat neste filme, ainda que, infelizmente, as soluções e a narrativa do mesmo sejam tão infantis quanto as reações de seu protagonista.



     Recém saído de uma internação psiquiátrica e morando com seu pais (Robert De Niro e Jacki Weaver), Pat (Cooper) está decidido a reaver sua esposa, para isso ele investe seu tempo perdendo peso, lendo as obras com que ela trabalha no colégio no qual dá aulas, e cumprindo suas visitas ao psicólogo. Quando acaba então conhecendo Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva tão imprudente e deslocada quanto ele mesmo, com quem, óbvio, começará a se relacionar num nível mais íntimo.


     No bom e no mau sentido, "infantil" parece ser a palavra certa para se falar de O Lado Bom da Vida. O roteiro, escrito pelo próprio diretor David O. Russel baseado no livro de Matthew Quick, apresenta Pat como um ser basicamente guiado por uma hiperatividade inocente, que assim como um garoto viciado em quadrinhos da Marvel, usa o jargão "excelsior!" como argumento em suas discussões. Que se enche do mesmo tipo de esperança que uma criança demonstra ao esperar pelo Papai Noel ou o Coelho da Páscoa, ao manter no dedo a aliança de casamento, ainda que este há muito tenha se desfeito. Auxiliado então,
 por um Bradley Cooper competente, que através de uma fala rápida, porém, de dicção confusa, acaba implicando em uma ansiedade incontida que o personagem constantemente deixa transbordar principalmente quando confrontado com assuntos mais "adultos", somando-se a isso, o ator investe nas mãos, que nervosas, esfregam-se ao mesmo tempo em que entrelaçam e puxam os dedos, algo que O. Russel faz questão de enquadrar em determinado momento. Pat é, sem dúvida alguma, um homem infantilmente inocente, basta notar sua reação ao descobrir que certo livro não possuía na verdade um final feliz, ou mesmo a falta de compreensão na reação calma e nos olhos arregalados e confusos que Cooper emprega num momento onde o protagonista é confrontado por uma multidão enfurecida.


     Porém, infelizmente, "infantil" pode-se aplicar também aos arcos dramáticos de Pat e Tiffany. Desde a exposição do incidente que levou a internação do primeiro em um hospital psiquiátrico, que surge artificial e tola, até o inevitável final feliz são conduzidos de maneira pedestre e óbvia. E é quase ofensivo que o diretor/ roteirista tente criar suspense em cima de uma carta entregue a Pat, sendo que o autor já ficará claro desde o início. E ainda que o texto possua certos momentos inspirados, particularmente a conversa sobre remédios antidepressivos durante um jantar me soou gostosa de acompanhar, estes são apagados por outros onde O. Russel tenta emplacar uma tensão que nunca existiu, como a escolha amorosa do protagonista, que conduzida de forma batida, assim como a origem da carta antes nunca fora um mistério.


     Ao menos, o realizador se saí um exemplar diretor de atores, que se ao lado de Cooper faz um trabalho adorável de se assistir e estudar, com De Niro e Weaver constrói uma dupla que simplesmente não teria o mesmo impacto caso seus personagens agissem individualmente. Os dois atores empregam uma fala nervosa e seca, que composta basicamente de perguntas em sucessão, estabelecem os pais de Pat como seres tão infantis quanto o filho, sempre querendo saber cada aspecto de cada resposta que o rapaz tem a dar, o casal de idosos parece nunca comemorar ou lamentar qualquer decisão má ou boa deste. Como se esperassem sempre pelo pior vindo do filho, ficando apenas decepcionados quando esse é o caso e se mostrando apreensivos quando não o é. O fato é que a dupla não funcionaria separada, e parte da alma do longa encontra-se em sua relação com Pat e nas interações entre seus respectivos intérpretes.


     Jennifer Lawrence, por outro lado, é incrivelmente desperdiçada por uma personagem rasa e aborrecida, que não se abstém de ser o tipo bitch mal humorada, porém, boazinha. E o que a atriz entrega com seu talento habitual é exatamente esta Tiffany "vida loka". Não que Lawrence fracasse em suas investidas como atriz, pelo contrário, ela faz o possível para tornar a viúva uma personagem interessante, sem que para isso tenha de apelar para sua beleza natural, mas o roteiro simplesmente nunca chega a criar esta figura cativante pela qual procurávamos. A atriz é a favorita ao Oscar deste ano, seria uma pena se vencesse por um papel tão medíocre.


     Raso, tolo e até que interessante, principalmente quando se concentra no núcleo familiar de Pat, O Lado Bom da Vida com certeza não deveria constar na lista de indicados a melhor filme do ano, pois não fosse o esforço de seus atores em dar vida aquelas figuras, o filme provavelmente seria imediatamente esquecido. De fato, já não me lembro de muita coisa.



NOTA: 6/10


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