sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O CONSELHEIRO DO CRIME



     Projeto um tanto quanto discreto de Ridley Scott após ter lançado o blockbuster Prometheus no ano passado, este O Conselheiro do Crime marca a estreia como roteirista no cinema do escritor Cormac McCarthy, cujos livros já se transformaram em filmes como o excepcional Onde os Fracos não tem Vez e o ótimo A Estrada. O que torna ainda mais decepcionante constatar o resultado final do trabalho em conjunto destas figuras, um longa que, embora conte com um elenco em performances inspiradas, apresenta um grave problema de ritmo e condução, ao mesmo tempo em que deixa em tela apenas o fantasma de uma estrutura narrativa interessante.

     Prestes a investir no tráfico de drogas (?), o advogado chamado apenas de o Conselheiro (Michael Fassbender) busca concluir seus negócios ilegais, sem saber que enquanto isso, Malkina (Cameron Diaz), namorada de seu amigo e parceiro Reiner (Javier Bardem), planeja um esquema para roubar um dos carregamentos e assim colocar o dois na mira do Cartel. A "vilã", aliás, se mostra um dos maiores tropeços do filme, que tenta nos vender a personagem como uma mente criminosa brilhante enquanto a trata e retrata sempre como uma figura fútil. Isso em grande parte se deve também a persona de Cameron Diaz, e não estou dizendo que a atriz entrega aqui um trabalho genérico, pelo contrário, seu estado constante de bom humor e seus gestos afáveis e sensuais denotam com eficiência a natureza dúbia de Malkina, porém, estes mesmos aspectos impedem que seja atribuída a ela qualquer ameaça ou mesmo inteligência digna do plano executado na trama. Seria o caso de escalar uma atriz que transmitisse mais experiência e sabedoria também.

     Enquanto isso, os diálogos escritos por McCarthy parecem se perder em devaneios que se estendem por longos minutos em tela, o que surpreendentemente é o maior acerto do longa, quando se permite então desvendar os tipos excêntricos e cativantes que povoam sua trama. Eu destacaria dois momentos particularmente imersivos: aquele em que Reiner conta ao Conselheiro sobre uma ação depravada de Malkina, e outro onde o advogado é aconselhado pelo celular (em uma divertida e trágica ironia) sobre aceitar a sua morte iminente. Fassbender, aliás, mostra-se outra vez muito interessante como protagonista, e sua performance a princípio segura logo dá lugar a uma angustiada, e toda a profundidade e complexidade do personagem deve-se quase que inteiramente ao ator, que em certo momento faz brotar lágrimas durante uma conversa, denotando o pânico interno do Conselheiro de maneira discreta. Já Bardem tem aqui um tipo menos interessante daqueles que está acostumado a viver, assim, deixando para Brd Pitt se destacar como coadjuvante, que interpreta o cowboy Westray de forma divertida e descompromissada.

     Tudo isso embalado pela condução indecisa de Scott, que tenta até mesmo emular o trabalho de Steven Soderbergh em Traffic ao investir em palhetas de cores amareladas nas cenas do deserto, em contraste com as azuladas em ambientes mais "executivos", principalmente aqueles por onde passa o personagem de Fassbender. Nesse meio tempo a montagem de seu habitual colaborador, Pietro Scalia, jamais é bem sucedida em achar um ritmo para a trama, e entre um bom diálogo e outro tenta preencher às pressas as lacunas com todas as subtramas ligadas ao plot principal, e me pergunto se todas as pontas de atores que surgem em tela tinham antes participações maiores (no melhor estilo Terrence Malick), ou se eram planejadas as inserções insípidas de figuras como Bruno Ganz, John Leguizamo e Dean Norris (ironicamente vivendo um traficante de drogas). Enfim, ao término deste O Conselheiro do Crime, Malkina diz: "Estou faminta!". Nada muito diferente do que eu estava pensando ao sair pela porta do cinema enquanto os créditos subiam atrás de mim.


NOTA: 4/10 




   

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