Uma câmera de mão inquieta, mostrando um homem
desorientado, que abre este A Busca, reflete perfeitamente a
desestabilização daquele pai sem esperanças de achar seu filho fugido. Em
contrapartida, em uma bela contra rima, uma câmera estável em um quadro bem
formado, que mostra três homens que representam três gerações de uma família
enfim se conciliando, serve de fechamento para o mesmo filme. E embora possua
um tropeço que outro em sua jornada, o longa é eficaz em nos levar do seu ponto
inicial até seu fim idealizando o humano dentro de cada ser presente em sua
narrativa. E sem nunca deixar sua trama parar, prioriza a introspecção de cada
uma destas figuras, ainda que se concentre louvavelmente na bela interpretação
de Wagner Moura.
Theo (Wagner Moura) separou-se de Branca
(Mariana Lima), e juntos eles enfrentam a rebeldia do filho Pedro (Brás
Antunes) que recusa-se a cumprir o planejamento de vida que os pais lhe
fizeram. Certo dia, o menino, alegando ir passar o final de semana na casa de
uma amigo, foge. É quando o casal começa uma busca pelo garoto, mas não tarda
para que Theo veja-se sozinho na estrada atrás de seu filho, passando pelas
mais distintas paisagens e figuras em sua jornada.
O boné de um barqueiro que passa pelo caminho
de Theo tem escrito nele "New Zeland", remetendo diretamente o espectador
ao intercâmbio para aquele país planejado pelo protagonista para seu filho,
tornando-se um elemento discreto (e justamente por isso divertido de ser
notado) que se percebido, fazia entender o porque do garoto interessar-se em
pegar aquele barco, e se não o fosse, em nada atrapalharia a experiência
proporcionada pelo longa. Mas ao abandonar a discrição e fazer os personagens
falarem sobre isso, o diretor e roteirista Luciano Moura também torna a
descoberta feita pelo espectador menos especial e até frustrante. É um tropeço
pequeno, ínfimo, mas que demonstra a falta de segurança do diretor quanto a sua
trama, que se por um lado é enquadrada com um bom controle da linguagem
cinematográfica, por outro se perde em furos de roteiro e ao enfatizar
elementos como este mesmo do boné.
Por exemplo, o diretor é eficiente ao
introduzir o trio familiar em um ambiente frio e escuro, iluminado por uma luz
solar rala (a direção de fotografia do sempre ótimo Adrian Teijido, discuto
adiante) aonde reserva um enquadramento para cada personagem, ressaltando assim
a distância e o isolamento de cada dentro daquele núcleo de pessoas. Porém,
após desenvolver com cuidado a esposa Branca, esquece-a em um canto do roteiro
ligada no piloto automático, quando lhe concede apenas o direito de repetir
exaustivamente pelo celular "Acha ele pra mim" para o marido. Em
outro momento, os realizadores colocam Pedro para vestir uma camiseta onde está
escrito "Na dúvida, desista", que não só soa como um elemento
repetitivo em comparação com o boné que surge mais tarde na trama, como também
serve como um tapa na cara do público lembrando "Esse é o menino que
foge". Isso quando a trama não exige uma dose de boa
vontade de seu espectador, tentando empurrar a cena em que o menino adota um
cavalo ilegalmente, ou o fato de que, após 48 horas desaparecido, nem Theo e
nem Branca pensem em chamar a polícia ou qualquer um que seja para ajudar.
Mas tropeços a parte, Luciano Moura demonstra
ter total controle de sua linguagem, e dos enquadramentos fechados e de baixíssima profundidade de campo que denotam
a angústia de Theo, que assim como nós não consegue ver muito além de onde ele
mesmo está, até aqueles que iniciam e fecham o filme (que citei no início do
texto), todo o longa é conduzido com elegância e cuidado plástico precioso,
afinal, Adrian Teijido, de Capitu, A Pera do Reino, Antônia (o
filme) e O Palhaço é o responsável pela direção de fotografia,
e novamente entrega um trabalho exemplar. Se em O Palhaço, por exemplo, o fotógrafo investia numa palheta que
cobria o filme num tom de sépia, que remetia a catinga e ao sertão onde o filme
se passava, aqui, as cores frias e luzes solares matinais pintam o planos do
longa com maestria, transmitindo com eficiência a solidão e o desespero de
Theo.
Já por parte de seu elenco, A Busca se
mantém equilibrado. Enquanto Mariana Lima se mostra durante boa parte do longa
limitada pelo roteiro e o garoto Brás Antunes cumpra bem, mas sem destaque,
suas poucas cenas, é Wagner Moura quem acertadamente se destaca, investindo num
Theo imperativo e racional, que aos poucos se entrega a uma jornada espontânea
e emocional. Contracenando otimamente, aliás, em uma ponta, com Lima Duarte, umas
das muitas figuras que o pai encontra em seu caminho. E já que toquei nos
personagens, outro acerto do longa reside nestas estranhas personas com quem Theo divide algumas cenas. Do idoso cardíaco a quem ele pede um celular
emprestado, passando pela menina hippie e uma matriarca de uma família muito pobre ("o Beto é o Beto" diz ela em uma constatação óbvia e não mesnos genial) até o homem solitário e silencioso que
o ajuda após ser atropelado, o personagem cruza-se com inúmeras figuras que, por
possuírem claramente passados e rotinas interessantes, nunca soam como atrasos
na trama para alongá-la, e sim como complementos interessantes deste pequeno
e estranho universo criado pelo filme e desbravado por seu protagonista.
NOTA: 8/10
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