O Mágico de Oz,
de 1939, era um filme inocente, ingênuo e bobo... E, portanto, servia
perfeitamente a um público que nos últimos trinta anos havia enfrentado uma
Guerra Mundial e uma severa depressão financeira em seu país, e que nos anos
seguintes sofreriam um dos piores atentados de sua História em Pearl Harbor, o
que os levariam a entrar em outra grande guerra. Décadas estas que não
afetaram apenas aos Estados Unidos e tiveram repercussão mundial, fazendo de
filmes como este e o próprio E
o Vento Levou (do mesmo ano),
exemplares cinematográficos escapistas adorados por espectadores alvejados
constantemente com desventuras de escala mundial. A superação de problemas
impossíveis, o renascimento de famílias das cinzas da pobreza e uma heroína
disposta a buscar o "caminho de volta para casa" (claro, estamos
falando de uma época pré-feminismo, então sempre teremos um bom canastrão para
dar aquela ajudinha no final...) eram temas que serviam a necessidade de uma
geração inteira, e por isso, seu sucesso é mais do que justificado. Hoje, em
tempos de relativa paz, Oz:
Mágico e Poderoso surge como
pouco mais do que um divertido entretenimento, que respeitando e homenageando o
seu antecessor (com incríveis 74 anos de diferença), serve apenas a si mesmo,
tratando de contar, sem ousar ou distorcer, o prelúdio da famosa terra de Oz
antes da chegada de Dorothy.
Oz (James Franco) é um
mágico caloteiro de um circo itinerante. Um dia, fugindo de uma briga, sobe em
um balão de ar-quente e é sugado por um tornado, que o leva magicamente para
uma terra encantada, cheia de bruxas, animais selvagens, pessoas de porcelana e
macacos voadores. Coroado rei da Cidade de Esmeraldas pelas irmãs bruxas
Evanora (Rachel Weisz) e Theodora (Mila Kunis), Oz tem a missão de destruir
Glinda (Michelle Williams), uma bruxa má dona de um exército de babuínos
voadores que ameaça aquelas terras. Assim, junto com Finley (Zach Braff) e a
menina de porcelana (Joey King), o mágico farsante embarca em uma jornada para
destruir a varinha da vilã.
Não é surpresa alguma
que o principal atrativo de Oz seja o seu visual repleto de efeitos
digitais, ainda que o macaco Finley vez ou outra represente um tropeço na
qualidade dos mesmos. E embora nunca alcance a identidade visual que Alice no País das Maravilhas esbanja
(a versão de Tim Burton) ou mesmo o preciosismo técnico e criativo de Avatar, o mundo também feito em
CGI aqui é convincente, colorido, sombrio e também inventivo. Plantas que
formam uma orquestra, uma geografia impossível, uma cidade inteiramente feita
de objetos de porcelana, um cemitério expressionista, fadas da água e trepadeiras
coloridas são alguns dos destaques da composição de cena e design de produção
do longa, que ainda conta com uma versão estonteante e totalmente revitalizada
da Cidade de Esmeraldas. Junto com isso, os belos figurinos enchem os
diversificados habitantes de lá com cores básicas e saturadas, vestindo também
com elegância notável Mila Kunis, Michelle Williams e principalmente Rachel
Weisz, que surge belíssima em tons escuros de verde como Evanora.
Aliás, descobrir como
os elementos irão se ajustar como os conhecemos em O Mágico de Oz é um dos maiores divertimentos que o
roteiro proporciona ao seu espectador. Assim, descobrir a origem da Bruxa má do
Oeste e de sua estranha aparência, da fumaça holográfica de Oz e até mesmo do
balão visto ao final do longa de 1939 torna-se uma busca que certas vezes se
sobrepõe a própria trama. E mesmo quando não está preparando o terreno para o
longa original, Oz constantemente se preocupa em fazer
pequenas homenagens, como os cavalos coloridos que passam discretamente ao
fundo de um plano, os espantalhos usados em uma cilada e um leão envolvido em
uma pequena situação.
Mas a melhor e a mais
inteligente referência que o longa concebe, é quando o diretor Sam Raimi (cuja
sempre notável direção passa quase despercebida aqui) resolve iniciar seu longa
num preto e branco puxado para um sépia e numa razão de aspecto quadrada que
remetem diretamente ao clássico. E se lá em 39, a passagem de Dorothy de dentro
da casa destruída e monocromática para dentro de um jardim belo e colorido
fazia a transição entre os dois mundos de maneira criativa e eficaz, aqui,
Raimi escolhe além de colorir sua palheta fotográfica, mudar sutilmente sua
razão de aspecto para um formato Wide enquanto a câmera abandona o tornado que
trouxe Oz e resolve acompanhar sua entrada naquela terra encantada. E tantas
referências devem ser reconhecidas, tendo em vista que os direitos autorias do
longa de 39 não se encontram nas mãos da Disney, e que a produtora somente pode
permear a estética de seu original. Portanto, os sapatinhos de rubi por
exemplo, não puderam ser incluídos, tendo em vista que foram uma criação do longa anterior.
Uma pena, então, é ver
o diretor Sam Raimi contido, se dando ao luxo de empregar um ou dois zooms
rápidos em planos oblíquos para poder dizer que foi mesmo ele quem assumiu o
controle da câmera, quase nunca criando algo memorável, inspirado ou que
relembre seu estilo saído dos filmes de horror tipo B que tanto marcaram ótimos
exemplares como A Morte do
Demônio, Arrasta-me Para o
Inferno e até mesmo sua
passagem pela trilogia Homem-Aranha.
Um plano sequência, auxiliado por toneladas de efeitos digitais, em que
acompanhamos a chegada de Oz a um lago "musical", é o momento em que a
direção mais chama a atenção, e mesmo assim, em nada remete a qualquer coisa
que o diretor já tenha feito antes. E como o comando dos atores também nunca
foi uma marca de Raimi, aqui o elenco faz o que sabe fazer, assim enquanto
Franco claramente diverte-se no papel de Oz, Michelle Williams se contenta em
empregar uma áurea etérea a Glinda, tornando a figura da boa bruxa mais em um
ponto tedioso em tela do que realmente em uma alma bondosa. Já Mila Kunis,
entregue ao overacting, se encaixa perfeitamente no universo absurdo
apresentado pelo longa, fazendo uma dupla equilibrada com Rachel Weisz que
prefere construir Evanora com uma maldade calma e indiferente, que claro, tem
seus estouros de raiva, mas que sempre se preocupa em manter certa fragilidade
na compostura da personagem (o que também a torna a persona mais interessante da trama).
É claro que este Oz: Mágico e Poderoso não alcançará a importância do
clássico de mais de setenta anos de idade, mas serve, sem ousar ou se
comprometer, como uma bela lembrança de que aquele longa existe e ainda pode ser revisitado nos dias de hoje com o devido olhar contextual.
NOTA: 8/10
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