Durante o passar deste Oblivion,
vemos referências e homenagens a muitos clássicos da ficção científica e
fantástica, de 2001- Uma Odisseia
no Espaço, passando por King
Kong e Blade Runner. E mesmo que sua
trama e linguagem não cheguem a fazer jus a estas obras intocáveis que
menciona, ao menos é um filme que, divertido e belo ao seu próprio modo, se
mostra também humilde ao nunca tentar se colocar acima de qualquer um destes
clássicos. Assim, eficiente e cativante, Oblivion,
diferente dos filmes que cita, talvez não fique na memória, mas com certeza não
é um filme para se cair no esquecimento (Tá, esse "trocadalho" poucos
entenderão...).
Num futuro pós apocalíptico, onde a Terra foi
palco de uma guerra entre humanos e seres chamados de saqueadores, Jack (Tom
Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) vivem solitários no nosso planeta em
uma torre muito acima das nuvens, de onde fazem a manutenção dos Drones,
máquinas de guerra que cuidam do perímetro de enormes instalações que sugam a
água dos oceanos para gerar energia nuclear. Assim eles vencem dia após dia
esperando a oportunidade de serem despachados de volta para a colônia humana na
lua Titã. Irreverente, não é raro Jack se desvencilhar de sua rotina para
apreciar as paisagens que o cercam ou abrigar-se numa cabana que construiu a beira de um lago, onde guarda objetos que encontra em suas
buscas. Até que um dia, uma nave desconhecida cai do espaço trazendo consigo
Julia (Olga Kurylenko), uma moça que povoa os sonhos de Jack. Intrigado, ele
trai as diretrizes de sua missão para salvá-la, quando então descobre que nem
tudo o que aconteceu naquele lugar era o que haviam lhe contado.
Uma das coisas que mais incomodam no roteiro
escrito por Joseph Kosinski, a partir da graphic
novel também de sua autoria, é o excesso de exposições que a narrativa
oferece ao seu espectador. Se normalmente já são reprováveis cenas e diálogos
puramente explicativos, aqui é decepcionante que eles existam
desnecessariamente, já que eliminando boa parte destas sequências voltadas
apenas para a ilustração dos acontecimentos, o filme continuaria perfeitamente
compreensível. Isto acaba deixando transparecer certa imaturidade e falta de
segurança do, também diretor, Kosinski. Assim, ainda que a princípio o discurso
em off de Jack ao início do longa sirva para estabelecer os acontecimentos
passados, com o desenrolar dos fatos ele se torna dispensável, já que
tudo que é dito naquele momento é mostrado de alguma maneira mais sutil,
integrada e inteligente posteriormente. Por exemplo, relata-se neste prólogo o
comportamento regrado e profissional de Victoria, coisa que com poucos minutos
de filme já fica claro na postura e na execução metódica de suas tarefas que a
atriz Andrea Riseborough emprega ao interpretá-la. Do mesmo modo, desde a
destruição da Lua, até rotina rigorosa do casal e sua espera pelo retorno a colônia humana, são fatos que muitas vezes servem de motivação para os
personagens, tornando ainda mais desnecessário o uso de sequências expositivas
sobre eles.
Mas mesmo que fossem inexistentes estas
exposições, o roteiro ainda sofreria de uma pequena falta de ousadia ao nunca
assumir um tom específico. E embora beire constantemente uma visão negativa, o
filme nunca assume de fato este rumo, preferindo sempre manter seus
protagonistas sob uma redoma de segurança que anestesia o seu espectador. De
fato, nunca tememos por Jack ou Julia, e não porque não nos importamos com
eles, e sim porque qualquer inimigo ou obstáculo não parece oferecer maior
perigo a estas figuras do que oferece a nós sentados na poltrona. E ainda que estes
adversários façam render boas e divertidas cenas de ação, como a da perseguição
dos Drones em um desfiladeiro de gelo, que Kosinski filma com ritmo, empregando
movimentos de câmera graciosos e estudados que nunca confundem quem está aonde,
é inegável que elas estejam lá apenas para um motivo: Movimentar a narrativa.
Já o design de produção é incrível, que
misturando ruínas e formações geológicas acaba criando paisagens devastadoras,
mas que ao mesmo tempo evocam uma beleza natural estonteante que justifica o
carinho que Jack nutre pelo planeta. Aliás, tecnicamente não há o que se
reclamar de Oblivion,
ainda que a ótima trilha sonora assemelhe-se bastante a de Tron: O legado (filme anterior do diretor Joseph
Kosinski) composta pela dupla Daft Punk. A fotografia de Claudio Miranda (que
venceu o Oscar nesta categoria este ano por As
Aventuras de Pi, injustamente, diga-se de passagem) baseia-se em uma
palheta um pouco dessaturada, que valoriza os tons de branco e cinza. Aliás,
esse resultado é provido graças a uma colaboração do departamento com o a direção
de arte, que cria a torre sobre as nuvens em conceitos fantásticos e ambientes
cleans. A piscina aérea é tão assustadora quanto deslumbrante, e em dado
momento, a estrutura de um prédio, retorcida e enterrada na areia, remete
diretamente a uma ossada de um grande animal que ali morreu, o que não deixa de
ser uma bela sacada da concepção de cenários.
Lugares que o Jack de Tom Cruise explora com a
introspecção necessária, mas com a energia habitual do ator empregada. Enquanto
quem se destaca é Riseborough, que toca com sua obstinação com o regulamento,
tendo em vista suas motivações de libertação. Interpretando uma Victoria
precisa, severa e ao mesmo tempo temerosa e ciumenta, a atriz cria uma
personagem cativante o suficiente para entendermos o drama de Jack ao deixá-la
quando encontra uma segunda chance de salvá-la. E mesmo que em menor escala,
Melissa Leo e Morgan Freeman marcam presença memorável, a primeira amedronta
com sua suspeitamente afável Sally, a intermediária entre a dupla e a colônia,
enquanto o segundo surge como um líder revolucionário convincente, com Freeman
sempre interpretando a voz da razão.
E conforme o filme chega a seu desfecho, uma
certa quebra de ritmo assume o controle da narrativa, um erro que a montagem
recupera a tempo de criar um clímax empolgante e satisfatório, em uma cena
repleta de referências a 2001:
Uma Odisseia no Espaço, seja no olho vermelho do vilão que obviamente
remete a Hall-9000, ou num ser humano boiando dentro de uma redoma de vidro
iluminado e movimentando-se identicamente ao bebê espacial de Kubrick. Assim,
Oblivion acaba com um saldo positivo, mostrando-se um filme que sim, poderia
ser melhor, mas que ao menos consegue manter a trama que quer contar, ainda que
esta seja povoada por uma constante sensação de inércia pontuada casualmente
por arroubos épico dramáticos, coerentes com a condução do diretor de Tron: O Legado.
NOTA: 7/10
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