sexta-feira, 12 de abril de 2013

OBLIVION



     Durante o passar deste Oblivion, vemos referências e homenagens a muitos clássicos da ficção científica e fantástica, de 2001- Uma Odisseia no Espaço, passando por King Kong e Blade Runner. E mesmo que sua trama e linguagem não cheguem a fazer jus a estas obras intocáveis que menciona, ao menos é um filme que, divertido e belo ao seu próprio modo, se mostra também humilde ao nunca tentar se colocar acima de qualquer um destes clássicos. Assim, eficiente e cativante, Oblivion, diferente dos filmes que cita, talvez não fique na memória, mas com certeza não é um filme para se cair no esquecimento (Tá, esse "trocadalho" poucos entenderão...).


     Num futuro pós apocalíptico, onde a Terra foi palco de uma guerra entre humanos e seres chamados de saqueadores, Jack (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) vivem solitários no nosso planeta em uma torre muito acima das nuvens, de onde fazem a manutenção dos Drones, máquinas de guerra que cuidam do perímetro de enormes instalações que sugam a água dos oceanos para gerar energia nuclear. Assim eles vencem dia após dia esperando a oportunidade de serem despachados de volta para a colônia humana na lua Titã. Irreverente, não é raro Jack se desvencilhar de sua rotina para apreciar as paisagens que o cercam ou abrigar-se numa cabana que construiu a beira de um lago, onde guarda objetos que encontra em suas buscas. Até que um dia, uma nave desconhecida cai do espaço trazendo consigo Julia (Olga Kurylenko), uma moça que povoa os sonhos de Jack. Intrigado, ele trai as diretrizes de sua missão para salvá-la, quando então descobre que nem tudo o que aconteceu naquele lugar era o que haviam lhe contado.


     Uma das coisas que mais incomodam no roteiro escrito por Joseph Kosinski, a partir da graphic novel também de sua autoria, é o excesso de exposições que a narrativa oferece ao seu espectador. Se normalmente já são reprováveis cenas e diálogos puramente explicativos, aqui é decepcionante que eles existam desnecessariamente, já que eliminando boa parte destas sequências voltadas apenas para a ilustração dos acontecimentos, o filme continuaria perfeitamente compreensível. Isto acaba deixando transparecer certa imaturidade e falta de segurança do, também diretor, Kosinski. Assim, ainda que a princípio o discurso em off de Jack ao início do longa sirva para estabelecer os acontecimentos passados, com o desenrolar dos fatos ele se torna dispensável, já que tudo que é dito naquele momento é mostrado de alguma maneira mais sutil, integrada e inteligente posteriormente. Por exemplo, relata-se neste prólogo o comportamento regrado e profissional de Victoria, coisa que com poucos minutos de filme já fica claro na postura e na execução metódica de suas tarefas que a atriz Andrea Riseborough emprega ao interpretá-la. Do mesmo modo, desde a destruição da Lua, até rotina rigorosa do casal e sua espera pelo retorno a colônia humana, são fatos que muitas vezes servem de motivação para os personagens, tornando ainda mais desnecessário o uso de sequências expositivas sobre eles.


     Mas mesmo que fossem inexistentes estas exposições, o roteiro ainda sofreria de uma pequena falta de ousadia ao nunca assumir um tom específico. E embora beire constantemente uma visão negativa, o filme nunca assume de fato este rumo, preferindo sempre manter seus protagonistas sob uma redoma de segurança que anestesia o seu espectador. De fato, nunca tememos por Jack ou Julia, e não porque não nos importamos com eles, e sim porque qualquer inimigo ou obstáculo não parece oferecer maior perigo a estas figuras do que oferece a nós sentados na poltrona. E ainda que estes adversários façam render boas e divertidas cenas de ação, como a da perseguição dos Drones em um desfiladeiro de gelo, que Kosinski filma com ritmo, empregando movimentos de câmera graciosos e estudados que nunca confundem quem está aonde, é inegável que elas estejam lá apenas para um motivo: Movimentar a narrativa.


     Já o design de produção é incrível, que misturando ruínas e formações geológicas acaba criando paisagens devastadoras, mas que ao mesmo tempo evocam uma beleza natural estonteante que justifica o carinho que Jack nutre pelo planeta. Aliás, tecnicamente não há o que se reclamar de Oblivion, ainda que a ótima trilha sonora assemelhe-se bastante a de Tron: O legado (filme anterior do diretor Joseph Kosinski) composta pela dupla Daft Punk. A fotografia de Claudio Miranda (que venceu o Oscar nesta categoria este ano por As Aventuras de Pi, injustamente, diga-se de passagem) baseia-se em uma palheta um pouco dessaturada, que valoriza os tons de branco e cinza. Aliás, esse resultado é provido graças a uma colaboração do departamento com o a direção de arte, que cria a torre sobre as nuvens em conceitos fantásticos e ambientes cleans. A piscina aérea é tão assustadora quanto deslumbrante, e em dado momento, a estrutura de um prédio, retorcida e enterrada na areia, remete diretamente a uma ossada de um grande animal que ali morreu, o que não deixa de ser uma bela sacada da concepção de cenários.


     Lugares que o Jack de Tom Cruise explora com a introspecção necessária, mas com a energia habitual do ator empregada. Enquanto quem se destaca é Riseborough, que toca com sua obstinação com o regulamento, tendo em vista suas motivações de libertação. Interpretando uma Victoria precisa, severa e ao mesmo tempo temerosa e ciumenta, a atriz cria uma personagem cativante o suficiente para entendermos o drama de Jack ao deixá-la quando encontra uma segunda chance de salvá-la. E mesmo que em menor escala, Melissa Leo e Morgan Freeman marcam presença memorável, a primeira amedronta com sua suspeitamente afável Sally, a intermediária entre a dupla e a colônia, enquanto o segundo surge como um líder revolucionário convincente, com Freeman sempre interpretando a voz da razão.


     E conforme o filme chega a seu desfecho, uma certa quebra de ritmo assume o controle da narrativa, um erro que a montagem recupera a tempo de criar um clímax empolgante e satisfatório, em uma cena repleta de referências a 2001: Uma Odisseia no Espaço, seja no olho vermelho do vilão que obviamente remete a Hall-9000, ou num ser humano boiando dentro de uma redoma de vidro iluminado e movimentando-se identicamente ao bebê espacial de Kubrick. Assim, Oblivion acaba com um saldo positivo, mostrando-se um filme que sim, poderia ser melhor, mas que ao menos consegue manter a trama que quer contar, ainda que esta seja povoada por uma constante sensação de inércia pontuada casualmente por arroubos épico dramáticos, coerentes com a condução do diretor de Tron: O Legado.


NOTA: 7/10




Nenhum comentário:

Postar um comentário