Em 2008, o então
estreante cineasta Andrés Muschietti lançava um curta de terror chamado Mamá, que você pode (e
na verdade deve) conferir abaixo. Incentivado ($$$) por Guillermo del Toro,
Muschietti voltou ao seu simples e eficiente roteiro, construindo em cima de
seu plano sequência um filme inteiro que o
justificasse. Inclusive, recriando o próprio curta-metragem dentro de seu
longa. O resultado? Mama, agora falado em
inglês, se desprende do terror habitual de filmes paranormais e se adapta a outro
estilo estabelecido pelo seu próprio patrocinador, del Toro. O do terror
fantástico, ou terror de fantasia. Um filme que envolve elementos clássicos do
gênero tradicional, como espíritos, casas mal assombradas e monstros que vivem
na escuridão, mas que por sempre envolverem crianças e um mundo proveniente de
suas mentes, acaba contando com um toque de fantasia dark. Assim são A Espinha do Diabo, O Labirinto do Fauno, Não Tenha Medo do Escuro e O Orfanato, filmes dirigidos ou produzidos por del Toro, vale
ressaltar. E assim como estes filmes, Mama se mostra eficiente em assustar,
ainda que aqui e ali cometa pecadilhos que tragam à tona o riso involuntário,
mas que são perdoáveis graças ao maior acerto do longa e de todos esses outros
citados acima: Humanizar o seu "monstro".
(Dica: Antes de ver o filme ou ler a crítica, assista ao curta-metragem postado abaixo)
Depois de passarem cinco anos abandonadas em uma cabana no
meio da floresta, as irmãs Victoria (Megan Charpentier) e Lilly (Isabelle
Nélisse) são encontradas e adotadas pelo jovem casal formado por Lucas (Nikolaj
Coster-Waldau) e Annabel (Jessica Chastain). Levadas para um novo lar no qual
enfrentam dificuldades de se adaptar, as meninas trazem consigo uma estranha
entidade que apelidaram de "mama". Ciumento e perigoso, o espírito se
mostra apenas para as duas crianças, enlouquecendo de forma gradual Annabel,
que paralelamente tenta desvendar a origem de mama.
Não digo que ao final do filme, você irá torcer por mama, mas é inegável
que mesmo assustadora e deformada, a vilã do longa em questão desperta em dado
momento a simpatia de seu espectador, que não deixará de encará-la como um ser,
no mínimo, bidimensional. O que já seria louvável, tendo em vista que
normalmente filmes do gênero retratam estes personagens como a maldade pura,
cujo objetivo de vida (ou seria de morte?) é estarem sempre prontos para
aparecer em um espelho, sobre o ombro de algum personagem ou num vídeo de
segurança de repente!
Ponto então para o agora estreante diretor de longas, Muschietti, que
concede preciosos momentos de sua narrativa para aprofundar tanto o monstro que
dá nome ao filme, quanto para os protagonistas aterrorizados por ela. E neste
quesito, uma sensível sequência onde Annabel esquenta as diminutas mãos de
Lilly com o calor de um sopro e consequentemente troca um olhar amigável com ela, serve
perfeitamente para estabelecer uma ligação afetiva entre as personagens. Uma relação
materna que quando ameaçada pelo clímax da trama mais tarde, realmente deixa o
espectador tenso.
Há, porém, certa obviedade na criação dos sustos planejados pelo diretor,
que não se poupa de investir em sequências batidas com luzes piscando, com o
som que desce completamente para que venha o susto subsequente, etc. O que
acaba decepcionando tendo em vista a boa e inventiva maneira com que o cineasta
conduziu o curta-metragem original, que aliás, é recriado aqui dentro do longa
quase que identicamente, sendo mais um dos motivos para que assista ao vídeo
antes de sair para o cinema. Em outros momentos o diretor parece simplesmente
se entregar ao gore, e cenas como as que envolvem uma tia chata das meninas sendo
atacada por mama (ou só pela cabeleira dela), não soariam nada desajustadas em
um filme de Sam Raimi, por exemplo.
E se ao começo do longa, Jessica Chastain não convence como uma roqueira
punk, com o desenvolver da trama ela se torna uma personagem pela qual se vale
torcer. Sua Annabel é mais do quê uma rebelde sem causa e sem paciência com
crianças, ela é sensível, cuidadosa, inteligente e obstinada. As garotas também
não fazem feio, e em especial Isabelle Nélisse se sai muito bem como a mais
"selvagem" das irmãs, mostrando os dentes sempre que assustada e
encolhendo-se realmente como um animal acuado. Já a mama em si, que ganha a voz
de Jane Moffat, é construída por uma computação gráfica impecável e por isso
assustadora. O conceito de suas roupas e cabelos que ficam flutuando a esmo é
criativo e chama atenção para sua caracterização, que faz jus ao modo como a
personagem morreu. Mama é um monstro, mas não um inexpressivo, e o clímax do
filme faz questão de deixar a personagem digital agir e expressar-se com
clareza sob a bela fotografia de Antonio Riestra e embalada pela trilha
encantadora de Fernando Velázquez.
Apostando em um desfecho otimista (será? Pelo menos, assim me pareceu) e
de certa forma tocante, Mama concentra sua maior força na
humanização de seus personagens principais, os bons e os maus, ainda que se
perca na hora de causar certos sustos e tão pouco aproveite subtramas que
parece querer explorar (aquela sobre a guarda das crianças é esquecida em meados
do longa). Assim, se não é um longa aplaudível como O Orfanato ou O Labirinto
do Fauno, ao menos é eficiente em apresentar bons personagens.
Pessoalmente, o que houve antes e depois da trama do curta, podia muito bem ter ficado na minha
imaginação.
NOTA: 7/10
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