segunda-feira, 10 de agosto de 2015

43º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO: TERCEIRO DIA


A terceira noite do festival teve duas atrações distintas. A primeira foi a usual exibição de um curta e um longa metragem, e a segunda foi a premiação da Mostra de Curtas Gaúchos.

O primeiro filme apresentado foi o curta de animação Miss & Grubs, um projeto criativo com um rico de design de produção, que insere o espectador com facilidade no seu universo sem falas. Aqui acompanhamos o que parece ser uma ratinha, que vive na sua casinha no meio de uma selva diferente, com criaturas e plantas estranhas e coloridas, com direito a pássaros reptilianos com dois pares de asas no melhor estilo do planeta Pandora de Avatar. Quando então ela é confrontada pelo que seria o Grubs, uma espécie de monstro gigantesco que assemelha-se a uma larva. Apaixonada, Miss tenta transformar Grubs em um ser que possa viver com ela, através de frutos luminosos que ela tanto procura.  

Onírico e maduro, como bem alertaram os diretores Camila Kamimura e Jonas Brandão quando subiram ao palco apresentar o projeto, o curta tem uma mensagem final bem bonitinha e encanta bastante pela ousadia num cenário onde a recepção de animações nacionais já não é muito boa. Concorre na Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros e tem a minha torcida só não tão entusiasmada, porque antes dele prefiro Muro, que foi exibido ontem e que comentei AQUI

O segundo filme exibido foi o longa-metragem O Fim e os Meios, que é bastante desequilibrado. Apresenta várias boas ideias mas tem diversos problemas entre elas. Divido em duas partes, o roteiro - de Murilo Salles, que também assina como diretor - conta a história de Paulo (Pedro Brício) e Cris (Cintia Rosa), um casal recém reatado que se muda pra Brasília quando surgem boas oportunidades de emprego para os dois em suas áreas. Ele é publicitário e vai trabalhar como assessor de marketing no gabinete de um deputado chamado Hugo (Marco Ricca), ela é jornalista e começa se dedicando a escrever uma polêmica matéria sobre a filha de um senador ortodoxo. Os dois começam a se estabelecer bem naquele cenário até que um escândalo de corrupção abala os planos individuais do casal. 

Começando pelo problema mais óbvio: Os Meios, título dado a primeira metade do filme, funciona muito melhor do que a segunda, intitulada O Fim. Progressivamente mais tensa, melhor estruturada e ritmada na montagem, essa parte, porém, perde imediatamente a força quando entra a cartela dividindo o longa e começamos a acompanhar o arrastado desenrolar das denúncias de corrupção envolvendo Paulo. Além disso, o filme joga fora a construção até então coerente de Cris, uma mulher forte, de opiniões incisivas, que subitamente sente-se atraída emocionalmente por um canalha estuprador. Assumindo atitudes irresponsáveis e nada condizentes com a jornalista centrada que nos fora apresentada anteriormente. Seria Salles querendo dizer que a garota se corrompeu? Que enlouqueceu com a atmosfera política de Brasília? Pois se é isso, ele não faz uma boa introdução da ideia e soa apenas incoerente o que faz com a personagem. 

Depois temos quesitos mais técnicos, como a fotografia, que embora seja belíssima e instigante quando pensamos em sequências isoladas, como conjunto sua abordagem é apenas indecisa, como se Salles, com várias boas opções de paletas a disposição, tivesse resolvido usar todas. Aqui, Paulo em cima de um prédio no Rio de Janeiro é de um cinza londrino, nevoento e úmido, ali, o amarelo tungstênio doentio invade os interiores de uma festa, que também é vista com um azul pálido. Depois é o branco estéril e contrastado que cobre Brasília, mas que também invade um jantar e o interior de um carro, que dependendo do momento, pode ser visto com muito contraste ou pouquíssimo. Quero dizer, diferenciar as abordagens fotográficas pra estabelecer um clima, uma mensagem, um simbolismo ou um padrão, são todas alternativas válidas, mas quando não há lógica nesse uso, parece apenas exibicionismo.

Fora isso, quando as falas de um personagem soam cruas demais, você pode dizer que o problema está no ator. Agora quando todos eles soam assim, o problema é da direção e do roteiro. "O que você quer dizer com isso, Cris?" diz Paulo no tom de um modelo de propaganda de cosméticos, e é só um exemplo. Uma pena, porque Pedro Brício e Cintia Rosa saem-se muito bem na maior parte do tempo, principalmente ela e sua intensidade, que mantém mesmo depois que Salles destrói a sua personagem - afinal, alguém tem que ser coerente por aqui né? Outro ponto positivo, só pra não parecer que eu só falei mal do filme, é o design de som, que aposta em sons incomodativos e súbitos, sejam metais agudos ou zunidos que realmente criam tensão onde a direção falha. O Fim e os Meios concorre na Mostra Competitiva de Longas Brasileiros. 


Miss & Grubs - Nota: 8/10
O Fim e os Meios - Nota: 5/10



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