sexta-feira, 19 de julho de 2013

O CAVALEIRO SOLITÁRIO



     É uma pena ver um talento como o de Gore Verbinski, um diretor tão versátil, se perder em meio a um filme que se alonga demais e tenta, em vão, ser complexo, quando justamente devia se dedicar a simplificar sua trama e focar nos interessantes protagonistas. Pois de outro modo, quando tem que empregar preciosos minutos de tela no complicado e desinteressante plano dos vilões, ou em histórias e personagens secundários totalmente descartáveis, é que o filme caí num marasmo que deixa praticamente todo o seu miolo intragável. E ainda que o diretor continue mostrando respeito e domínio sobre o gênero western, com o qual trabalhou com excelência em seu longa anterior, a fantástica animação Rango, aqui nem mesmo sua condução habitualmente adequada salvam a película de se tornar um filme mediano. E digo mediano e não ruim somente porque as sequências de abertura e fechamento acabam fazendo valer o ingresso. Mas quando se gasta mais de 250 milhões de dólares num filme de quase duas horas e meia onde somente o começo e o fim são divertidos, não se pode esperar muito retorno, nem crítico e nem financeiro.


     Chegando como forasteiro em uma terra ainda selvagem, John Reid (Armie Hammer) logo se depara com Tonto (Johnny Depp), um índio em busca de vingança contra o criminoso Butch Cavendish (William Fichtner), o mesmo bandido que acaba fugindo da custódia dos texas rangers. E é quando Reid e seu irmão Dan saem a captura de Butch que uma emboscada acaba colocando Tonto e John juntos, sozinhos no deserto em busca de justiça contra o mesmo algoz. Enquanto isso, Rebecca (Ruth Wilson), a viúva de Dan e também ex-namorada de John (eu não disse que era desnecessariamente complicado?) tenta proteger suas terras de um possível ataque da tribo indígena dos Comanches. Tudo isso orquestrado pelo empresário Cole (Tom Wilkinson), um magnata da indústria de ferrovias que no final só queria roubar um grande montante de prata. Não era mais fácil ele ter ido lá e roubado a prata então? Enfim...


     Quase todos os erros de O Cavaleiro Solitário acabam sendo causados pelo trio de roteiristas, Justin Hayte, Ted Elliott e Terry Rossio, estes dois últimos responsáveis pela divertida trilogia Piratas do Caribe, também dirigida por Verbinski. Tempo precioso de tela é gasto com personagens que poderiam facilmente serem descartados, e por mais que eu goste da atriz Helena Bonham Carter, por exemplo, sua Red jamais joga a trama para frente, desempenhando uma função mais perto do fim que qualquer outro personagem (e qualquer outro ator com um cachê bem menor) poderia realizar sem problemas. Assim como o capitão da guarda interpretado por Barry Pepper, que vive um conflito interno jamais justificado ou desenvolvido. Por outro lado o cineasta sabe aproveitar as boas deixas que o texto lhe dá para criar inventivas cenas de ação, como já é de seu costume. Em Piratas do Caribe: O Baú da Morte, uma improvável luta de espadas dentro de uma roda gigante em movimento, na continuação, No Fim do Mundo, uma tripulação corre de um lado a outro do navio para tentar virá-lo de cabeça para baixo, ainda no mesmo filme dois navios se enfrentam dentro de um redemoinho no meio do oceano, já em Rango, um grupo de toupeiras voando sobre morcegos armados com metralhadoras persegue suas vítimas em um desfiladeiro estreito. O que todas estas cenas tem em comum? Uma criativa mise-en-scène que, através do absurdo dentro de um cenário de ação inusitado, proporciona um puro e satisfatório divertimento. Aqui, a perseguição sobre o teto de um trem no início, e as muitas lutas dentro de uma locomotiva (ou eram duas?) ao final ganham este tom fantasioso que Verbinski já está acostumado a empregar. E devo dizer que é impossível não rir ao ver Tonto escalando uma escada tirada do nada, bem no meio de um duelo entre outros dois personagens.


     E já que o citei, Johnny Depp faz de Tonto mais um de seus excêntricos personagens, ainda que o índio esteja fadado a jamais ficar tão marcado quando qualquer um dos outros que já passaram pelas mãos do ator. Já Armie Hammer mostra ser verdadeiro o timming cômico que desde "A rede Social" (de forma muito mais sutil, é claro) vinha demonstrando, fazendo ótima dupla e química com Depp. Já Tom Wilkinson surge no piloto automático enquanto William Fichtner assume o papel de vilão over acting da produção. Já Ruth Wilson se mostra um vácuo emocional, insossa e truncada, sua performance nos faz detestar ainda mais a personagem já descartável que interpreta.


     Contando ainda com uma trilha de Hans Zimmer que se mostra num padrão abaixo do comum ao só se destacar nos minutos finais do longa, quando então ressuscita de maneira empolgante o tema da série de Tv no qual o filme é baseado, O Cavaleiro Solitário merece também, claro, créditos por seu incrível design de produção, efeitos especiais muito bem colocados e uma maquiagem convincente (vide a versão velha de Tonto), mas afinal, o orçamento tinha que pagar alguma coisa de boa nisso tudo. Uma pena é que nem isso salve o filme de um má impressão no fim das contas. Esperamos apenas que Verbinski não seja tão pretensioso em seu próximo projeto e volte a nos trazer obras tão elogiáveis como seus filmes anteriores.  


NOTA: 5/10


   

Um comentário:

  1. Otima critica, adorei mesmo, bom, vou assistie e ver o que eu achei tambem =D

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