O Vencedor foi um bom filme que, reconhecido na maioria das
premiações ao menos com indicações, deu destaque ao seu diretor, David O.
Russell, que apresentava então uma direção apenas correta, mas não admirável.
Claro, este filme e seu projeto seguinte, O
Lado Bom da Vida, foram frutos da produção dos Weinstein, que pra quem não
conhece, são dois produtores que conhecem muito bem o funcionamento das
premiações e sempre garantem ter um de seus filhotes entre os favoritos; às
vezes são bons filmes que realmente mereciam o reconhecimento (como o próprio O Vencedor), outras vezes são projetos
medianos (como o Lado Bom da Vida), e
outras vezes ainda, são filmes que decididamente não mereciam nem mesmo se
perder tempo escrevendo sobre, quanto mais um Oscar (cof cof, Shakespeare Apaixonado... COF COF!). Dito
isso, Trapaça, novo longa do cineasta,
não faz parte destas últimas categorias, mas tampouco é integrante da primeira,
acontece de ser apenas um bom filme sustentado basicamente por seu elenco.
Ponto final.
Sendo assim, suas DEZ (!)
indicações ao Oscar são no mínimo exageradas, principalmente aquela referente à
direção, e tendo em vista que pela primeira vez os Weinstein não estão por trás
do projeto, as de Melhor Filme, Montagem e Roteiro também. Categorias onde foi
claramente superestimado. Se em O Lado Bom da Vida elogiava detalhes da condução de O. Russell como baixar a
câmera rapidamente para filmar as mãos nervosas do personagem de Bradley
Cooper, aqui tenho de engolir minhas palavras e admitir que o realizador demonstra ter se apaixonado pela própria criação ao
repetir o mesmo plano diversas vezes, só que desta vez sem propósito algum,
fazendo disso quase que uma destas assinaturas inúteis como os flares de J.J.
Abrams, as lentes grande-angulares de Tom Hooper e os travellings circulares de
Michael Bay.
Mas méritos sejam dados ao homem
no mínimo por enxergar que a força de seu filme se encontra no bom elenco que
tem em mãos, sacrificando sua montagem para inserir o trio principal em uma
divertida interação ao invés de optar pela ordem cronológica onde demoraria
para apresentar a dinâmica entre os personagens. Christian Bale é um golpista
chamado Irving, que apesar de sua ocupação, é um homem muito dócil e bondoso,
casado com a supérflua Rosalyn (Jennifer Lawrence), ele começa a nutrir
sentimentos pela comparsa de golpes Sydney (Amy Adams). Mas acontece de os
dois serem pegos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Cooper de novo), e para
escaparem da prisão certa, aceitam ajudá-lo a pegar um criminoso, interpretado por Robert De Niro, outro que repete a parceira com O. Russell
aqui. Para isso, além de lidarem com o chefe de Richie, Stoddard (um comedido,
mas sempre divertido Louis C.K.), terão de usar ainda o político interpretado
por Jeremy Renner - cuja maquiagem e figurino o transformaram em um cosplay do
Prefeito Shelbourne de Tá Chovendo
Hambúrguer.
Esta aparência caricata dos
personagens, aliás, traz um certo bom humor ao filme que ajuda a ressaltar o
carisma de seus personagens e a química admirável entre eles, assim, se Renner
parece um personagem saído de uma animação, Adams e Lawrence se enfeitam sem
pudores e apesar da rivalidade entre as personagens, até mesmo dividem um
divertido beijo. E é engraçado até que ambas estejam indicadas em categorias
opostas as do ano passado no Oscar, já que se fosse por este filme, Lawrence de
fato mereceria uma estatueta, uma vez que o papel de Rosalyn foge ao lugar
comum da atriz, da mulher forte e determinada, aqui com trejeitos e entonações
cadentes na voz; em particular, a discussão que tem com Irving sobre um
micro-ondas é hilária graças a sua performance. Já Amy Adams, embora também
fuja ao seu tipo comum, não chega a ser a fervorosa e devota esposa que lhe deu a indicação no passado, onde sua performance assustadora em O Mestre deveria ter lhe rendido a
estatueta, se vivêssemos em mundo justo. Por outro lado, Cooper passa batido e
sua cena mais memorável deve-se aos bobs presos em sua cabeça, sendo realmente
Bale o grande destaque de Trapaça.
Gordo, o ator volta a demonstrar sua incrível capacidade de alterar a forma
física para interpretar seus personagens, vivendo Irving com uma insuspeita
gentileza que nos faz até perdoar a “profissão” do homem, que aos poucos, nos
conquista como um protagonista inteligente e carismático.
Todos eles, figuras excêntricas
que parecem caber naquele mundinho concebido por David O. Russell, que desde o
início já nos avisa: “Alguns dos fatos a seguir são reais”. Mas o aviso seria
dispensável, já que, além das composições e do design de produção, nada mais
parece ressaltar o absurdo no longa, e novamente o cineasta não aposta em nenhuma
linguagem diferenciada, ficando geralmente num esquema café com leite apenas
correto, e mesmo o roteiro não apresenta a mais interessante das tramas, sendo
o inevitável plot twist ao final, esquecível. David O. Russel volta assim a realizar um projeto que, se pouco se pode criticar, tão pouco quanto pode-se
elogiar também, e tirando o elenco, sempre infalível, mas também sempre repleto de
escolhas seguras e queridas pelo público, ainda não entendo qual é a grande
comoção que o cineasta parece gerar com seus filmes.
NOTA: 7/10
NOTA: 7/10
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