Indicado a quatro Oscars este
ano, incluindo Melhor Filme, Philomena
é o típico projeto que a academia adora premiar ou de alguma forma reconhecer.
Baseado em fatos reais, conta a história da personagem título, uma senhora de
idade irlandesa (Judi Dench) que, com a ajuda do pomposo jornalista Martin
(Steve Coogan), tenta achar seu filho, de quem foi separada quando ele ainda
tinha apenas poucos anos de vida. Equilibrando habilmente o drama da situação
da nossa protagonista com o humor gerado a partir do choque entre seus jeitos
simples e os mais etiquetados de seu colega de viagem, o longa de Stephen
Frears, porém, não toma partidos ou ousa de qualquer forma, mantendo-se em uma
zona de segurança que sempre garantem que filmes como estes sejam premiados
temporada a fora.
É a fórmula: fatos reais,
personagem central frágil, drama pessoal, superação, final bonitinho, fica em
cima do muro e não pisa em ovos com ninguém. Alguém ai lembra de O Discurso do Rei? Pois então, não digo
que o longa em questão seja ruim (o
Discurso também não era), mas sim afirmo que seja apenas um bom. Ele não
comete erros e seus acertos o fazem adorável, mas sua falta de personalidade o
fazem também esquecível. Bom, talvez não tão esquecível graças à performance aqui de
Judi Dench, que merecidamente está indicada aos principais prêmios de melhor
atriz, principalmente levando em conta sua carreira; acostumada a interpretar
mulheres poderosas, inteligentes e de presença imponente, Dench entrega uma
mulher humilde, simples, acostumada ao pouco e à pessoas menos complexas. Sua
felicidade ao conversar com um cozinheiro e sua especial atenção para com uma
garçonete denunciam este espírito de simpatia voltado para com a classe
operária, a quem ela trata tão bem quanto as refinadas pessoas que cruzam seu
caminho.
Um contraste gritante com o
personagem de Coogan, que não parece perceber a condescendência com que trata
estes mesmos personagens mais simplórios. E é justamente destas diferenças que
o roteiro arranca o melhor de seu humor. A cena em que Philomena conta a ele
sobre um livro que leu é uma das melhores neste ponto, e revela de certa forma
o nosso próprio caráter; sempre predispostos a julgar as pessoas a nossa volta,
muitas vezes nos esquecemos que nem sempre a felicidade reside no que nós
consideramos bom e ideal, e que esta percepção pode mudar de pessoa para
pessoa: “Eu nunca teria previsto isso nem em um milhão de anos!” exclama ela
feliz ao contar sobre uma reviravolta do tal livro. Não estou dizendo que
pessoas cultas, mais estudas e complexas sejam condenáveis, ainda que também
não sejam sempre defensáveis, mas apenas lembrando (assim como o filme de Frears
faz também) que o simples é algo tão admirável quanto.
Então, não é o drama e o humor
simples que condeno em Philomena, mas sim falta de personalidade. A senhora de
idade que acompanhamos aqui é tudo, menos genérica, o que não é o que se pode
dizer do longa-metragem que protagoniza. Com um assunto tão fértil em mãos, é decepcionante vê-lo fugir dos mesmos, mal raspando sua
superfície em um clímax decepcionante. São diversos os temas que a obra aqui arranha
apenas: a opressão da mulher, a arrogância de algumas pessoas de classes mais
altas, a homossexualidade dentro de um governo como o dos Estados Unidos, e os
perigos e os danos causados pela alienação religiosa são alguns destes tópicos.
Este último em especial, mais latente dentro do pot principal, é aquele cuja
falta de aprofundamento mais frustra. Entendo que o filme seja baseado no
artigo do real Martin Sixsmith e que este tenha colocado as freiras criminosas
sob uma luz menos acusadora em pedido da real Philomena, mas seus crimes e a
importância de discuti-los nos dias de hoje, onde católicos fervorosos
continuam a afirmar com orgulho que os erros atrozes de sua igreja ficaram Séculos atrás, tornam a decisão de amenizá-los simplesmente decepcionante. Para não dizer condenável, uma vez
que tratando-se de um relato verídico, tais crimes deveriam ser denunciados de
forma fervorosa, assim como os seus autores os defendem em nome de suas
crenças. Uma chance perdida em um filme que, sim, é belo e contagiante, mas que
infelizmente entrega pouco para o potencial que tinha de realizar.
NOTA: 7/10
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