quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

QUESTÃO DE TEMPO



     Já tendo sido responsável pelos roteiros de obras tocantes e divertidas como Um Lugar Chamado Notting Hill, The Girl in the Café e Simplesmente Amor (este último que também dirigiu), Richard Curtis é igualmente culpado pelos textos por trás dos questionáveis filmes de Bridget Jones 1 e 2 e até mesmo do melodramático Cavalo de Guerra. Felizmente, Questão de Tempo agora pode figurar no primeiro grupo, possuindo e exalando todas as melhores características do realizador, que entrega aqui um longa que não poderia ser melhor descrito se não como: fofo. Exato, fofo!



     Em uma casa muito grande à beira das praias britânicas, vive a família de Tim (Domhnall Gleeson), e eles sempre fazem tudo igual, "não importa o clima", como o próprio garoto aponta em sua narração - um recurso fácil e muitas vezes pobre que aqui encontra sua razão de ser ao soar mais como uma "revisão confessional" do próprio protagonista em relação a sua vida . É quando ao completar vinte e um anos de idade, ele descobre que pode viajar no tempo, assim como todos os homens de sua família por parte de pai (o seu, aliás, interpretado divertidamente por Bill Nighy), basta que se esconda em um lugar escuro, cerre os punhos, pense no momento de sua vida que quer estar, e pronto. Sabendo administrar sabiamente seus novos dons, ao se mudar para Londres, Tim decide salvar a peça de um amigo (Tom Hollander, apropriadamente carrancudo) e acaba perdendo a oportunidade de conhecer Mary (Rachel McAdams), que a partir de então terá de conquistar aos poucos.


     É inerente aos bons filmes de Richard Curtis possuírem personagens carismáticos, mesmos os tristes e rabugentos o são, e aqui não é diferente, sendo quase impossível não simpatizar com todas as figuras em tela, o que já é um importante primeiro passo para se começar a construir uma história, ainda mais uma de amor. E não se enganem, Questão de Tempo é acima de tudo um romance, até mesmo as viagens no tempo, embora frequentes, são usadas conscientemente enquanto elemento dramático, e normalmente tem a função de causar o humor e - por mais absurdo que pareça dizer isso de uma cena que se repete - jogar a trama para frente. Assim como também este dom jamais soa como um fator desnecessário, e algumas das passagens mais hilárias (e também emocionantes) do filme devem-se ao fato de nosso protagonista poder revisitar e refazer seu passado: os discursos dos padrinhos de casamento e o diálogo envolvendo um "no oral sex" se destacam como alguns destes momentos.


     Todas estas cenas envolvidas em uma trilha escolhida a dedo para estabelecer o tom carismático requerido pelo roteiro, e da simples e belíssima Into my Arms, de Nick Cave, passando pela "versão de rua" de How Long Will I Love You, até uma inusitada, porém, apropriadíssima, Il Mondo de Jimmy Fontana, as escolhas musicais se mostram tão acertadas quanto as de elenco. O que me leva a Domhnall Gleeson, que além de conquistar uma química indiscutível com McAdams ainda segura o filme com segurança, demonstrando tanto uma veia cômica apurada em seus trejeitos, como uma delicadeza sentimental em suas falas calmas e dóceis. Assim, é sintomático que ao nos despedirmos destes personagens, não reste nenhum sentimento que não a saudade, já que as duas horas de duração do longa são tão eficientes em nos aproximar de suas figuras quanto uma vida inteira de convívio o seria. E considere que é raro se usar como elogio dizer que um filme parece levar uma vida toda para passar. 

Ainda bem, não é preciso me esconder em um lugar escuro e cerrar meus punhos para poder rever esta bela peça, basta esperar a próxima sessão.


PS- o ator Richard Griffiths faz aqui uma ponta muito divertida, que infelizmente marca sua última aparição nos cinemas.


NOTA: 10/10




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