sexta-feira, 4 de setembro de 2015

RICKI AND THE FLASH: DE VOLTA PARA CASA



Dirigido por Jonathan Demme, o responsável por primorosos feitos como O Silêncio dos Inocentes, Ricki and the Flash é uma diversão honesta e delicada. Escrito pela vencedora do Oscar, Diablo Cody, o roteiro conta a história de uma roqueira dos anos 1980 que, enfim, nunca saiu daquela década. Ainda dona de um estilo baseado em couro e maquiagem pesada, Ricki (Streep), como prefere ser chamada, recebe uma ligação de seu ex-marido pedindo que venha visitar sua filha, que está passando por um mau momento agora que o marido a trocou por outra. Mãe ausente de três filhos, tocando em um bar por alguns trocados junto com a sua banda, a protagonista logo se vê na pequena mansão de Pete (Kevin Kline) tendo que lidar não só com a depressão efusiva de Julie (Mamie Gummer), mas também com o ressentimento de toda a família.


Então não seria surpresa, claro, se Meryl Streep voltasse a figurar nas listas de indicados na temporada de premiações que está chegando - ao menos no Globo de Ouro deve estar. A atriz, sempre no mínimo eficiente, entrega aqui uma personagem jovial, mas cansada. É como se Ricki, pelos olhos dela, fosse uma adolescente que nunca teve a sua chance de ser jovem, e que, portanto, é encarnada com uma energia explosiva e um humor infantil. Admirável, como de hábito, a intérprete brilha principalmente quando tem de interpretar a protagonista agindo de forma um pouco mais adulta, quando obviamente se sente deslocada. A própria rejeição de sentimentalismos da parte de Ricki denuncia seu medo que alguém lhe faça o que faz aos outros, um comportamento temerário típico do comodismo jovem, que ainda não se deparou com a própria finitude, e por pensar que tem todo o tempo do mundo à frente, deixa para lidar com essas questões num eterno amanhã. 

E se o filme carrega o espectador até o final sem incomodá-lo é, sim, devido à performance de Streep, uma vez que Cody concebe um roteiro batido e às vezes implausível. Afinal, que conveniente a esposa de Pete ter de sair de cena por causa de uma doença de sua mãe (que depois é esquecida pelo texto), ou que os dois, Pete e Ricki, encontrem o ex-marido de Julie em um restaurante a tempo de vingar a filha abandonada. Portanto, não fosse a condução sóbria de Demme e talvez o resultado tivesse sido pior, lembrando sempre que nem mesmo o desempenho genial de Meryl Streep foi capaz de salvar A Dama de Ferro de se converter em um desastre assombroso.

O clímax, em especial, apesar de ser provavelmente o ponto mais clichê de todo o projeto, é o momento que melhor funciona, ainda que cada plano seja previsível. Talvez por isso mesmo, inclusive. Quando Pete e sua atual esposa entram em quadro de mãos dadas em um plano que já havia ficado sugerido minutos antes, é apenas prazeroso ver que Demme ao menos não está tentando chamar atenção para si, realizando um filme que, sim, tem uma trama reciclada, mas que o cineasta é sábio em tornar aconchegante por esse mesmo motivo, como uma poltrona em que já estamos acostumados a nos aninhar. 


NOTA: 7/10


2 comentários:

  1. Yuri, concordo demais com a tua crítica! "Ricki and the Flash" é realmente isso: um filme menor e não tão criativo, mas aconchegante e bastante agradável. Grande abraço! :)

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  2. Este eu não pilhei para conferir. Fui assistir aos nossos maravilhosos nacionais: "Que horas ela chega?", "Dromedário no asfalto" e "Obra". Muito bons, dignos de orgulho! Abração" Rô

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