É possível se dizer
que Paul Greengrass definiu novos padrões estéticos para o gênero de ação com A Supremacia e O
Ultimato Bourne, empregando a câmera de mão em sua fotografia crua -que ultimamente tem sido autoria de Barry Ackroyd, ganhador
do Oscar na categoria por Guerra
ao Terror, que não cito aqui por acaso- o diretor influenciou uma leva de
filmes do tipo. Aqui o cineasta adota a mesma abordagem visual que, graças a
sua natureza realista, acaba ajudando a estabelecer Capitão Phillips como a obra
baseada em fatos reais que é, embora, surpreendentemente, os habituais dizeres
"based on a true story" não sirvam de abertura para o longa. E nem
seriam necessários, pois o thriller angustiante conduzido por Greengrass só
poderia ter suas origens no mundo real.
Uma das coisas que
minou um pouco da minha experiência como espectador foi o fato de conhecer como
os eventos haviam se desenrolado na realidade, o que me cortou um pouco da
tensão, principalmente no terceiro ato do longa. Não é como se o diretor tentasse
fazer suspense em torno da crucificação de Jesus Cristo, mas a história do
Capitão Phillips é relativamente famosa, e talvez algum tempo excessivo seja
investido no suspense a partir da segunda metade da projeção. Mas para àqueles
que nunca ouviram falar, o filme conta a história do personagem título, o
Capitão Richard Phillips (Tom Hanks), que tem seu navio cargueiro invadido por
piratas somalis, e que por eles acaba sequestrado durante sua fuga, mantido
refém dentro de um baleeiro (espécie de barco salva-vidas completamente
fechado).
Assim, a força do
longa reside em duas frentes: por um lado temos a tensão que se calca no que é
crível, criada pela colocação de obstáculos e desafios estratégicos no caminho do nosso
protagonista, que se vê impotente diante da ameaça representada por Muse
(Barkhad Abdi) e seus homens armados, mesmo possuindo a embarcação maior e mais
bem protegida; por outro há o próprio Phillips, que é construído por Hanks a
princípio como um líder astuto, criativo e rígido, mas que se desdobra em uma
figura ainda mais tridimensional conforme o longa lhe dá oportunidades, tendo a
chance de explorar no personagem a dissimulação, o sangue frio, o pensamento
lógico e posteriormente o descontrole emocional e sua rendição para o desespero
diante da morte quase certa. Algo que prova, aliás, que o ator é um dos mais
talentosos e versáteis na ativa hoje em dia em Hollywood, principalmente quando
tem a chance de ser a figura e o assunto central de uma trama (algo que não lhe
acontecia desde 2004, com O Terminal),
e eu não duvidaria de uma merecida indicação ao Oscar. Porém, Hanks não é
destaque único no elenco, pois sua química com Barkhad Abdi (ator que realmente
vem da Somália) é essencial para o funcionamento do roteiro, e Abdi cativa ao
entregar um pirata que apesar de sua aparente marginalização, se mostra
inteligente e astuto como o próprio Phillips, com o bônus de esbanjar um
insuspeito carisma.
Pontuada pela boa
trilha de Henry Jackman (compositor cuja carreira venho acompanhando de perto
desde seu excelente trabalho em X-Men:
Primeira Classe), a crescente de tensão no longa também é crédito do
montador e habitual parceiro de Greengrass, Christopher Rouse, que
principalmente durante o clímax faz merecer elogios e, por que não, uma
possível indicação ao Oscar também, tendo em vista que dá entendimento a uma
série de eventos sincronizados e de pouquíssima duração. Tudo isso muito bem ambientado pelo eficiente design de produção, que invoca através do uso constante de cenários
baseados em ângulos retos e metais, a dureza e a crueza dos conflitos, ajudando
também a ancorar o filme na realidade (sem trocadilhos). Algo que o diretor parece
respeitar até seu último segundo, quando após o desfecho do arco principal, nos
permite acompanhar as consequências emocionais para certo personagem,
demonstrando este controle que possuí sobre o equilíbrio entre a
humanidade e o apuro técnico em seus filmes.
NOTA: 9/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário