Thomás Boeira vê o cinema como religião e a sala de exibição
como templo sagrado. Escreve sobre cinema desde 2009 no blog Linguagem Cinéfila.
É formado em Produção Audiovisual pela ULBRA e é membro da Associação de
Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS).
A Onda do fascismo vai e vem
Rainer Wenger é um professor de
história que, em uma semana especial na escola, se vê tendo que ensinar
autocracia para seus alunos do ensino médio, que por sua vez não acreditam ser
possível que uma ditadura volte a reinar no país. Para provar que seus pupilos
estão errados, Rainer bola um experimento com eles, impondo uma série de normas
que dão origem a uma pequena unidade ditatorial. Mas o que deveria ser só uma
simulação para mostrar àqueles jovens como é viver em um regime totalitário
acaba sendo levada a sério demais, saindo do controle e levando todos por um
caminho imprevisível.
Inspirado por um caso real que
ocorreu na Califórnia na década de 1960, A Onda é um filme que consegue ser
bastante didático ao tratar seu tema central, sendo que o fato de ele envolver
uma lição escolar não deixa de ser uma vantagem nesse aspecto. Com isso, o
roteiro naturalmente consegue mostrar como esse tipo de regime pode ser
facilmente imposto em uma sociedade, principalmente quando as pessoas podem ser
manipuladas sem muita dificuldade. Há, inclusive, uma cena emblemática em que
Rainer (vivido com segurança por Jürgen Vogel) e seus alunos praticamente passam
uma espécie de receita sobre o quê pode colocar o país em direção a uma
ditadura, citando injustiça social, alta taxa de desemprego, desencanto com a
política atual e consciência nacionalista. Mesmo que esse momento conte com
certa simplicidade, é provável que tais pontos estejam entre as razões para que
um fascista seja visto por muitos brasileiros como opção viável para a
presidência do país.
Mas mais do que ser uma aula
sobre como tudo isso pode se desenvolver, A Onda mostra uma ditadura acontecer
em meio a seus jovens personagens, que quase sem perceberem se tornam parte de
um sistema opressor, que não se importa com os direitos individuais dos membros
de sua turma (ou sociedade, se formos ampliar o aspecto social do filme), jogando
no lixo a própria pluralidade de ideias e escanteando qualquer um que saia da
linha ideológica que fora imposta. Assim, vemos que por pior que seja o
descontentamento com relação aos rumos que uma sociedade toma como nação, optar
pela intolerância e pelo ódio certamente não é solução para nada.
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Entenda o que é, porque existe e leia as outras edições do projeto O Cinema Diz: #EleNão, em que convidei várias pessoas para escolher e escrever sobre um filme que converse com a nossa situação política, no intuito de refletir e ilustrar os riscos que estamos correndo.
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