2015 chegando ao fim e chegou a hora daquelas listinhas que todo mundo gosta de fazer, pra lembrar o pessoal daquilo que queríamos ter "desvisto" e aquilo que queremos ressaltar como "se não assistiram, assistam agora!". E eu, humano que sou, não poderia fazer diferente, e de hoje até o dia 31 atualizarei esse post com aquilo que classifiquei como o pior e o melhor durante o ano, sem filmes, séries e momentos:
OS 10 PIORES FILMES DE 2015:
10 - TED 2 | Seth MacFarlane deveria conversar com o seu eu de três anos atrás e pegar umas dicas.
9 - A VISITA | Pode parecer ruim estar na lista dos piores do ano, mas para M. Night Shyamalan, estar em nono é um elogio.
8 - O EXTERMINADOR DO FUTURO: GÊNESIS | Um monte de referências coladas uma nas outras e alguma empatia não fazem de um filme ação divertido.
7 - HITMAN: A GENTE 47 | Referência e empatia nenhuma muito menos.
6 - INVENCÍVEL | Angelina Jolie não é má diretora, assim como os irmãos Coen com certeza não são roteiristas ruins e, caralho, Roger Deakins não chega nem perto de ser um mau fotógrafo, ainda assim esse time todo conseguiu produzir um filme que seria mais honesto se fosse chamado "Esquecível".
5 - QUARTETO FANTÁSTICO | Nem lembro mais, dizem que a amnesia seletiva é uma resposta psicológica comum quando o trauma é muito pesado.
4 - THE RIDICULOUS 6 | Ah, Netflix..., Eu te entendo, todos temos que fazer o nosso próprio acordo com o diabo.
3 - VOO 7500 | Seria legal, se tivessem se preocupado em realmente terminar o filme.
2 - ATIVIDADE PARANORMAL: DIMENSÃO FANTASMA | a.k.a. "Inatividade Cerebral: 3(D) vezes Mais Caro que os Outros 4".
1 - MINIONS | Quando um filme consegue ser irritantemente menos inteligente do que os seus personagens principais.
OS MELHORES SERIADOS DE 2015:
10 - TRUE DETECTIVE (2ª Temp.) | Subestimada, infelizmente, por se recusar a se adequar ao ritmo frenético que a geração Google exige. Um noir moderno e profundamente imersivo no universo de seus complexos personagens. Rachel McAdams <3 font="">3>
9 - BETTER CALL SAUL (1ª Temp.) | Quem diria que um personagem que funcionava tão bem como coadjuvante em "Breaking Bad", poderia ter uma história tão interessante quanto a de Walter White?
8 - DEMOLIDOR (1ª Temp.) | Marvel encontrou uma bela parceira na Netflix, e abandonou aqueles formatos engessados da televisão que só sabem produzir mais do mesmo em questão de heróis. Demolidor flerta com o Noir e aproveita o novo formato de exibição para começar a deixar para trás também, a covardia temática dos filmes do Universo Marvel.
7 - JESSICA JONES (1ª Temp.) | Seguindo a linha de "Demolidor", dá uma passo a diante e realmente põe em pauta temas corajosos, atuais e relevantes, mergulhando de vez no Noir através de uma gama fascinante de personagens.
6 - THE WALKING DEAD (5ª Temp.) | Não conta a 6ª, que começou em 2015 também, porque ela ainda não terminou, mas a quinta, que começou em 2014 e terminou esse ano, de todas as temporadas finalizadas até agora, é com certeza a melhor, de uma série que vem crescendo exponencialmente em ambição e qualidade a cada nova investida anual.
5 - SENSE8 | Relevante e divertido projeto dos Wachowski, mostra que a Netflix está à frente da militância por temas importantes hoje, dragando seu público para o debate através de uma trama envolvente e repleta de figuras carismáticas.
4 - THE JINX | Chocante, apenas.
3 - FARGO (2ª Temp.) | Se a primeira temporada já refletia de maneira magistral o clima nonsense dos filmes dos irmãos Coen, essa segunda assume de vez a sua realidade estranha, cômica e brutal.
2 - LOUIE (5ª Temp.) | Não é a melhor das temporadas do seriado, e ainda assim merece o meu segundo lugar, preciso dizer mais?
1 - HOUSE OF CARDS (3ª Temp.) | Frank Underwood, diabólico como sempre, dando um espaço maior de tela a sua fantástica esposa, Claire. Essa temporada é um verdadeiro estudo de personagem que luta para não se tornar o arquétipo da Femme Fatale.
OS MELHORES FILMES BRASILEIROS DE 2015:
10 - O Último Cine Drive-In
9 - Sangue Azul
8 - Ausência
7 - Beira-Mar
6 - A Estrada 47
5 - Orestes
4 - Obra
3 - Olmo e a Gaivota
2 - Branco Sai, Preto Fica
1 - Que Horas Ela Volta?
(Comento sobre eles depois! Final de ano está uma correria... Mas Beira-Mar e Que Horas Ela Volta? têm crítica no blog, só clicar em cima!)
MEUS 10 MOMENTOS FAVORITOS DO CINEMA EM 2015:
10 - Velociraptor e Tiranossauro unem forças contra um inimigo em comum em JURASSIC WORLD: O MUNDO DOS DINOSSAUROS.
9 - Em STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA, o sabre de luz que uma vez pertenceu a Luke Skywalker é atraído pela força para fora da neve em direção a uma mão inesperada, enquanto um dos icônicos temas de John Williams, em um arranjo mais reverente, pontua a singularidade daquele acontecimento.
8 - Furiosa ascende com os seus iguais em direção a um mundo novo e promissor, enquanto Max, o homem comum que decidiu ajudá-la, mistura-se a multidão em MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA.
7 - Alegria descobre o preço amargo de amadurecer, tendo de deixar um amigo para trás em DIVERTIDA MENTE.
5 - O personagem de Benicio del Toro empunha uma arma equipada com silenciador e diz "Chegou a hora de conhecer Deus", em SICARIO: TERRA DE NINGUÉM.
4 - Katniss "erra" o alvo em JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA - O FINAL.
3 - Um personagem querido sobe em uma passarela sob um abismo infinito e sela seu destino chamando "Ben!" em STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA.
2 - A expressão de dona Barbara ao ouvir as notícias sobre o desempenho no vestibular de Jéssica, e a comemoração rebelde de Val posteriormente em QUE HORAS ELA VOLTA?.
1 - O personagem de Michael Keaton tem uma alucinação megalomaníaca no meio da rua em BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA).
OS 20 MELHORES FILMES ESTRANGEIROS de 2015:
20 - TOMORROWLAND: UM LUGAR ONDE NADA É IMPOSSÍVEL
19 - A COLINA ESCARLATE
18 - BEASTS OF NO NATION
17 - EX- MACHINA: INSTINTO SECRETO
16 - PERDIDO EM MARTE
15 - ENQUANTO SOMOS JOVENS
14 - EXPRESSO DO AMANHÃ
13 - MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA
12 - LIVRE
11 - WHIPLASH: EM BUSCA DA PERFEIÇÃO
---------------------------------------------------------
10 - CORRENTE DO MAL
9 - VÍCIO INERENTE
8 - O ANO MAIS VIOLENTO
7 - GOING CLEAR: SCIENTOLOGY AND THE PRISON OF BELIEF
6 - MIA MADRE
5 - SICARIO: TERRA DE NINGUÉM | http://classedecinema.blogspot.com.br/2015/11/sicario-terra-de-ninguem.html
4 - MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA
3 - STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA
2 - DIVERTIDA MENTE
1 - BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
Menções Honrosas:
- Selma: A Luta Pela Igualdade
- Corações de Ferro
- A Espiã que Sabia de Menos
- Kingsman: Serviço Secreto
- Dois Dias, Uma Noite
sábado, 26 de dezembro de 2015
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
007 CONTRA SPECTRE
O novo filme 007 não vai agradar grande parte do público. É solene demais,
reverente demais, toma o tempo que precisa para acontecer, tem um ritmo
atípico, e além disso não funciona completamente sozinho, se fazendo muito
dependente dos três outros longas anteriores encabeçados por Daniel Craig.
Entretanto, diria que é apenas justo que o 24° filme de uma franquia se permita
esses “luxos”, ainda que eles não conversem com a maioria dos espectadores. 007 Contra Spectre é consciente da
bagagem que trás consigo, e como despedida (será?) dessa fase, acaba se
convertendo em uma aventura peculiar, que embora não tenha o embalo de Operação Skyfall, acaba, junto àquele
belo exemplar de 2012, completando um arco nostálgico de homenagem para Bond,
James Bond.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
BEIRA-MAR
Beira-Mar conta a mais simples das
histórias, sobre a mais clichê das situações desenvolvidas em filmes que
abordam a diversidade sexual: a descoberta. Afinal, é quase irresistível para
quem se infiltre no meio não enfocar a sedutora exploração dos primeiros passos
discretos de um indivíduo em direção ao outro, enquanto ambos vão velando os
seus reais sentimentos em prol de uma convivência normalmente aceita. Porém, o
lugar comum do roteiro de maneira nenhuma lhe serve como demérito, uma vez
que encontra na direção dos estreantes Filipe Matzembacher e Marcio Reolon uma
abordagem intimista e delicada que confere uma instigante complexidade aos seus
personagens.
domingo, 1 de novembro de 2015
SICARIO: TERRA DE NINGUÉM
O cineasta canadense Denis
Villeneuve, surgido apenas na última década, com um pequeno, mas impressionante
currículo, já se estabeleceu como sinônimo de produções densas e inteligentes.
Exibindo sempre uma confiança admirável no intelecto do espectador, seus filmes
raramente são óbvios ou fáceis, recheados de elementos simbólicos e também
diegéticos (aqueles inseridos no universo da trama e dos quais os personagens
estão cientes) que são colocados lá para que o enredo e seus significados
possam ser desvendados não só pelas quase sempre inquietas figuras que os
protagonizam, como também pelo público do lado de cá da tela, que não consegue
evitar ficar nervoso, tamanha a tensão que o diretor consegue
transmitir cada vez melhor.
domingo, 25 de outubro de 2015
ATIVIDADE PARANORMAL: DIMENSÃO FANTASMA
Iniciada de maneira independente,
a franquia Atividade Paranormal em seus dois primeiros longas-metragens
era um exemplo de economia e sustos elaborados, que exigiam trabalho e inteligência. E se no primeiro filme podíamos entreouvir uma discussão do casal
protagonista enquanto a câmera repousava em um balcão, apontada para a parede,
no segundo acompanhávamos diversas visitas aos ambientes da casa que servia de
cenário, conhecendo a sua rotina noturna, só para daí sim, serem incluídos os
elementos estranhos que a essa altura, por menores que fossem, já estaríamos
aptos a reconhecer, nos arrepiando através do nosso próprio raciocínio, sem que
isso soasse uma intenção artificial dos realizadores.
sábado, 24 de outubro de 2015
PONTE DOS ESPIÕES
Steven Spielberg
está voltando. Agora, o que isso significa?
Spielberg sempre foi
um cineasta extremamente emocional. Não por acaso acabou sendo mitificado -
porque nem "eternizado" sintetiza suficientemente bem o peso que o
seu nome passou a carregar com os anos - justamente por conseguir criar sentimentos,
personagens e momentos tão intensos e marcantes que, a cada filme que fazia,
parecia nascer um novo clássico – e de fato, alguns nasceram. Seu grande apelo
sentimental, fosse para evocar a tensão, a empolgação, a tristeza, a comoção ou
o riso, sempre lhe foi intrínseco, e prova disso é o insucesso narrativo de A.I.: Inteligência Artificial, que se por um lado funcionava na racionalidade de
Stanley Kubrick (que concebeu o projeto logo antes de falecer), cedia a
tentação do diretor de E.T. - O
Extra Terrestre e A Lista de Schindler ao não conseguir evitar um adendo final de cunho
afetivo, que praticamente arruinou todo aquele projeto. A verdade é que
Spielberg é incapaz de ser pragmático ou racional como cineasta, o que não é
algo ruim, o problema é que o realizador pouco a pouco deixou que suas tendências
emotivas, antes poderosas propulsoras de obras memoráveis, tornarem-se
descontroladas, abusivas e intrusivas, e o diretor que antes era referência em
como fazer cinema, passou a ser o cara que dirigiu o enfadonho Cavalo de Guerra e o mediano Lincoln, sem controle algum do
tom ou do andamento de seus filmes.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
GOOSEBUMPS: MONSTROS E ARREPIOS
Baseando-se em filmes como Jumanji e Zathura, esse Goosebumps volta a tratar de um objeto
com mitologia própria que, investigado por crianças curiosas, acabam libertando
de dentro dele seus personagens fantasiosos. E ainda que funcione menos do que
os seus outros dois conterrâneos de gênero, o longa estrelado por Jack Black é
carismático e divertido o suficiente para justificar a própria existência.
domingo, 18 de outubro de 2015
A COLINA ESCARLATE
Em certo momento de A Colina
Escarlate, a jovem protagonista leva seu
romance recém escrito para ser avaliado por um editor, recebendo como resposta um cético comentário sobre uma mulher estar escrevendo histórias de fantasmas. Incomodada, ela responde: “não é
uma história de fantasmas, é uma história com fantasmas”. Ou seja, o cineasta Guillermo del Toro está dizendo que seu novo filme não veio para dar sustos, esperar isso é projetar uma expectativa
injusta sobre o longa-metragem e também desentender completamente sobre o
que ele se trata. Experiente em criar contos de horror e fantasia, del Toro sempre mostrou-se hábil construindo a atmosfera dessas narrativas, — não para culminar apenas nos sustos, mas sempre em catarses. Basta lembrar de sua filmografia, especialmente de títulos como O Labirinto do Fauno e A Espinha
do Diabo.
O longa já começa impactante: numa nevasca, a nossa heroína surge acariciando o vento
com a mão ensanguentada. O realizador, porém, só vai nos permitir conhecer o
contraplano deste take nos minutos finais da projeção, criando assim também
uma rima elegante que já denuncia suas intenções de, antes de tudo, contar uma trajetória focada nos personagens, e não apenas em sustos gratuitos. É assim que
somos apresentados à Edith (Mia Wasikowska), imaginativa escritora que refuta a ideia de se tornar a próxima Jane Austen. Ela gosta é das histórias sombrias, o que mais tarde vai justificar sua pró-atividade nos eventos da trama. Entretanto, a princípio surpreende que ela acaba se envolvendo justamente num romance mais aos modos de Orgulho e Preconceito. Ao conhecer o educado e culto Thomas Sharpe
(Tom Hiddleston), ela resolve casar-se sem perder tempo, mudando para a
Inglaterra com marido. Lá, o casal recém-formado vai morar com a introspectiva irmã de Thomas, Lucille
(Jessica Chastain). Onde? Na aterradora Crimson Peak, a mansão herdada pelos irmãos e apelidada assim pelos vizinhos porque foi construída sobre um solo fértil em
argila vermelha, que em certos períodos do ano emerge da terra deixando todo
o terreno com uma terrível cor de sangue.
E se há um grande trunfo inegável no projeto, é
esta estranha e elegante besta concebida pelo belíssimo design de produção.
Imaginada como um ser vivo, a mansão exibe preciosismo de detalhes
apavorante, refletindo o cuidado que essa área sempre
recebeu de del Toro em todos os seus projetos. Com papeis de parede que remetem
a molduras vazias, marcos de madeira repletos de ameaçadores espigões e corredores
de padrões repetitivos que soam eles mesmos como alusões aos ecos de um passado
sombrio, a Crimson Peak é um cenário perfeitamente amedrontador, o que torna ainda mais acertada a
decisão de não usar os fantasmas como única fonte de ameaça. E é curioso
perceber como a argila sangrenta parece cada vez mais presente nos cenários
conforme os verdadeiros algozes revelam suas intenções, não só emergindo do solo, mas também escorrendo pelas paredes e pingando do teto, até o ponto de praticamente banhar
todo o clímax.
Encabeçado com delicadeza e força por
Mia Wasikowska, que é vestida com cores alegres e texturas estriadas repletas
de babadinhos que remetem a sua personalidade bondosa, o elenco ainda traz Tom
Hiddleston e Jessica Chastain numa dinâmica instigante por si só — e quanto mais
descobrimos sobre os dois, mais fascinantes e complexos os personagens se
tornam. Primeiro unificados pelas roupas, sempre de cores escuras e em tecidos
pesados, aos poucos o departamento de figurino trata de diferenciá-los. Personagens que poderiam ser tratados como clichês, na verdade escondem uma natureza dissimulada e
doentia. E nesse ponto é
preciso aplaudir Tom Hiddleston, que consegue tirar carisma de um personagem que
qualquer outro ator não hesitaria em transformar numa grotesca caricatura.
Dono de uma carga dramática invejável, o intérprete carrega no olhar e na dicção uma vulnerabilidade que facilmente fragiliza o seu Thomas Sharpe, conseguindo inspirar tanto o medo e a repulsa, quanto o carinho e a torcida do público — e essa é a parte impressionante de seu trabalho.
Já Jessica Chastain, uma das atrizes recentemente
surgidas de que mais gosto, esconde sob seus modos apáticos uma obsessão
contida — trabalhando a tristeza e a frieza da
personagem, que certamente reprimiu seus sentimentos por anos, e deixando-os explodir eventualmente na forma de raiva e fúria. O que serve de comentário sobre a opressão sexista imposta a ela sobre o controle dos bens da família. E se o trio
principal brilha, é uma pena que sobre tão pouco espaço para antigos
colaboradores de del Toro, e particularmente senti falta
de maior presença de Charlie Hunnam, que surge para fazer pouco — ainda que seu momento de brilho simbolize a impotência do mais educado dos homens contra o
monstro criados por eles mesmos quando tentaram ditar um lugar ao qual as mulheres deveriam se
reservar. Sobrando então para Burn Gorman e Jim Beaver criarem interessantes
figuras que, com pouquíssimo tempo de tela, se fazem indispensáveis; um como o investigador Holly, e o outro como o pai de Edith, Carter Cushing – uma referência carinhosa a Peter Cushing, famoso por seus filmes de horror.
Logo, A Colina Escarlate se apresenta como outro projeto
de Guillermo del Toro que usa o horror como comentário de sua época. Se em O
Labirinto do Fauno tínhamos a perseguição aos rebeldes da Guerra Civil na
Espanha, evento que por sua vez era o plano de fundo de A Espinha do Diabo, aqui o
cineasta prefere tratar de um tema mais atual e discutir a força da mulher, forjadas heroínas ou vilãos por ambientes hostis cheios de homens
com boas e más intenções. E se não por isso, ao menos o longa serve como um conto de horror e fantasia que PRECISA ser reconhecido nas principais premiações por seus
quesitos visuais.
NOTA: 8/10
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
A TRAVESSIA
Dono de uma filmografia eclética, Robert Zemeckis talvez não
seja um nome que as pessoas lembrem de imediato. Porém, puxe um assunto sobre a
trilogia De Volta Para o Futuro,
comente sobre as formas sensuais de Jessica Rabbit em Uma Cilada Para Roger Rabbit, grite “Corra, Forrest, Corra!” como
Jane faz em Forrest Gump, ou mesmo
nomeie uma bola ou um amigo imaginário de Wilson, homenageando Náufrago, e vai perceber o quanto os
filmes do cineasta estão enraizados na cultura popular.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
RICKI AND THE FLASH: DE VOLTA PARA CASA
Dirigido por Jonathan Demme, o responsável por primorosos feitos como O Silêncio dos Inocentes, Ricki and the Flash é uma diversão honesta e delicada. Escrito pela vencedora do Oscar, Diablo Cody, o roteiro conta a história de uma roqueira dos anos 1980 que, enfim, nunca saiu daquela década. Ainda dona de um estilo baseado em couro e maquiagem pesada, Ricki (Streep), como prefere ser chamada, recebe uma ligação de seu ex-marido pedindo que venha visitar sua filha, que está passando por um mau momento agora que o marido a trocou por outra. Mãe ausente de três filhos, tocando em um bar por alguns trocados junto com a sua banda, a protagonista logo se vê na pequena mansão de Pete (Kevin Kline) tendo que lidar não só com a depressão efusiva de Julie (Mamie Gummer), mas também com o ressentimento de toda a família.
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
VOCÊ IMAGINA
Um conto de Burt Bugs
"Fingir a própria morte é a
primeira opção de qualquer um. Se quer descobrir o quanto as pessoas a sua
volta amam você, finja sua morte. Ninguém quer morrer de verdade. As pessoas
imaginam o marido se jogando em cima do caixão e chorando, os filhos dizendo
como você merecia ter sido tratado melhor enquanto acariciam as mãos gélidas do
seu cadáver. Você imagina e chega a desejar isso, mas não quer de fato deixar
de viver. E ninguém acredita o suficiente na religião pra confiar que depois de
enfiar a gilete nos pulsos ou o projétil na lateral do crânio vai poder
assistir o próprio funeral como um espírito, ou lá do paraíso em uma televisão
setenta polegadas ou coisa assim. Não, como protagonistas que somos, quando
queremos alimentar o nosso ego em um nível mais profundo, instintivamente
pensamos em nos subtrair da equação e estar lá pra ver a matemática toda
colapsar. Então a primeira opção de qualquer um é fingir a própria morte.
Você se imagina num chapéu preto
de abas largas caindo sobre o rosto, enfiado em um vestidinho ou em um terninho
apertado muito escuro e óculos gigantes cobrindo as supostas lágrimas nos seus
olhos. Com eles e um pouco de maquiagem para afinar o rosto e o nariz e pronto,
você poderia ser um amigo distante, um ex-colega do colégio ou um conhecido que
só veio prestar homenagem. Você chega perto do caixão fechado que tem o corpo
que eles acham que é o seu e se imagina ouvindo a conversa dos seus parentes.
Eles dizem que grande pessoa você era, e o quão jovem morreu. Dizem que teria
dado um ótimo advogado, enquanto seus pais na outra ponta insistem entre soluços
que você queria ter sido ator. Você sente pena deles e deseja que não tenham
lavado as roupas sujas que deixou espalhadas pelo quarto antes de ter “capotado
penhasco abaixo no seu carro novinho até deixar o corpo lá dentro
irreconhecível a não ser pela associação entre a carteira de identidade meio
chamuscada, a placa do veículo e o teste sanguíneo”.
Você se imagina drenando o corpo
de alguém que ninguém vai dar falta. Você faz um corte no topo da cocuruto e
pendura o cara ainda vivo de cabeça pra baixo até que ele fique branco como
neve. Tem que agir rápido, pois os malditos legistas podem determinar com
bastante precisão a hora da morte, embora você imagine que não vai sobrar muito
corpo pra ser analisado quando o automóvel atingir o fim do desfiladeiro. Você
se imagina tirando bastante do seu próprio sangue em uma garrafa pet e jogando
a coisa melada em cima do cadáver. Você faz o carro despencar e prontinho, pode começar a
imaginar o seu próprio funeral.
É bom vestir os melhores sapatos,
o melhor terninho apertado, o seu melhor batom e o melhor penteado. Ninguém
quer ir desarrumado ao próprio enterro. Você quer estar perfeito, mas também
insípido. É um evento que só vai acontecer uma vez. Depois disso você muito bem
poderia se matar de verdade, imagina que não importaria mais. Você finge morrer
pra só então morrer de fato. Imagina que nessa hora teria que ser algo
escondido. Se as pessoas souberem que estava vivo e morreu de novo, vão odiar
você.
Então você se imagina escolhendo
um matagal no litoral, desses que tem entre as dunas e as estradas, onde quase
ninguém nunca passa nem perto. Você pega um ônibus até a cidadezinha mais
próxima e vai a pé até lá. Você leva uma garrafa de água e um sanduíche, deus o
livre cometer suicídio desidratado ou com fome. Você quer que a coisa toda saia
como imaginou, e deduz que o sol do litoral vai decompor o seu corpo com
rapidez suficiente pra, na altura que alguma grande construtora comprar aqueles
lotes de mato pra erguer ali um condomínio cinco estrelas de veraneio, você já
não seja mais do que ossos e farrapos presos neles.
Você usa um facão afiado que
comprou numa ferragem na saída da cidade pra abrir caminho pelo matagal. Toma o
cuidado de não deixar que nenhum carro esteja por perto antes de se enfiar no
verde, e de não levar nada que associe aquele futuro monte de ossos ao seu
antigo eu. Você corta mato e desvia de aranhas e escorpiões por uns três
quilômetros. Reveza os braços no uso do facão e imagina que eles já estão mais
inchados com o exercício do que jamais estiveram em anos de academia. Você
escolhe uma pequena clareira e se dá conta de que as formigas vão ajudar no
processo todo. Cada uma delas pode levantar vezes o seu próprio peso, então
basta este mesmo número de vezes a menos de formigas pra dar conta de toda a
pele, carne, fluídos e cartilagens apodrecendo ali. As moscas vão ajudar
também. Você sorri quando imagina que seu abdômen será um berçário fervilhante
de larvas.
Você e seu facão vão se sentar na
terra úmida e constatar que estão sozinhos. Ninguém vai saber quem é você, quem
é esse corpo aqui. Você vai ser a história de terror das crianças do condomínio
de veraneio de luxo. Vai ser a assombração no espelho do banheiro delas. O
objeto que vão usar pra descontar a frustração com a separação dos pais porque
ele estava fodendo com o estagiário da empresa. Vai ser o desenho preocupante
rabiscado com lápis de cor caros constando na ficha psiquiátrica de algum
futuro caso perdido. É o preço pra poder assistir a própria morte, pra
comprovar que sentirão a sua falta. Você imagina que vai valer a pena estar
vivo e se sentir ótimo pra andar entre seus amigos e familiares desolados por
algumas horas, em troca de uma morte dura e solitária, seguida de uma eternidade
de esquecimento.
Porque você vai saber a verdade,
você vai morrer sabendo o que veio depois. Você imagina que quem você realmente
era morreu de fato naquele “acidente”, que este corpo não é mais você. Vai
perceber, de repetente, que sua personalidade transcende o físico, e que ela
era antes de qualquer coisa uma ideia formada por cada pessoa que vai
lembrar de você. Juntas essas ideias vão conceber quem foi essa pessoa, do
que ela gostava, o que detestava, como falava, o que comia e aonde ia. Você
imagina que vai perceber que nunca teve controle sobre quem você foi. Você vai
perceber que no velório as pessoas estavam chorando porque sentiam falta do
invólucro onde podiam projetar a personalidade que elas imaginavam que você tinha.
Vai perceber ainda mais estarrecido que elas choravam porque com a sua morte,
elas tinham uma pessoa a menos a quem tentar deixar igual a elas. Você é menos
uma folha em branco pra elas pintarem com as cores favoritas delas, e isso é
terrível, é desolador e é profundamente triste, então elas choram.
Então você chora, triste porque
não vai poder ser quem queria ser, não vai poder lutar contra aquilo com que
não concordava, não vai poder continuar fazendo o que gostava e evitando o que
não. Você imagina que pela primeira vez vai chorar porque morreu, e percebe que
é a única pessoa realmente triste por isso.
Então você volta. Volta e finge uma história maluca. Você teve saiu de si mesmo como Walter White, você foi sequestrado como Amy Dunne. Ninguém quer ser sequestrado de verdade, mas você imagina
que o suposto trauma será desculpa o suficiente pra que possa agir nos seus próprios
termos, e nunca mais ninguém vai impor suas expectativas sobre você. Você
imagina que vai ser livre e recomeçar do zero, ser uma pessoa totalmente nova, e
que com o tempo seus amigos e familiares vão detestar esse novo você, e desejar
intimamente que tivesse permanecido morto. Você reflete o ego deles e isso
machuca os olhos. Agora você começa a pensar em morrer de verdade de novo, não
importa que ninguém chore dessa vez, você imagina que não vai querer saber
disso mais, porque descobriu uma fonte de alimento muito mais nutritiva para o
seu ego. Ele mesmo. Viver feliz consigo mesmo é a última opção de qualquer um.
Porque ninguém quer ser feliz de verdade."
- Burt Bugs é um personagem fictício que tem empregos fictícios tais quais operador de câmera, quadrinista, bailarino sonâmbulo e psicopata em potencial. Ele foi criado durante uma overdose de xarope pra tosse e Coca-Cola durante o inverno de 2005. Enjoy.
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
43º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO: TERCEIRO DIA
A terceira noite do festival teve duas atrações distintas. A primeira foi a usual exibição de um curta e um longa metragem, e a segunda foi a premiação da Mostra de Curtas Gaúchos.
domingo, 9 de agosto de 2015
43º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO: SEGUNDO DIA
A segunda noite da quadragésima
terceira edição do Festival de Cinema de Gramado contou com uma sala muito mais
cheia no Palácio dos Festivais, afinal o evento recebeu o diretor Daniel Filho
e Bete Mendes, tendo sido Filho homenageado no intervalo entre as sessões.
Porém, no que se trata dos filmes apresentados, houve uma maior irregularidade
em relação ao dia anterior. Foram exibidos o péssimo curta-metragem Herói, o magnético longa uruguaio Zanahoria, o ótimo curta documental Muro, e o arrastado longa brasileiro Introdução à Música do Sangue.
sábado, 8 de agosto de 2015
43º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO: PRIMEIRO DIA
A primeira noite da quadragésima
terceira edição do Festival de Cinema de Gramado teve como grande atração a
estreia em solo nacional do longa-metragem Que
Horas Ela Volta? - anunciado recentemente como fora de competição -
estrelado por Regina Casé. Precedido do curta-metragem da Mostra Competitiva de
Curtas Brasileiros, Bá. E o que se
mostrava uma abertura leve até então, ganhou contornos mais sombrios depois do
intervalo com o curta-metragem Como São
Cruéis os Pássaros da Alvorada - também fora de competição - e o longa mexicano
En La Estancia – da Mostra
Competitiva de Longas-Metragens Latinos.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
QUARTETO FANTÁSTICO
Tô aqui tentando lembrar de algo sobre o novo Quarteto Fantástico, e apenas consigo recordar que não é um filme tão ruim quanto qualquer uma das versões anteriores que o grupo heroico ganhou no cinema. A verdade é que esse remake é uma nulidade só, bem conduzida, é verdade, mas um vácuo enorme de qualquer forma.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
MAGIC MIKE XXL
Depois do sucesso dirigido por Steven Soderbergh em 2012, não demoraria até que a Time Warner, em busca de mais arrecadação, se lançasse em um projeto de continuação para Magic Mike. A boa notícia é que o filme é divertido e nos leva a conhecer melhor o rosto dos strippers (além de seus tórax), e a surpresa é que a revisita, apesar de não se engajar em nenhum conflito, funciona muito bem.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
PIXELS
Dirigido por Chris Columbus, de Esqueceram de Mim 1 e 2, de Harry Potter 1 e 2, de Os Goonies e O Homem Bicentenário, chega agora este Pixels, que depois de Percy Jackson e o Ladrão de Raios, vem comprovar que Columbus definitivamente só funciona quando guiado por um bom roteiro. O que não é exatamente o caso aqui. Entregue a piadas bobas e muitas vezes constrangedoras, Pixels se salva em parte por causa das saudosistas sequências de ação envolvendo os clássicos jogos de arcade.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
HOMEM-FORMIGA
Homem-Formiga era pra ter sido dirigido por Edgar Wright, o excelente
cineasta britânico responsável pelos primorosos e ágeis Todo Mundo Quase Morto, Chumbo
Grosso, Heróis da Ressaca e Scott Pilgrim – todos nota dez, senão
mais. Porém, por mais que eu admire o roteirista e diretor inglês – e eu admiro,
isso ficou claro, certo? Sou um pouco fã, não sei se deu pra notar – é justo
dizer que seu estilo de narrativa e montagem, muito característicos (mesmo!),
destoariam do resto das produções da Marvel Studios, ainda que essas também sejam
calcadas principalmente no humor. Com a saída de Wright, entrou em seu lugar o
incomparavelmente menos talentoso Peyton Reed, que no entanto, é hábil ao
manter recursos de roteiro em que o seu antecessor teria imprimido seu estilo
próprio enquanto tenta acompanhar o ritmo de uma história concebida para ser
dirigida com muito mais velocidade – e estamos falando de um filme que já passa
voando!
sexta-feira, 10 de julho de 2015
CIDADES DE PAPEL
Novo longa gerado a partir de um
livro de John Green, Cidades de Papel é
ligeiramente melhor do que A Culpa é das
Estrelas – que já era bem agradável. Menos meloso do que o romance
adolescente fatalista de antes, essa nova empreitada no “Greenverse” (obrigado,
de nada) é mais intelectual, reflexo óbvio da personalidade do seu “casal”
protagonista, e nesse caso se aproxima mais de um As Vantagens de ser Invisível – e digo “se aproxima” porque lhe falta
comer ainda muito feijão pra alcançar o equilíbrio de complexidade e delicadeza
daquela pequena obra-prima – do que do próprio A Culpa é das Estrelas. Talvez John Hughes até ficasse contente de
ver essas obras representando as (auto)descobertas da juventude no cinema
atual, se é essa a forma que o jovem encontrou de expressar a sua rebeldia em
relação a percepção da própria mortalidade nos dias de hoje. Ainda sinto
saudades de Ferris Bueller, mas Quentin (Nat Wolff) não é um personagem ruim
também.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
MINIONS
Se Meu Malvado Favorito funcionava regularmente era porque tinha a seu
dispor pequenas figurinhas amarelas cuja graça estava baseada em gags puramente
audiovisuais - trapalhadas, expressões e linguagem
única. Ao concentrar mais sua trama nos ajudantes de Gru (Steve Carell), Meu Malvado Favorito 2 decaía ainda mais justamente por desentender que os pequenos seres eram alívio cômico e, portanto, eficientes em
segundo plano, mas não como estrelas principais. O que nos leva ao seu filme solo, Minions, em que eventualmente algumas
piadas funcionam, só que nenhuma delas tem a ver diretamente com os minions. Ao contrário do recente e divertido
Os Pinguins de Madagascar que partia
de uma premissa e situação parecidas, os carismáticos coadjuvantes provam que,
como protagonistas, são apenas amarelos.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
JURASSIC WORLD
Jurassic Park é uma obra-prima inquestionável. Muito se valendo do
frescor de ideia, Spielberg construiu um filme com cuidado minucioso, cheio de
sequências icônicas e angustiantes - tamanha a tensão - possibilitadas graças a
efeitos visuais pioneiros que parecem não ter envelhecido um dia sequer – e
mesmo hoje, 22 anos depois, ainda há produções que não se equiparam nos
quesitos técnicos. Porém, era uma trama que, devido aos próprios elementos, funcionava
como um único filme, e assim suas continuações já nasceram todas fadadas a
fracassarem em repetir o grandioso feito. Se O Mundo Perdido (ainda sob a batuta de Spielberg!) reciclava
fórmulas que tinham funcionado no primeiro longa-metragem para criar uma
aventura apenas divertidinha, Jurassic
Park 3 veio para enterrar a franquia de vez. Ou era o que achávamos, até
que se escavassem os fósseis daquela ideia original para conceber este Jurassic World, que não, obviamente não
chega nem perto de ser o clássico que é o filme de 1993, mas que tem plena
noção disso e, apesar dos problemas, se prova um filme tenso, divertido e
nostalgicamente reverente.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
TOMORROWLAND
Em tempos de The Walking Dead, Jogos
Vorazes e Mad Max, onde séries e
filmes exploram o futuro e o presente com assumido pessimismo em relação à
espécie humana – reflexo natural da disseminação de uma visão mais lógica e
mais cética na cultura popular – Tomorrowland
é um sopro bem-vindo de caloroso otimismo. Dirigido por Brad Bird, diretor responsável pelos excelentes O
Gigante de Ferro, Os Incríveis, Ratatouille e Missão Impossível: Protocolo Fantasma, o longa-metragem é uma
aventura que segue o manual sem que isso o faça soar previsível ou
repetitivo. Pelo contrário, através de personagens carismáticos e uma trama que
se desenrola e se explica aos poucos, consegue manter um magnetismo entre o
espectador e a aconchegante aventura que apresenta. Mais do que isso: em tempos
em que estamos ficando tão bons em perceber a nossa capacidade destrutiva enquanto
espécie, o filme torna-se relevante no ponto que nos instiga a fazer algo a
respeito – principalmente o público mais jovem – e não se acomodar e aceitar as
distopias se formando a nossa volta. E se a mensagem poderia soar ingênua quando
há religiosos brigando por propagandas de perfume na televisão e homens bomba
matando inocentes no Oriente Médio, nas mãos de Bird ela é entregue com uma
simplicidade honesta, e por isso, poderosa, mas jamais pueril.
Quando Casey (Britt Robertson)
encontra um pingente que quando tocado por ela lhe revela um fantástico mundo
utópico, a garota passa a ser perseguida por robôs que querem encontrar a
menina que lhe deu o objeto, Athena (Raffey Cassidy). Juntas, as duas partem para
encontrar Frank (George Clooney), que já esteve de verdade nesse mundo paralelo
e pode levá-las lá também, mesmo contra os esforços de Nix (Hugh Laurie), homem
no comando que teme o que as pessoas “comuns” poderiam fazer a Tomorrowland.
Baseado em uma das mais antigas e
famosas atrações da Disney, que através de animatrônicos mostrava um futuro social
e tecnologicamente ideal, o filme não esconde tratar-se de uma crítica a visão
pessimista do mundo e do nosso futuro, tão difundida atualmente; e se uma
sequência mostra professores em aulas diferentes apresentando cada um em sua
matéria a realidade terrível em que vivemos hoje em dia, Casey não se poupa de levantar
a mão e perguntar: “mas o que podemos fazer para concertar?”. Um reflexo,
claro, da visão do próprio Walt Disney que é exaltada aqui através de um deslumbrante
plano sequência que nos apresenta, junto a protagonista, a tal Tomorrowland.
Que, aliás, é concebida através de ótimos efeitos visuais que tornam
real um design de produção inteligente que aposta não só na esterilidade de um
futuro impecável, como também no show de luzes e cores que insinuam o
espetáculo que não seria viver naquele lugar. O mesmo design que mais tarde
traz a mesma Tomorrowland com pequenas mudanças que a tornam mais sombria e
menos calorosa.
A leveza estabelecida é tamanha
que é possível se horrorizar quando um personagem tem por acidente a perna
esmagada por um escombro. De fato, o longa-metragem de Bird é tão otimista em
sua abordagem que nem mesmo chega a ter propriamente um vilão – e isso não é
ruim – pois contagia tanto com a sua mensagem que quando Nix finalmente entra
em cena, torcemos para que suas motivações sejam racionais e não artificialmente maléficas, e
embora repreensível em sua atitude temerária, é impossível dizer que o
antagonista está errado naquilo que embasa a suas decisões covardes: “vocês tem
ao mesmo tempo uma epidemia de fome e de obesidade”. E seu discurso de “vilão”,
que normalmente serviria para explicar um plano maligno, é substituído por um
desabafo honesto e compreensível em relação ao comodismo do ser humano, o que
faz de Hugh Laurie a escolha perfeita para vivê-lo com sua persona melancólica
e desistente que estabeleceu com oito temporadas de House.
Um contraponto interessante que
encontra na figura da Casey de Britt Robertson, que dá os ares de Jennifer
Lawrence e mostra igual talento e energia, construindo uma química admirável
com aquela que é o ponto alto do elenco, a jovem Raffey Cassidy, que incorpora
os modos calculados de Athena sem que isso jamais a faça parecer irritante ou
antipática. O que só melhora quando a dupla passa a ser um trio encabeçado por
George Clooney e seu tipo rabugento, que vez ou outra ainda demonstra um velho
olhar encantado proveniente do garoto curioso e proativo que era, como na
fantástica cena que se passa na Torre Eiffel – divertidíssima pelo absurdo que
apresenta.
Voltando a explorar temas
recorrentes em sua filmografia – que certamente o fizeram ser o cineasta ideal
para conduzir o projeto – tais como a relação entre homem e máquina e a capacidade
de realização dos sonhadores, além de comprovar mais uma vez seu talento para cenas de ação empolgantes – ainda mais se com uma trilha de Michael Giacchino
embalando-as -, Brad Bird entrega aqui um filme que se destaca por ousar
incentivar, veja só, a construção de um futuro melhor do que aquele que podemos
prever hoje. Que torna-se ainda mais importante por ser voltado a um público
mais jovem e com a mente ainda em desenvolvimento, embora não exclusivamente a
eles, funcionando perfeitamente também com os mesmos adultos rabugentos que
olharão torto para essa aventura leve e colorida, mas inegavelmente eficaz em
transmitir aquela centelha de humanidade que as atrocidades com as quais somos
bombardeados todos os dias talvez tenham nos feito esquecer. Afinal, de que
adianta tanta evolução e conhecimento se nos acomodarmos e aceitarmos os mesmos resultados que teríamos se ainda estivéssemos na Idade Média?
NOTA: 9/10
sexta-feira, 29 de maio de 2015
TERREMOTO - FALHA EM SAN ANDREAS
Eu poderia dizer que Terremoto – Falha em San Andreas é um
filme problemático, mas acontece que o seu problema é um só: o roteiro incrivelmente
obtuso e clichê. Mas clichê mesmo! Em certo momento me peguei citando as falas
dos personagens antes mesmo que eles abrissem a boca para dizê-las, e sabia exatamente
como se desenrolaria cenas como a que se passa em uma represa, como se tivesse
assistido ao longa centenas de vezes antes. Na verdade, é tudo tão obviamente
orquestrado e artificial no texto que, se o filme não se levasse tão a sério –
o que infelizmente ele faz -, seria uma comédia de ação autocrítica muito mais
divertida do que é enquanto exemplar de ação dramáti... Ah, me poupe.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA
Bons filmes de ação são como bons musicais, só que ao invés dos números de canto e dança, entram as cenas de ação. Prova disso, é o limite bem tênue entre a pancadaria e o ballet nas sequências insanamente coreografadas por George Miller neste filme aqui. E olha que estamos falando de um longa-metragem que ainda apresenta um universo onde é normal o vilão ter sua própria banda móvel de heavy metal, isso para que as perseguições tenham uma trilha sonora do mal. Mas se você espera
encontrar aqui mais um produto nos moldes Michael Bay, com explosões gratuitas,
mulheres servindo como objeto de distração para a plateia masculina e heróis
machos alfas, então cuidado. É uma armadilha! O novo Mad Max de Goerge Miller (mesmo diretor dos três anteriores, que não precisam ser assistidos para entender esse), muito além
de um filme de ação pra entrar na História, é uma produção com uma mensagem que vai contra tudo isso que o cinema de ação martelou por anos.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
VINGADORES: ERA DE ULTRON
Em comparação com o
divertidíssimo primeiro filme, é notável que Vingadores: Era de Ultron tenta ser muito mais sombrio. Porém,
recusando-se a abandonar o bom humor de antes, encontra problemas em conciliar
os dois tons, e não raramente um momento mais sério é imediatamente contraposto
com alguma gag, e vice-versa, o que acaba tirando a força desses momentos. Joss
Whedon, que volta ao posto de diretor, explora tudo o que funcionou antes e
inegavelmente cria uma longa-metragem que é, sim, divertido como era o
primeiro, mas que perde um pouco na novidade, e os pontos a mais ficam por
conta do tempo que investe em personagens antes secundários demais para
merecerem maior desenvolvimento.
O primeiro ponto é o vilão do
título, Ultron (voz e captação de movimentos de James Spader), que diferentemente do
Loki de Tom Hiddleston não possui nenhum carisma pré-estabelecido com o
público. O robô criado por Tony Stark (Robert Downey Jr.) é dono de uma
inteligência artificial e é apresentado com pressa, não demorando mais do que
meia cena para chegar à conclusão óbvia de que ele é o antagonista do filme e
tem que destruir os Vingadores porque [insira aqui qualquer motivo]. A verdade
é que Ultron não possui melhores motivos do que Loki possuía (a Terra tem que
ser destruída porque mesmo?) e na verdade repete sua fórmula até no bom humor –
principalmente levando em conta que é um robô – e no narcisismo.
Uma vez que temos Ultron
estabelecido, o filme para com os fan
services – cena de luta inicial com todos os Vingadores, torrentes de
piadinhas entre o Homem de Ferro e o Capitão América, pontas de vários
personagens dos filmes solos dos heróis e a aparição já sempre esperada de Stan
Lee – e começa a andar de verdade. Com o vilão contando com a ajuda de duas
figuras dotadas de dons especiais, os gêmeos Pietro e Wanda Maximoff (Aaron
Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen), o plano é criar um desastre para destruir a
Terra enquanto acaba com a credibilidade e a união do grupo de heróis protagonistas.
Tudo se torna uma grande salada de frutas que parece mais preocupada em deixar o terreno preparado para filmes como o próximo Capitão América, que deve trazer a adaptação de Guerra Civil, uma famosa saga dos quadrinhos que envolve todos os Vingadores e um embate entre o Capitão América e o Homem de Ferro. O roteiro é mais truncado e menos fluído do que antes, não por acaso a duração de Era de Ultron é menor do que a de Vingadores e esse aqui soa muito mais longo. Ver o super-time se reunindo pela primeira vez tinha o seu frescor, agora a força está na individualidade, algo que não escapa ao todo de Whedon, que desenvolve um pouco mais personagens como Clint Barton (Jeremy Renner) e Natasha (Scarlett Johansson). O que faz mesmo falta é a trilha de Alan Silvestri, que é aqui é substituído por um apático e pouco presente Danny Elfman, que simplesmente não tem a mão para a dar a grandiosidade que o filme pedia. É um feito então que ainda assim, graças em parte à química e ao carisma de seu elenco, que o filme funcione de fato, apesar de um clímax esticado e repetitivo demais.
Tudo se torna uma grande salada de frutas que parece mais preocupada em deixar o terreno preparado para filmes como o próximo Capitão América, que deve trazer a adaptação de Guerra Civil, uma famosa saga dos quadrinhos que envolve todos os Vingadores e um embate entre o Capitão América e o Homem de Ferro. O roteiro é mais truncado e menos fluído do que antes, não por acaso a duração de Era de Ultron é menor do que a de Vingadores e esse aqui soa muito mais longo. Ver o super-time se reunindo pela primeira vez tinha o seu frescor, agora a força está na individualidade, algo que não escapa ao todo de Whedon, que desenvolve um pouco mais personagens como Clint Barton (Jeremy Renner) e Natasha (Scarlett Johansson). O que faz mesmo falta é a trilha de Alan Silvestri, que é aqui é substituído por um apático e pouco presente Danny Elfman, que simplesmente não tem a mão para a dar a grandiosidade que o filme pedia. É um feito então que ainda assim, graças em parte à química e ao carisma de seu elenco, que o filme funcione de fato, apesar de um clímax esticado e repetitivo demais.
NOTA: 7/10
sexta-feira, 27 de março de 2015
ANSIEDADE - A OFICINA DO DIABO
Deixa eu contar uma coisa sobre
ser ansioso: as pessoas não entendem. Grampear as próprias bolas sempre parece
uma ideia menos dolorosa do que ouvir um “eu vejo depois” ou um “tenho que
pensar”.
Ser ansioso te faz exigente.
Ser ansioso te faz chato.
Ser ansioso te faz impaciente.
Ser ansioso também pode te fazer
eficiente, mas não há garantias.
Mas antes de tudo, ser ansioso te
faz hipócrita.
Quer dizer, não sei bem ao certo
sobre essa última parte, muita coisa na cabeça agora, eu vejo depois, tenho que
pensar.
Deus não existe se você é
ansioso. Ao menos agora não faz diferença se existe ou não. Digo, o cara
trabalha a ritmo de milênios, e eu contando os minutos aqui. Quando se é
ansioso nada que não faça diferença agora – neste momento – importa. Foda-se
Deus. É, ser ansioso te faz um pouco egocêntrico também.
Você começa a pensar que as
pessoas não deveriam poder ter sentimentos, só pelo fato de não serem
pragmáticas o suficiente para usá-los. Cada vez que ouço um “não sei” me faz
preferir ser a alma condenada de algum motorista alcoólatra de ônibus escolar
responsável pela morte de quarenta criancinhas, egolindo abacaxis inteiros e
com casca e retirando-os intactos pelo rabo como castigo eterno. O inferno é as
pessoas não poderem simplesmente serem objetivas. Por que não podem me ouvir e
obedecer?
Eu sei, eu sei. Ser ansioso
também te faz um babaca controlador. Eu não tô negando isso.
Romie sempre diz que eu deveria
viver em um planeta povoado por um monte de eus. Segundo ele, eu seria mais
feliz com uma população que também pudesse sentir a 120km/h. A ideia sempre me
faz rir – três segundos por dentro, outros trinta por fora, só pelas aparências
– mas Romie está errado. O que ele não sabe é que ser ansioso te faz bastante
egoísta, e encontrar apenas um outro eu por aí já seria arrepiante o suficiente
sem eu ter de pensar na ideia de encontrar milhares. Seria uma carnificina.
Ou eu também posso estar sendo
precipitado – não disse ainda, mas ser ansioso te faz um paranoico talentoso –
e no fim, ao invés de uma matança, haveria era uma orgia de escala global.
Talvez sim, depois disso começaríamos a nos matar uns aos outros. Porque isso é
outra coisa que não dizem sobre ser ansioso: nós gostamos de sexo. Somos primatas
obcecados com a perpetuação da espécie, sempre em busca da próxima foda.
Sinceramente, tenho a impressão
de que o primeiro telégrafo criou o primeiro ansioso. Pense bem, como vivia
um ansioso na época do império? Se eu mando uma mensagem no whatsapp hoje, quero
vê-la respondida tão logo a pessoa a leia, e minha paciência não tolera que
isso demore mais do que algumas horas, porque, se alguém tem um whatsapp deve
checar a droga do celular pelo menos uma vez por hora. É a obrigação moral dela
com a modernidade. Agora imagine, e imagine você, porque toda a vez que eu
tento imaginar é um pesadelo desesperador: um ansioso manda uma carta para a
sua pretendida do outro lado do oceano perguntando se ela deixaria a residência
dos pais e viria passar um tempo em terras americanas para ver o que acha da
vida na colônia. O que seria o equivalente hoje a um “que tal sairmos na sexta?”.
O que um ansioso faria da vida sabendo que a carta que ele acabou entregar ao
mensageiro, levará semanas para alcançar o seu destinatário? Pior, sabendo que
não há garantia alguma de que chegará de fato; o navio pode afundar, o
mensageiro pode morrer, a carta pode se perder. Isso sem contar a resposta, e
se a resposta não for a esperada? E se ele precisar argumentar? E mesmo que
não precise, semanas é tempo o suficiente para que a moça conheça algum outro
pretendente, e isso mesmo que vivesse no estado vizinho. Caralho, naquela época
semanas era tempo o suficiente para que ao tempo em que a carta chegasse a moça
já estivesse casada!
Quase não consigo dormir à noite
pensando em como poderia ser pior. Quando Romie não responde alguma mensagem
minha começo a pensar que estranho acidente envolvendo um carro, uma banca de
frutas ou fios desencapados poderia tê-lo matado. Ligo pra mamãe que trabalha
em frente à ele, pergunto se o viu, ela diz “sim”, eu adiciono: “vivo?”. Ela
ri, eu me irrito, desligo. Saio, ligo pra ele, não atende, deve estar agonizando
sem ninguém pra ajudá-lo. Mas por que? Romie é um vendedor, por que uma
gangue de skatistas iria querê-lo morto? Ah sim, nesse meio tempo de alguma
forma já deduzi que foram skatistas que o atacaram, com facas dessas grandes de
caça que se compra em lojas de caça... Talvez o pai de um deles seja dono de
uma loja de artigos de caça, o que explicaria o motivo de o terem esfaqueado,
essa gente metida a red neck
brasileiro deve ter uma bandeira do partido conservador pendurada atrás do
balcão, não surpreenderia que a gangue do filho de um deles atacassem Romie. Eu
tinha que chegar logo, antes que cortassem as bolas dele e enfiassem na boca do seu cadáver, não porque isso seria terrível – e seria - mas porque se Romie estivesse vivo para
julgar a própria morte ele ficaria puto por ter morrido assim. Tenho certeza de
que ele gostaria de morrer do coração nos meus braços ou algo do gênero, e isso
logo depois de oferecer uma performance estonteante de alguma música do RuPaul
para uma plateia em alvoroço de excitação, algo no estilo Satine de morrer.
No final, Romie está conversando
com o seu chefe e não pode sacar o celular. Nada de gangues de skatistas filhos
de red necks donos de lojas de caça.
Não. Pelo menos ser ansioso faz a sua vida parecer que vai se converter em um
thriller de ação a qualquer momento.
Eu converso com Romie e tudo fica
bem. A música do ABBA já dizia não é? “There’s no hurry anymore when all
is Said and done”. Bom, foda-se o ABBA também – por algum motivo
estranho, ser ansioso te faz um crítico ferrenho de música brega – sempre há o
que ser dito e feito. Eu acabo de conversar com o Romie e já há mais uns vinte
itens que eu preciso ter certeza de que ficou claro pra ele. O mundo
moderno foi projetado para acomodar os ansiosos, mas ainda é habitado
massivamente por pessoas comuns que não se dinamizaram o suficiente, que nem
mesmo planejam em detalhes o dia seguinte - quero dizer, como elas conseguem
dormir sem decidir a cueca que vão usar quando acordarem? Se Jesus tivesse
vindo nos dias de hoje e feito o sermão da montanha por streaming no YouTube,
ele diria algo como: “bem aventurado os ansiosos, pois herdarão a Terra”. Não
que seja alguma surpresa pra você, mas estou ansioso por esse dia. Abaixo os
"vamos ver", nunca mais às "pensadinhas" e morte aos
"eu acho"!
É,
ser ansioso te faz dogmático e um pouco fascista também.
Eu vivo neste mundo há algum tempo agora,
e ser ansioso te faz desesperado ao pensar que ainda há, pelas expectativas,
mais do que o dobro desse tempo ainda por vir. As pessoas dizem que a vida é
curta, os religiosos dizem isso, até os cientistas concordam com eles nisso.
Cacete, se religiosos e cientistas podem concordar em alguma coisa sobre a
vida, como que nós ansiosos podemos encontrar um lugar entre vocês? Porque,
deixa eu te contar, a vida é longa. É malditamente arrastada. Romie vai me
dizer até terça se iremos viajar na sexta, e ele vai viver feliz até lá. Eu
invejo o filho da mãe com uma força que vem do núcleo dos meus ossos. Porque
nesse meio tempo eu vou viver como se estivesse na página principal do meu
Facebook e não conseguisse desfazer o símbolo vermelho de notificação no canto
da página. Tudo azul, exceto pela maldita resposta de Romie. E até que ela
venha, pra mim, vai se passar toda uma vida.
A ansiedade é uma grandeza física, ela faz o
tempo relativo para quem está mais próximo dela. E os azarados que inventam de
nascer com a maldita dentro do peito, batendo junto com o seu coração, vivem
essa vida amaldiçoada. Desejando sempre apenas poder transmitir todo o
desespero e agonia que sentem para a próxima pessoa, apenas com um toque, só para poder ser compreendido.
Ser ansioso te faz agir como um vírus.
Você quer disseminar-se para sobreviver. A sociedade é o seu hospedeiro, e você
precisa garantir que ela fique viva para sustentá-lo, mas ela vai tentar
expulsá-lo, colocá-lo no seu lugar, mantê-lo sob controle ao menos. Quando
religiosos e cientistas concordam, é quando glóbulos vermelhos e brancos se unem.
Que seja. Eu sou um vírus. Ser ansioso te faz o vilão, e um tanto pessimista.
Você nunca é feliz por mais do que alguns
instantes, porque sempre fica afoito pelo próximo momento em que você vai se
sentir feliz, e agoniado de pensar que ele talvez não chegue. A sinaleira é
muito demorada, a música que você adora poderia ter versos a menos, o livro ser
mais curto, o filme menos subjetivo, os petiscos podiam ser pulados nos churrascos
de domingo, a vida podia ter menos graça. Quando se é ansioso você vive para o
próximo momento em que vai ver você mesmo falhar em aproveitar os pequenos
momentos.
Você traça objetivos que parecem
impossíveis. Você os alcança. Então quer alcançar o próximo horizonte, sempre
correndo atrás do sol, tentando alcançá-lo antes que ele se ponha.
Quando se é ansioso, você sempre quer
mais, e desconhece o significado de “demais”.
Deixa eu te contar uma última coisa sobre ser ansioso: nós não entendemos as pessoas.
..........................................................................................................
Assinar:
Postagens (Atom)